Por Marcus Eduardo de Oliveira.
Duas áreas do conhecimento – economia e ecologia – que sempre andaram distantes e, em muitos casos, estiveram em lados conflitantes, parece ter em breve um futuro mais amigável e bem próximo uma da outra. Quem defende esse argumento é o economista Marcus Eduardo de Oliveira, professor nas universidades UNIFIEO e FAC-FITO, em São Paulo, para quem “caberá à ecologia determinar o futuro econômico”.
“Num mundo com possibilidade de chegarmos a ter 9,2 bilhões de pessoas em 2050, convivendo com a crescente presença das indústrias emitindo toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, o futuro econômico passará inevitavelmente pelas questões de ordem ecológica”, diz o economista.
Marcus de Oliveira reitera que “como a maior parte da população vive em sociedades industrializadas, consumindo elevadas quantidades de energia de diferentes fontes e esgotando, a cada dia, os recursos do solo, os sinais da gravidade são, e serão ainda mais que visíveis. Contudo, somente depois que a corda estourar de uma vez é que os governantes, não mais podendo escamotear essa questão, vão se dar conta de tudo aquilo que os economistas mais sensatos ligados às questões ecológicas vem alertando desde, pelo menos, os últimos 35 anos: que a economia não mais poderá caminhar com suas próprias pernas, e que teremos, por exemplo, que fabricar carros e construir residências `mais inteligentes´, consumindo menos energia”.
Oliveira diz ainda que “não levará muito tempo para que a própria população saiba e perceba, por si própria, a real possibilidade de se mensurar economicamente a destruição dos ecossistemas”. Hoje, diz ele, “muitos conhecem o preço de tudo, mas não o verdadeiro custo e, a cada dia está ficando mais evidente quais são os reais custos dessa agressão ambiental sem limites”.
Ao que tudo indica, a crise ambiental decorrente em grande parte do excesso de produção para o atendimento cada vez maior das necessidades expressas no crescente consumo, terá se instalado em todos os setores da atividade econômica. O economista, a esse respeito, diz que “será a partir desse momento que as tecnologias verdes, sob um novo paradigma, rompendo com o modelo econômico baseado no consumo, darão o necessário impulso para reativar a atividade econômica e, aí sim, todos perceberão que são os sistemas ecológicos que sustentam a vida”.
Para o economista, autor de inúmeros artigos sobre a relação da economia com a ecologia, “a economia verde e a economia azul serão, indiscutivelmente, os eixos principais que definirão o futuro econômico, uma vez que, a partir disso, serão desenhados novos modelos de políticas econômicas e ambientais”. A questão da escassez hídrica parece ser um bom exemplo disso. Para Marcus de Oliveira, “em pouco tempo veremos um deslocamento das atividades industriais do país, pois a água será fator determinante para a localização das empresas”.
Economia azul e economia verde
Por “economia azul” entende-se todo o potencial de riqueza contido nos oceanos, enquanto a “economia verde” faz referência à questão ambiental. Para o professor Marcus Eduardo de Oliveira, “é fundamental que se discuta o quanto antes nos cursos de Economia essas duas maneiras de gerenciar a atividade econômica”.
Oliveira destaca que “a nova geração de economistas que chegará ao mercado de trabalho precisará entender e avaliar com suficiente seriedade as consequências da queda dos recifes de coral, o problema da pesca excessiva, o aumento do nível dos oceanos, a erosão costeira, a constante poluição das águas, o derretimento das calotas polares, o aquecimento global, a sustentabilidade das cidades, as novas formas de gerar energia, e a imprescindível necessidade de transitarmos para uma economia de baixo carbono, pois isso tudo será determinante para pensarmos o futuro da humanidade”.
Além da necessidade de se repensar o ensino da economia, a própria estrutura econômica precisa ser remodelada. Para o economista, “é necessário o entendimento de que a economia funciona a partir dos ecossistemas e esses, por sua vez, precisam das leis da física”.
A questão ambiental está assim cada vez mais presente nos assuntos da economia. Oliveira diz que “segundo estudos da ONU, 80% da população mundial vivem em áreas carentes de segurança hídrica. É por isso que entendo que a ecologia determinará os passos dos sistemas econômicos no futuro, uma vez que uma situação como essa, por exemplo, não pode se perpetuar por muito tempo”.
A afirmação do economista fere assim os postulados da economia tradicional (que Oliveira se referiu na entrevista como “velha economia”) uma vez que esse modo de pensar a economia sempre mostrou pouca ou quase nenhuma preocupação em relação às questões envolvendo a sustentabilidade. “Quem ainda não se deu conta de que a economia é apenas um subsistema do meio ambiente e, portanto, totalmente dependente disso, terá enorme dificuldade em aceitar, de bom grado, a premissa de que será a ecologia a única ciência capaz de salvar o modo econômico”, diz.