
Por Sebastião Costa.
Nem manjedoura havia naquelas brenhas ressecadas do sertão pernambucano. Nasceu em casa de taipa, chão batido, dois cômodos. Sem mesa, nem cadeiras, muito menos banheiro. Banho semanal, num açude a seis quilômetros.
É o sétimo filho de Seu Aristides, que foge da seca, da miséria e da família para fazer vida em São Paulo. A mãe, D. Lindu, desamparada, tempos depois segue de pau-de-arara para o mesmo destino de muitos outros retirantes. Na bagagem, os filhos que sobraram.
Aos sete anos, o filho de D. Lindu montou seu próprio negócio com um irmão mais velho: vendedor de amendoim, tapioca, laranjas (morria de vergonha de gritar “olha a laranja”).
Aos dez, virou engraxate. Foi office boy e auxiliar de tinturaria antes de se tornar metalúrgico. E o metalúrgico desvencilhou-se de sua timidez, encarou a cara feia dos donos do capital, peitou as baionetas dos generais para se tornar o mais importante líder sindical da história do Brasil.
Durante as trevas da ditadura, foi forçado a visitar as masmorras do regime. Saiu de cabeça erguida, sempre acreditando que o “amanhã há de ser outro dia”. E no alvorecer de outro dia, tornou-se o parlamentar mais votado da história política do país.
Tão bem votado que o filho de D. Lindu, vejam vocês que audácia, ousou se candidatar a presidente da República. Perdeu uma, duas, três eleições. Não baixou a cabeça, foi em frente e juntou num mesmo pacote carisma, sensibilidade social e muita competência para vencer uma, duas, três, quatro eleições seguidas e o respeito de uma popularidade de 85%
Assim também já é demais!!
Onde já se viu, um ‘pé-rapado’ saído lá dos grotões nordestinos querer se tornar o rei do Brasil? Fique-se sabendo que estamos na América Latina e num país onde cinco ‘desabençoados’ por Deus botam no bolso o mesmo dinheiro que toda a metade mais pobre da população brasileira.
Eles e a galera que habitam o topo da pirâmide, com as riquezas e todos os poderes nas mãos, há muito tempo deitam e rolam nesse país abandonado por Deus e bonito por natureza. E mandam e desmandam, desde as remotas eras em que um pau-mandado do império português aportou lá pela Baía de Todos os Santos para governar o Brasil.
A perseguição começou com a derrubada da presidenta eleita pelo povo brasileiro, passando pelas entranhas fétidas de um complô midiático-judiciário, para seguir num processo implacável de destruição do ‘pé-rapado’.
As togas, feito os quepes de 64 fecharam o golpe.
Para eles, o gran finale, mas os brasileiros conscientes, sedentos de justiça, com fome de democracia, seguiram na luta, caminhando, cantando e contando os dias para sua libertação, sua redenção, sua ascensão.
Deu no que deu!!!
Sebastião Costa é médico presidente do Comitê Tabagismo da AMPB, apresentador do programa Ar Puro no Portal Desacato e colunista de 247
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