Por Noelia. S. Cea.
Tradução: Elissandro dos Santos Santana, para Desacato.info.
No palco no qual se representa a história da ciência, pouco espaço fica reservado para as mulheres. As dificuldades para acessar a educação, os limites que restringiam seus direitos e a rejeição social tornaram invisíveis as marcas que muitas mulheres deixaram para o conhecimento científico.
No entanto, muitas conseguiram o impossível, apesar de seu tempo, criando o que não foi inventado: a comunicação remota, lava-louças, máquina de café e, inclusive, o Jogo do Senhorio.
Wi-fi
Hedy Lamarr destruiu, mais uma vez, o mito de que as mulheres bonitas são idiotas. Esta judia austríaca, nascida em Viena, destacou-se desde a infância por sua inteligência. Aos 16 anos, começou seus estudos de engenharia, porém, três anos depois, abandonou o curso, atraída pela veia artística. Foi a primeira atriz a protagonizar uma nudez e um orgasmo diante da câmera em Éxtasis (1933) e quem desenvolveu a primeira versão da teoria do espalhamento espectral, graças ao qual hoje podemos nos conectar a internet sem fio.
Os pais dela lhe arranjaram um casamento de conveniência com um fornecedor de sistemas de munição, aviões e sistemas de controle do regime nazifascista, que submeteu a jovem a um controle estrito. Hedy qualificou essa época, em seu romance autobiográfico, como um período de escravidão.
Aproveitou a época de solidão para continuar com os estudos de engenharia e fornecer ao governo norte-americano informação sobre os detalhes da tecnologia armamentista que obtinha dos clientes de seu esposo.
Em 1941, desenvolveu, em parceria com o compositor George Antheil, um sistema de comunicações por rádio que não podia ser interceptado pelo inimigo, pois mudava constantemente de frequência. Desta forma, criaram uma versão antecipada do espalhamento espectral, que se utilizava em diferentes sistemas de telecomunicações.
O Dia do Inventor se comemora em sua homenagem no dia 9 de novembro, data de seu aniversário.
Limpador de para-brisas
Alguém imagina ter que sair do carro para limpar o vidro frontal quando chove? A solução foi inventada por Mary Anderson. Em 1903, recebeu a patente, ainda que não tenha sido utilizado até 1913, quando começou a fazer parte do equipamento dos automóveis estadunidenses. Esta mulher, nascida no Alabama, teve um relampejo de ideia durante uma viagem de trem elétrico a Nova Iorque, quando observou as dificuldades do condutor para manter os vidros limpos. O invento inicial consistia em uma nivela manipulada pelo condutor que ativava um braço mecânico com uma lâmina de borracha.
Máquina de café Melitta
Recebe o nome de sua inventora, a alemã Melitta Bentz. A mulher nascida em Dresde, cansada de ter que coar a bebida para remover o pó do café e de lavar os sacos de linho anteriormente utilizados como filtros, descobriu que se fizesse um espaço em um recipiente de lata e o cobrisse com um papel obteria um produto muito mais gostoso. O primeiro filtro o fabricou a partir de um caderno de seu filho, cortou um círculo de papel e colocou no fundo do metal. Depois de esquentar a água, obteve uma bebida sem nenhum pedaço de café moído. Durante essa descoberta, em 1908, desenvolveu vários modelos até o modelo de filtro que se utiliza hoje.
Máquina de lavar pratos
Ainda que a ideia tenha sido patenteada em 1850 por Joel Houghton, teve que esperar mais de três décadas (1866) até que Josephine Cochrane desenhasse a primeira máquina capaz de lavar os pratos sujos de forma automática. Esta senhora da alta sociedade tinha medo de que o serviço quebrasse alguma peça de seus valiosos pratos chineses, pelo que decidiu pôr mãos à obra e criar um aparato que somente os limpasse. A senhora Cochrane ganhou o Prêmio de Melhor Invento da Feira Universal de Chicago de 1893 que teve uma boa recepção de restaurantes e hotéis.
