Eleições legislativas na Venezuela. Por Elaine Tavares

Foto: PL

Por Elaine Tavares.

A Venezuela deverá passar por eleições no próximo dia seis de dezembro quando a população deverá escolher a nova Assembleia Nacional, elegendo os 277 deputados que a compõe. A novidade é que a oposição, que vinha boicotando as eleições, sem delas participar, decidiu que vai disputar as cadeiras. Capriles e Guaidó, as duas mais conhecidas e atuantes lideranças da oposição andaram se bicando nos jornais, com Capriles dizendo que já basta de vivenciar as “loucuras” de Guaidó, as quais resultaram em nada para a Venezuela. Essa decisão provavelmente faz parte das conversas que o ex-governador de Miranda vem tendo com Maduro e que já resultou em um indulto para 110 presos ligados à oposição.

Maduro vem preparando a população para o que ele chama de “reconciliação nacional” e as eleições com a participação da oposição já são um primeiro passo para garantir que tudo possa correr dentro da normalidade, com a divisão e o equilíbrio de poder. Entre os chavistas de raiz a crítica a Maduro tem sido forte, com a denúncia de que a proposta do presidente tem sido a de um capitalismo “brando”, cada dia mais desvinculado da proposta do socialismo. Justamente por isso o Partido Comunista da Venezuela e Pátria Para Todos decidiram criar uma plataforma de esquerda, desvinculada do atual presidente, chamada de Alternativa Popular Revolucionária. Dentro do PSUV também há divergências e a tendência é cada dia mais os chavistas irem se afastando por não aceitarem as manobras de Maduro que, segundo eles, fogem da proposta original de Hugo Chávez. 

Segundo o analista político Heinz Dieterich o que se vislumbra com essa aproximação do governo com a oposição é a possibilidade de uma transição negociada de governo em 2021, com a saída de Maduro, mas sem a entrega do poder. Resta saber se o grupo que hoje compõe o núcleo madurista vai aceitar que as coisas passem assim. O PSVU acredita que poderá fazer a maioria da Assembleia Nacional, mas com a divisão nas fileiras do governo, agora com os chavistas cada vez mais fora do poder, pode acontecer de Maduro ficar sem maioria. Essa é a esperança de Capriles, que pretende voltar a controlar a política garantindo muitas cadeiras na Assembleia para permanecer como uma espécie de fiel da balança. Se tudo passar como pensa, o poder passará a ser negociado com Maduro.

As eleições de dezembro vão funcionar como um termômetro na política da Venezuela. Guaidó, apesar das críticas de Capriles, segue tendo alguma influência e está chamando o voto nulo nas eleições. Maria Corina, que também comanda um grupo de oposição está bastante isolada com sua proposta de intervenção estrangeira e perde espaço na cena nacional. Os grupos menores, de oposição à esquerda, farão força para ocupar cadeiras, mas a queda de braço deverá ficar mesmo entre Maduro e Capriles. O fato é que se os dois estão mesmo negociando, o futuro pode ser uma incógnita.

É importante lembrar que Nicolás Maduro também cedeu ao chamar a Organização das Nações Unidas para acompanhar as eleições. A ONU estava banida da Venezuela desde 2005, por Chávez. A intenção é mostrar que não haverá fraude e que o país está seguindo seu curso na normalidade dita democrática. Resta saber se essa tentativa de conciliação vai esmorecer a sanha estadunidense em derrocar Maduro. Quem conhece a história sabe que quando se cede demais ao inimigo a derrota vem à cavalo.

Chávez há de estar se revirando na tumba.

 

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Elaine Tavares é jornalista em Florianópolis.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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