Durante 44 anos, os pobres, e os filhos pobres dos pobres, os ateus pobres e os crentes pobres, em soma: “os majoritários em todos os aspectos”, ganhamos um santo, São Ernesto Guevara. A ele e por ele rezamos a cada 8 de outubro. A ele e por ele prometemos defender Nossa América, a ele e por ele juramos lealdade à Pátria Grande de Bolívar, San Martín, Artigas, Martí, Tupac Amaru, Morazán, Juana Azurduy, Manuel Rodríguez, Alfaro, Zumbi e tantos outros.
Ernesto Guevara de la Serna não pode ser confundido com uma grife nas camisetas de revolucionários de gabinete. Não pode ser uma fantasia para militantes de centro acadêmico. Tais usos representam grave pecado. El Che não é uma “foto” para boné, se a cabeça que o arvora não merece tamanho louvor. El Che Guevara tem um significado tal, de importância tão sagrada, que é semente, palavra, marcha, combustível, fuzil, estilingue, trincheira, terra e pátria e mátria deste povo. Do Povo Todo, que muito além do Paraíso da América Latina, roda sua carne na luta, sua voz no clamor; mãos e unhas à destruição dos muros da vergonha, olhos como lume ao caminho, almas todas para libertar a terra do colonialismo, da violação, do saqueio, da morte, da indignidade.
El Che não é um detalhe casual da história, mas, a narração viva-eterna da Nossa História. Anda conosco na afastada Palestina, no desgarrado Haiti, na gloriosa Cuba, no bravio Basco, na Resistência Árabe, na invadida Santo Domingo, na violada Honduras, no severo Uruguai e na inquieta Argentina, nas minas de cobre, na selva Lacandona, nos agrestes nordestinos… anda El Che. Vai com todos os nossos, os ateus e os cristãos, os budistas e os muçulmanos, com os letrados e com os intuitivos, com aquele que pouco tem e com quem não tem nada. Lá vai vivo, audaz, bonito, firme, arfante na subida do Morro ante a incredulidade das UPPs, entre os robocops de Bogotá e os Paracos mexicanos. Sua marcha ruma firme de Tel Aviv a Jerusalém, de Madri a Cabul. O Soldado Universal teme esse santo. O Povo vai atrás do seu Verbo.
É entre as maneiras rebeldes dos estudantes resgatadas no Chile, é entre as mulheres e sua dignidade a erguer em Ciudad Juárez, é entre os velhos e essa independência inacabada da Pátria Grande, é entre nós trabalhadores que temos orgulho de sê-lo que São Ernesto caminha prazeroso. É entre os descalços, os refugiados, os agredidos que ele cura sua alma e alça a voz. Escute: “A participação que cabe a nós, os explorados e atrasados do mundo, é a de eliminar a base que sustenta o imperialismo”.
Tão forte sua prece, que hoje, caindo a tarde, na véspera da sua santificação, alguém de Nova Iorque comentou-me que “Ernesto Guevara de la Serna foi preso em San Diego, e mais tarde em Los Angeles, e depois em San Francisco e até em Sacramento”. Disse-me que a cada ocasião virava dezenas, milhares, milhões de INDIGNADOS atazanando o ventre imundo do monstro, derramando liberdade, valor, dignidade e amor pelo outro. São Ernesto Despejava o Sangue de Filho de Povo, para Nossa Cura e Libertação.
Foto: Photo: Yossi Gurvitz