Seringa
A primeira seringa médica, que se podia utilizar com uma só mão, foi inventada por Letitia Geer, em 1899, culminando as tentativas que se iniciaram desde o século IX. Ademais, foi a primeira seringa que continha partes de vidro.
Fralda descartável
Até que a estadunidense Marion Donovan inventasse fraldas descartáveis, se utilizavam almofadas de pano que tinham que ser lavadas e esterilizadas constantemente, além de molhar a roupa e o lençol do berço. Em 1946, esta mulher, nascida em Indiana, idealizou uma fralda a partir de uma cortina de chuveiro e de um enchimento absorvente que não provocava coceira nos bebês e que os protegiam da umidade. Durante as décadas seguintes, desenvolveu o modelo até fazê-lo completamente descartável. Vendeu a patente por dois milhões de dólares.
Linguagem de programação COBOL
Grace Hopper é conhecida por ser quem ensinou os computadores a falar. Esta nova iorquina decidiu alistar-se na Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e tornou-se uma pioneira da ciência da computação. Em 1952, ela patenteou o primeiro compilador, um programa que traduz palavras do inglês para linguagem de computador. Ela também trabalhou como programadora no Mark I, o primeiro computador em larga escala dos Estados Unidos e é considerada a criadora do COBOL (Common Business Language Oriented), a primeira linguagem de programação universal.
Conserva
A indústria de alimentos passou por uma revolução no século XIX, após a invenção do enlatado a vácuo, de conservas, de Amanda Theodosia Jones. Os EUA conseguiram remover o ar dos potes movidos pelo desejo de preservar melhor o fruto.
Monopoly
Este jogo foi criado em 1904 por Elizabeth Magie, do estado da Geórgia, com a intenção de alertar as pessoas sobre os perigos representados pelos monopólios. Ela o batizou jogo do senhorio, e, embora foi rapidamente distribuído pelos EUA, a autora perdeu o controle de seu produto e não aproveitou os seus benefícios. Anos mais tarde, Charles Darrow, um homem arruinado após a crise de 29, patenteou sua própria versão deste jogo, apenas mudando algumas regras e o chamando Monopoly.
Tipex
Um pintor não corrige seus erros apagando-os, mas pintando sobre eles. É o que pensava Bette Nesmith Graham, uma datilógrafa e artista de comercial estadunidense que decidiu derramar um pouco de tinta de água em uma garrafinha e levá-la para o seu escritório com uma escova para corrigir os erros da máquina de escrever. Foi assim que, inadvertidamente, inventou o que hoje conhecemos como tipex, embora ela o tenha batizado, em 1956, como Mistake Out (N. do T.: erros fora em espanhol), a IBM se recusou a comprar sua invenção e ela começou a vendê-la em casa com o nome de Corretivo (N. do T: Liquid Paper no original em inglês).
Kevlar
Quem iria dizer a Stephanie Kwolek que graças a ela se evitaram milhares de mortes. Esta mulher, que desde pequena mostrou um grande interesse pela medicina e pela ciência, inventou, em 1964, um material finíssimo, porém, cinco vezes mais resistente que o aço, o kevlar. Devido à sua invenção, o material foi e ainda é usado em inúmeros objetos, desde coletes à prova de balas a trajes à prova de fogo, até velas de barcos e raquetes de tênis.
Livro eletrônico
Ángela Ruiz Robles foi uma professora espanhola que dedicou sua vida à educação e à alfabetização na Espanha. Em 1949, patenteou o que seria o antecessor dos livros eletrônicos, uma enciclopédia mecânica destinada a facilitar a aprendizagem com um modelo mais interativo. Esta engenhoca se abria da mesma forma que o livro tradicional e em seu interior se encontram diferentes bobinas correspondentes aos diferentes materiais, além do abc mecânico com os quais se podia escrever. Este livro era capaz de iluminar, emitir sons e ampliar os textos.
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Fontes: Tribuna Feminista. e SINC
Revisão da tradução: Tali Feld Gleiser.