Editorial: Qual é o outro lado para o general?

Leitores e leitoras do Portal Desacato e audiência do JTT Agora, bom dia.

As pessoas que já viveram as ditaduras que assolaram a América Latina e assistem a volta explícita da presente na Bolívia devem sentir temores, mais ou menos fundados, de um retorno aos tempos mais sombrios da região.

Não se trata apenas do avanço notório das direitas, tanto através do sistema de golpe jurídico, parlamentar; ou a traição descarada como no Equador, as fraudes diversas e a propaganda mentirosa, a intervenção de setores de interesse dos Estados Unidos, o apoio da banca internacional e de setores influentes das elites e os mercados internos e externos; trata-se do Brasil e da expressiva quantidade de militares no governo.

Não estamos manifestando que onde há um militar há uma tentativa de golpe, isso não é verdade. Aqui houve militares perseguidos e mortos a mãos da ditadura por defender a democracia, e no restante da região também. O que estamos dizendo é que o número de militares, da ativa ou não, que formam parte do governo Bolsonaro, sem competência técnica para determinados cargos, é demasiado para esta jovem democracia que se consolidava até o golpe jurídico-parlamentar de 2016.

Pareceria, por causa da quantidade de declarações que emitem os militares do governo Bolsonaro, que os fardados buscariam exercer uma sorte de quarto poder no país e essa imagem e esse papel não se deveriam corresponder com as Forças Armadas. Se não é o que parece é bom ter em consideração que na lide diária da política não alcança com não ser, é necessário não parecer. E se as aparências enganam e essa quantidade de declarações e notas dos quadros militares governamentais não passam de cartas de boas intenções para buscar a pacificação do Brasil em dias tumultuados, a pergunta é por que realizam comentários como o do General do Exército Luiz Eduardo Ramos.

Em nada contribui a desanuviar o temor dos democratas o comentário do ministro-chefe da Secretaria de Governo, afirmando que “as forças armadas não pensam em golpe, mas, que outro lado tem que entender que não pode esticar a corda”.

A pergunta inevitável para organizar os temores é qual é esse outro lado: o Supremo Tribunal Federal, o Congresso da Nação, os partidos de oposição, os movimentos sociais, os e as jornalistas, a população em geral agredida pelo desinteresse do governo, o estímulo á violência que emana do Poder Executivo, a perda sistemática de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, o desemprego crescente ou a crise sanitária que assola o Brasil de ponta a ponta?

Precisamos saber qual é esse o outro lado que não deve esticar a corda.

#Editorial #NossaOpinião

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