Por Victor Caglioni.
Algumas menções presentes nas redes sociais das últimas semanas, no cenário brasileiro, têm revelado uma abordagem interessante para com a maioria das propagandas políticas nessas eleições municipais. Frases como “Quero viver no mundo da propaganda do candidato a prefeito” ou similares a essa, revelando-se em contra, a favor ou indiferente ao processo político, tornaram-se comuns em todo território brasileiro, a julgar pela diversidade de lugares de onde procedem.
O que será que acontece com esses usuários eleitores? Estariam eles sofrendo de uma tremenda necessidade de sonhar mais? Estariam sofrendo de uma necessidade/ou induzidos a uma esquizofrenia social generalizada? (Esquizofrenia entendida basicamente como uma psicopatologia, caracterizadoa principalmente pela alteração no contato com a realidade).
Estaríamos perto da veracidade que algumas investigações sobre redes sociais e processos políticos, que indicam alguns pontos chaves, sobre essas relações? Como a realizada pelos norte-americanos da Univerdidade da Pennsylvania, Keith Hampton e Lauren Session em seu estudo “Core Networks, social isolation, and new media”. (redes principais-centrais, isolamento social e novas mídias) revelam que a relação no uso das redes sociais, tem se caracterizado por uma forma de isolamento cada vez maior em relação à vida social e o mundo tateável (pensamos em não virtual), em que se detecta entre outras coisas que os norte americanos estão cada vez mais conectados com todo tipo de militância política,(ecológica, moral, militar etc…) interados do que acontece (ainda que isso não signifique que seja um quadro de maioria e sim de tendência crescente, basta recordamos das eleições presidenciais de Obama em 2008).
No entanto criam um espaço de isolamento social e imaginário a parte, a antropóloga argentina Rosália Winocur em seu estudo no México “Robinson Crosoe ya tiene celular: la conexión como espacio de control de la incertidumbre.” revela que o uso do celular e as redes sociais tem se baseado num forte sentimento de incertezas em relação ao mundo palpável por parte dos jovens e que através da rede se pode criar um mundo em que o sentimento de instabilidade social é amenizado, idealizado ou exaltado (assim vemos as convocatórias por movimentos políticos via redes socais em todo o mundo, especialmente na atual Europa em crise, tendo na Espanha, França e Grécia seus melhores exemplos). Daí a urgência que alguns vêm em controlar (não regularizar) a internet.
Já no Brasil em “Sociabilidades digitais e reconfiguração das relações sociais” da internacionalmente premiada brasileira, doutora em comunicação social pela PUC Rio, Adriana Braga, detecta que nossa juventude está participando dos processos políticos de forma cada vez mais virtual, ela recusa a idéia de “falta de engajamento político” da juventude brasileira, uma vez que identifica entre outras coisas que existe sim o tal engajamento, mas o mesmo é realizado a partir de uma outra forma de pensar, por um sujeito típico de uma sociedade individualista, que se mobiliza na participação a partir de outras lógicas, em que estes articulam com seus interesses e seus modos de vida, diferente da política tradicional. Recordamos que se anunciar “indiferente” também é entendido como parte de um processo político que deve ser detectado com conseqüências reais.
Nessas perspectivas científicas obviamente simplificadas, surge uma dúvida, seria possível que a tese de necessidade de esquizofrenia coletiva seja uma realidade para este nosso caso? Possivelmente não, a julgar que as sociedades sempre trataram de condenar e pôr em dúvida os reclamos da juventude (estado psíquico e não de idade) quando ela se “rebela” em contra (sem fazer discernimento do que se proclama) ainda que isso seja uma das características que a funda, e que esse raciocínio parece estar mais conectado com a realidade que com a imaginação, embora use palavras que dizem o contrário, uma das características da ironia, certo? Então talvez quem esteja realmente sofrendo de esquizofrenia, de falta de contato real, sejam alguns dos dirigentes políticos e seus marketeiros (bom nesse último caso, isso mostra o nível de profissionalismo, sem restrições éticas, já que é dessa idéia de vender sonhos, parte seus conceitos de eficácia). Isso na melhor das hipóteses… chii, hora de terminar o texto.
Victor Caglioni. Sociólogo. Buenos Aires. Argentina.
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