Por Opera Mundi.
Setores de extrema direita começaram a difundir, nesta quinta-feira (11/01), um recorte editado do programa OUTUBRO, da TV Opera Mundi, no qual Elenira Vilela, uma das comentaristas daquele episódio, transmitido ao vivo em 22 de dezembro de 2023, faz críticas à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Naquele programa, apresentado pela editora de Opera Mundi, Fernanda Forgerini, também participaram como comentaristas o ex-presidente do PT José Genoíno e a jornalista Vanessa Martina Silva, editora do site Diálogos do Sul e especialista em política da América Latina. O tema do debate era se a direita chegaria mais fraca ou mais forte para o ano eleitoral de 2024
Em um momento do debate, Elenira, que é coordenadora do Sindicato Nacional dos servidores da Rede Federal de Educação Básica, Técnica e Tecnológica (Sinafese), entidade que reúne docentes e técnicos que atuam nessas instituições de ensino, comentou o papel protagônico de Michelle Bolsonaro no projeto da extrema direita de tentar recuperar, através de um possível bom resultado nas eleições municipais de 2024, a força política perdida com a derrota de Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva nas presidenciais de 2022 e com o fracasso da tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.
“Ela [Michelle Bolsonaro] é uma carta chave. E se a gente não arrumar um jeito de destruir ela politicamente e, quiçá, de outras formas, jurídica, por exemplo, comprovando os crimes e tornando ela também inelegível, nós vamos arrumar um problema pra cabeça”, disse a coordenadora do Sinafese. A declaração completa está entre os minutos 27 e 31 do vídeo acima.
Porém, o recorte difundido nas redes sociais nas últimas horas mostra apenas o momento em que Elenira fala em “destruir Michelle Bolsonaro”, sem apresentar o contexto no qual a palavra foi usada e criando um tom de ameaça à vida da ex-primeira-dama, já que ignora que o termo usado na íntegra foi “destruir politicamente”, além de também omitir as menções da sindicalista sobre os diferentes problemas que Michelle enfrenta na Justiça, que envolvem possíveis crimes de corrupção.
A Opera Mundi, Elenira comentou o caso, reforçando sua crítica a Michelle Bolsonaro no programa em questão e expressando seu repúdio não só à manipulação daquela declaração feita por setores da direita como também o papel de alguns meios de comunicação que teriam repercutido o caso comprando a narrativa dos grupos bolsonaristas de vitimazação da ex-primeira-dama a partir desse episódio.
Confira na íntegra:
Opera Mundi: O que houve com sua fala no programa Outubro e como você ficou sabendo do que ocorreu?
Elenira Vilela: Houve uma óbvia manipulação na forma do recorte com uma afirmação absolutamente mentirosa sobre o que eu disse, porque na legenda se afirma que eu ameacei a vida daquela senhora e isso jamais aconteceu. Fiquei sabendo quando amigos me enviaram o link da publicação com o vídeo recortado e manipulado.
Você acha que foi clara na sua exposição?
Penso que sim. Fui clara em explicitar o papel perigoso ao Brasil de uma pessoa com alto poder de comunicação para representar projetos autoritários e que aumentam a desigualdade.
Sua fala está sendo manipulada?
Com toda certeza, especialmente no recorte publicado inicialmente e amplamente compartilhado sem verificação, inclusive por autoridades. Mas também está manipulado nas manchetes de alguns veículos, que eles próprios reatam nas matérias o que exatamente foi dito.
O que Michelle Bolsonaro representa e por que ela deve ser combatida?
Ela representa o projeto autoritário e o fascismo, faz política por meio do proselitismo religioso e sendo mulher, valida o projeto misógino do fascismo, confirmando a afirmação de Simone de Beauvoir, de que o “opressor nunca seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os oprimidos”. Há algumas mulheres na extrema direita que reforçam a opressão machista, misógina e patriarcal, por coerção ou por oportunismo. Ela não é o único exemplo. Além de ser alguém que está sendo investigada e respondendo a vários processos, como no caso em que ela nunca explicou por que o Fabrício Queiroz depositou 89 mil reais em sua conta, e em tantos outros.
Como combater o extremismo de direita, especialmente em situações como esta?
Com informação, formação política e debate ideológico. Reforçar as mídias independentes e comprometidas com a verdade e os interesses da maioria, não comentar ou compartilhar as mentiras, apenas denunciar na própria rede social ou ao Judiciário, fortalecer as pessoas e perfis que fazem essa luta pela regulação das big techs, que ainda lucram muito com ódio e mentiras, a começar pela aprovação do PL das Fake News.