Por André Barrocal.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) conseguiu proteger o pai contra uma tentativa de botar Alexandre Giordano, empresário e suplente de senador pelo PSL paulista, para falar no Congresso sobre o caso Itaipu. À frente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ele comandou a derrota, em uma votação inusitada, da proposta de realizar uma audiência pública com Giordano.
O episódio aconteceu na última quarta-feira, dia 11. Eduardo realizou a votação durante uma hora e meia. Votar por tanto tempo assim é inusual em comissões no Congresso. Nesse período, o filho de Jair Bolsonaro saiu à caça de governistas membros da comissão, via celular, para que fossem votar contra a audiência pública. A proposta de fato foi rejeitada.
Giordano é personagem do escândalo que ameaça de impeachment o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, devido a um acordo selado e desfeito este ano sobre a usina de Itaipu. Foi citado como alguém que teria se apresentado, em reunião com autoridades paraguaias, como representante da família Bolsonaro.
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Giordano esteve no Palácio do Planalto em 27 de fevereiro de 2019, informação oficial do GSI, o Gabinete de Segurança Institucional. Um dia antes, Jair Bolsonaro tinha viajado a Foz do Iguaçu, a cidade-sede de Itaipu, para empossar o novo diretor-geral da usina, pelo lado brasileiro, o general Joaquim Silva e Luna. Benitez participara da cerimônia.
A ida do empresário ao Planalto foi descoberta pelo líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP), junto ao GSI. Foi Valente quem propôs a audiência pública, a fim de buscar esclarecimentos sobre uma história com lacunas e informações esquisitas por parte do governo. Queria que a audiência tivesse ainda o presidente da CPI paraguaia aberta sobre o caso Itaipu.
“Giordano intermediou o acordo de venda de energia. Isso é tráfico de influência”, disse Valente, durante a votação de sua proposta. A CartaCapital, ele comentou que acredita que o empresário “foi ao Palácio atrás de informação privilegiada, tentar saber se havia espaço para algum tipo de atuação privada nas negociações e no futuro acordo”.
Segundo Eduardo, se Giordano falou em nome de seu pai, “estava falando de maneira desautorizada, isso daí não tem como evitar que pessoas falem o nome do presidente”. E disse que não via razão para debater o assunto no Congresso. “Isso não é matéria para ser apreciada aqui, é para o poder Judiciário, com o devido processo legal, ampla defesa”, afirmou.
Informações desencontradas
A passagem de Giordano pelo Planalto é motivo de informações desencontradas do governo.
O GSI disse a CartaCapital, via assessoria de imprensa, que o empresário teve “como destino a Secom”, ao entrar no Palácio. Secom é a Secretaria de Comunicação Social da Presidência. A Secretaria disse à reportagem que “não houve agenda ou outro compromisso” de Giordano “com representantes da Secom”.
Após CartaCapital revelar, em 26 de agosto, a ida de Giordano ao Planalto, o Estadão ouviu o empresário a respeito. Comentário dele: “Fui lá para conhecer o chefe da Secom, sempre na minha carreira solo como empresário. Não tem nada, absolutamente nada a ver com Itaipu”.
Ao jornal, a Secretaria mandou a seguinte nota: “A Secom informa que o encontro não ocorreu. O então secretário de Comunicação Social, Floriano Amorim, não conhece tal pessoa e nunca o recebeu”.
O publicitário Amorim chefiou a Secom de janeiro a abril, quando foi substituído por outro publicitário, Fabio Wajngarten.
No dia em que Giordano foi ao Planalto, a Secom era teoricamente subordinada à Secretaria de Governo da Presidência. O chefe dessa Secretaria na época era um general que também tem o nome de Floriano (Floriano Peixoto). Na manhã de 27 de fevereiro, Peixoto não estava em Brasília. Tinha ido ao Rio, participar, às 8h, do evento “Doing Business 2020 – melhoria no ambiente de negócios”.
O empresário entrou no Planalto às 8h59, segundo o GSI. Este recusa-se, porém, a informar a que horas Giordano saiu, o que não permite saber se alguém o recebeu. Jair Bolsonaro não estava no Planalto naquela manhã, mas em um hospital em São Paulo. Voltaria a Brasília à tarde.
A Secom, responsável pela área de comunicação de toda a Presidência, recusa-se a informar se Giordano esteve em alguma repartição palaciana em 27 de fevereiro, já que com Floriano Amorim não foi.