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Morar na Ilha de Santa Catarina ou na parte continental de Florianópolis, sem conhecer o tecido social e seus problemas cotidianos, parece um grande privilégio. A cidade é indiscutivelmente muito bela. Uma paisagem natural exuberante deitada no litoral Atlântico. Mar, rios, córregos, lagoas e morros fazem a delícia dos turistas, mas quem mora na capital catarinense tem motivos para dizer que isso é suficiente, que tudo funciona bem? Não, não tem.
Florianópolis é profundamente desigual. Governada de contínuo, desde sua fundação, pelos interesses das elites locais, com exceção de um único governo de caráter progressista na década de noventa, que trouxe inspirações que ainda perduram em boa parte da população, como a participação popular intensa nas decisões da gestão municipal, tem pouco de mágica e muito de injusta, engessada e violenta.
A capital manezinha é caótica em vários aspectos. A desorganização do sistema de transporte público e privado de pessoas é fator de mal-estar constante. A estimulação do transporte individual, na contramão do que as grandes capitais mundiais vêm fazendo há anos, asfixiou Florianópolis. A visão errada e classista de deslocamento humano da prefeitura olhou apenas para os interesses do conglomerado vinculado à comercialização, uso e manutenção do carro particular. Enquanto isso, o deslocamento em morros e periferias é muitas vezes tortuoso e até inviável, dificultando o acesso pleno a serviços médicos, alimentação, educação e segurança.
Mas o transporte é apenas um exemplo do que não funciona em Florianópolis. Seguindo as orientações da economia capitalista neoliberal, a cidade terceirizou serviços de importância estratégica para a vida das comunidades. Saúde, limpeza e educação foram compartilhadas com a iniciativa privada para atender as políticas de redução que buscam um estado e um município mínimos.
A falta de oportunidades, o desemprego e o emprego informal são outra mazela deste centro turístico internacional que procura esconder os pobres nas masmorras do setor de serviços, afastá-los do convívio social e submetê-los a atividades de subserviência às elites e aos setores da classe média que as apoiam. A miséria aumenta dramaticamente a violência. A comunidade negra é vítima de uma agressão e repressão policial nunca vista antes na cidade, tanto na ilha como na região continental. O problema habitacional não para de crescer.
Florianópolis faz tempo que perdeu a magia. Precisamos uma cidade diferente, onde a beleza não seja o biombo que oculta as desgraças da desigualdade, a discriminação e a violência que tentaram dissimular os diversos administradores que, ano trás ano têm se revezado na condução da cidade. Há que mudar o cotidiano de Florianópolis, virtuosa na beleza, intolerante e desigual na realidade.
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