‘É um golpe de Estado, fruto de uma conspiração’, diz Samuel Pinheiro Guimarães

'Foi tudo uma questão política, tanto que Dilma não foi condenada na segunda parte do julgamento'
‘Foi tudo uma questão política, tanto que Dilma não foi condenada na segunda parte do julgamento’

Vermelho – O diplomata Samuel Pinheiro Guimarães defendeu, nesta quarta (31), que o país sofreu um golpe, orquestrado pelas classes hegemônicas. Segundo ele, o Senado não derrotou apenas a presidenta Dilma Rousseff, mas um projeto de país. Para o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, o novo governo ignora questões como a desigualdade social e só pensa no “mercado”.

“É um golpe de Estado, orquestrado pelas classes hegemônicas e comandado por Michel Temer e outros, como Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco, etc. Organizaram uma grande conspiração, com o auxílio importantíssimo da mídia, dos meios econômicos, de associações como a Fiesp e Febraban”, disse, em entrevista ao Vermelho, nesta quarta (31).

De acordo com ele, embora a imagem internacional do país tenha saído prejudicada desse processo, houve “um esforço muito grande dos conspiradores” para dar uma aparência de legalidade a ele, um trabalho que deve continuar no próximo período.

“A imagem do país fica ruim por um tempo, mas eles farão o possível e o impossível para passar a ideia de que não houve golpe, como o presidente do Senado, Renan Calheiros, tentou dizer hoje (durante a sessão). Haverá esse esforço, a mídia vai proclamar permanentemente que não houve golpe e vai ter um debate eterno sobre se houve crime de responsabilidade”, afirmou.

Para Samuel Pinheiro, contudo, a própria decisão do Senado de não cassar os direitos políticos de Dilma já indica que não havia motivos para seu afastamento. “O interessante é que fica claro que ela não cometeu nenhum crime de responsabilidade, foi tudo uma questão política, tanto que não foi condenada na segunda parte do julgamento”, analisou.

O diplomata avaliou que o impeachment interrompe um projeto de país, mais inclusivo que aquele que assume a partir de então. “Não é a presidenta Dilma. É um projeto de desenvolvimento político, econômico e social. O grupo que assume ilegitimamente é outro e é isso que é muito grave. A extrema desigualdade social e de renda, um contingente enorme de pobres… eles ignoram isso. Só pensam no mercado”, destacou.

Ele fez questão de dizer que o mercado, na verdade, são os grandes latifundiários, os grandes industriais e banqueiros, os proprietários dos meios de comunicação. “O mercado não somos eu e você, são pessoas poderosíssimas e riquíssimas. E eles (do novo governo) só pensam no mercado, em favorecer essas pessoas, os capitalistas”.

Questionado sobre a postura do Brasil diante do mundo, sob o comando do ministro das Relações Exteriores, José Serra, Pinheiros Guimarães foi sucinto: “Serra não é uma pessoa preparada para o exercício do cargo”.

Segundo ele, a política externa brasileira é algo muito complexo e delicado, por se tratar um país de enorme dimensão territorial e demográfica e pela sua grande capacidade econômica. “É algo que não se resume a ficar atacando a Venezuela. E, quando ele (Serra) faz isso, prejudica a relação do Brasil com todos os vizinhos. Isso tudo mostra um amadorismo e é para agradar os Estados Unidos, que são um eleitor importante no processo político brasileiro”, resumiu.

O diplomata lembrou ainda que são de Serra projetos em tramitação no Congresso que contrariam os interesses nacionais, a exemplo daquele que altera a legislação do pré-sal e reduz o papel da Petrobras na exploração desses campos.

“O projeto do pré-sal é extremamente favorável às petroleiras norte-americanas. Isso revela a visão que ele (Serra) tem. É uma pessoa que não compreende o potencial e o tamanho do país”, criticou.

Para Pinheiro Guimarães, é importante que a mídia internacional esteja, de maneira geral, denunciando o que ocorre no país. Mas o ex-ministro defende que é preciso observar como ela irá se comportar a partir de agora.

“Vamos ver se a mídia vai manter esse clima, porque a mídia é muito volátil e entram outros assuntos na pauta. Claro que é importante informá-los sobre as medidas que são tomadas contra o povo aqui, mas a gente não deve se iludir. Só os movimentos populares podem construir um projeto de Brasil popular”, encerrou.

Fonte: RBA.

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