Ontem (6/01) à tarde, cerca de 600 pessoas, entre indígenas dos povos Guarani Mbyá e Kaingang e não-indígenas, participaram de atos em protesto pela morte do menino Kaingang Vítor Pinto, de dois anos, assassinado há uma semana na rodoviária de Imbituba (SC) enquanto era alimentado no colo de sua mãe.
Em Imbituba, o ato ocorreu em frente à própria rodoviária e teve a participação de aproximadamente 100 pessoas, que utilizaram lenços vermelhos no pescoço em referência ao local onde a criança foi esfaqueada. Em seguida, os manifestantes dirigiram-se à delegacia da Polícia Civil, que fica logo atrás do local onde o crime ocorreu, para cobrar esclarecimentos sobre a investigação da morte da criança.
Depois de aguardarem por algum tempo, o delegado compareceu à frente da delegacia e afirmou aos manifestantes que o suspeito detido no dia 31 de dezembro não confessou o crime. Como a mãe da criança também não reconheceu o suspeito, a investigação segue e ele pode permanecer preso temporariamente até o dia 31 de janeiro.
No local onde o crime aconteceu, os indígenas fizeram uma inscrição no chão, com os dizeres: “Vítor Kaingang, você vive em nós”.
Em Chapecó, cidade na qual fica a Aldeia Kondá, onde vive a família de Vítor, outro ato reuniu cerca de 500 pessoas, em sua grande parte indígenas das comunidades locais. Os indígenas realizaram danças e, após algumas falas, fizeram uma caminhada pelo centro da cidade.
Os pais de Vítor, como muitos outros indígenas costumam fazer nesta época do ano, haviam saído da Terra Indígena Aldeia Kondá para comercializar artesanato no litoral catarinense, onde pretendiam permanecer até o fim do carnaval junto com ele e seus outros dois filhos, um de seis e outro de doze anos.
Ao meio-dia, na quarta-feira dia 30/12, na antevéspera do Ano Novo, Vítor foi esfaqueado no pescoço por um desconhecido que se aproximou enquanto ele se alimentava no colo de sua mãe.
Vítor faleceu em um local que a família Kaingang imaginava ser seguro. As rodoviárias são espaços frequentemente escolhidos pelos Kaingang para descansar, quando estes se deslocam das aldeias para buscar locais de comercialização de seus produtos.
“Esperamos que haja justiça, que exista respeito e menos discriminação contra o nosso povo”, afirmou Idalino Kaingang, liderança da aldeia Toldo Chimbangue, que fica também em Chapecó. Idalino afirma que existe muito preconceito com os Kaingang que vendem seus artesanatos nas cidades e que, inclusive, já foram expulsos diversas vezes da rodoviária de Chapecó. “Mas eu acho que o direito de ir e vir ninguém pode tirar. O artesanato é algo que é cultural, é histórico do nosso povo. Construíram a cidade em cima da nossa terra e agora querem nos dizer onde podemos ou não podemos ficar”, afirma.
Foto: Reprodução/CIMI
Fonte: CIMI