Leitores e leitoras do Portal Desacato e audiência do JTT Agora, bom dia.
Pareceria que perdemos os reflexos, a memória e os aprendizados que os últimos 50 anos da história brasileira nos marcaram a ferro e fogo. Dias atrás, uma boa parcela de formadores de opinião do campo progressista aplaudiu, até com solenidade, o editorial do Jornal Nacional da Rede Globo. Uma peça sentenciada com uma frase de efeito: “A história atribui glória e desonra”. A emissora criticava as atitudes negligentes dos síndicos que governam o Brasil.
Nas últimas semanas, mais precisamente desde que a Globo ensaia distância com o governo Bolsonaro, nos mesmos ambientes progressistas, afirma-se que a Globo por fim está fazendo jornalismo. Ou seja, o lobo começou a fazer afagos nas galinhas e o galinheiro está disposto a ser engolido de novo, até que não fique uma pluma sequer. Porque a Globo é a mesma de sempre, conveniente, oportunista, usurária do estado, manipuladora do seu público, e astuta, sustentada numa relação promíscua que tem com o uso das concessões públicas. Essa Globo aplaudida por impensável claque se prepara para saborear outro assalto à classe trabalhadora.
Enquanto enternece a plateia com sua máscara de interesse solidário, direcionando nossos olhares, legitimamente raivosos com um presidente inqualificável, a ministérios vazios, nos aliena com cifras de mortos que só afirmam o mórbido caos diário. Enquanto persegue, como se fosse numa série policial os esconderijos das quadrilhas que se abrigam nas vísceras podres do governo, enquanto isso todo, do outro lado da realidade, não mostra com a mesma irritação moralista o ministério mais letal de todos, o da Fazenda, que prepara o assalto final aos cofres públicos, e ao presente e futuro que lhe restem à nação e seu povo pobre.
Os e as claques momentâneos deveriam lembrar que sem a existência da Rede Globo, associada histórica e ideologicamente aos interesses de Washington, não teríamos um destino tão brutal, condenados a uma desigualdade social que afronta os verdadeiros sentimentos de solidariedade e humanidade.
Esquecem os aplausos irresponsáveis que estamos como estamos porque a ditadura que assolou o país desde 1964 decidiu, junto com os Estados Unidos, que tivéssemos esse império da comunicação e da manipulação como ferramenta decisiva da desconstrução da moralidade, a ética, a justiça e a república.
Esquecem que temos esta democracia em estado de miséria porque a Globo decidiu elevar um juiz medíocre a status de herói nacional para que acabasse com nossa indústria, nossa democracia e nossa soberania. Não recordam que a Globo é responsável por sustentar e apadrinhar comunicacionalmente todos e cada um dos golpes que foram dados contra a classe trabalhadora.
Quem quiser pode seguir aplaudindo o vitimário, mas, não esqueça que desta vez é verdade que a Globo não mentiu, de fato história atribui desonra.