A professora e sindicalista, Elenira Vilela, refletiu esta semana sobre a necessidade de retomar a análise da realidade como forma de vencer a ofensiva capitalista. Esta é a íntegra do seu texto do dia 25 de fevereiro de 2019.
“O que mais leio e escuto na esquerda tem a ver com fé. E, como diria Eliane Brum, na política é preciso que todos sejamos ateus.
Não, esse não é mais um artigo sobre o problema do crescimento do poder político das igrejas pentecostais, esse é um artigo sobre o quanto as esquerdas deram as costas pra teoria, pra formulação, pra organização e pra análise.
Por Elenira Vilela, para Desacato.info.
É fé no Estado Republicano, fé que governo é poder, fé no Judiciário, fé no bom senso do povo, fé no espontaneísmo, fé no horizontalismo, fé que a consciência de classe brota da exploração, fé que quando piorar a classe vai se revoltar, fé que a direita vai cumprir acordo, fé que os milicos vão defender o interesse nacional, fé nas mídias sociais supostamente democratizantes, fé na democracia, fé que o governo do Bolsonaro vai se auto destruir e que isso ocorrendo a gente vai automaticamente assumir e consertar e tudo vai voltar ao “normal”… é muita fé. Tem fé até na compaixão dos capitalistas.
Só que não é assim que funciona. Viramos todos utopistas, idealistas, espontaneístas.
O que houve com o materialismo histórico e dialético? E com o socialismo científico? E com a teoria revolucionária? E com a práxis?
É preciso ver a essência para além da aparência. É preciso fazer análise da realidade, buscar os nexos fundamentais de funcionamento do modo de produção, do mecanismo de exploração, dos mecanismos de opressão, das formas de organização, das estratégias e táticas realmente capazes de derrotar o capitalismo.
Estamos vivendo uma das crises mais profundas do capitalismo, possivelmente a maior do século, assistindo a periodicidade das crises diminuir e a intensidade aumentar, a maioria das conquistas dos explorados ruir, os assassinatos, a fome e a exploração aumentarem, as garantias, direitos e democracia diminuírem ou serem extintos em vários lugares e as guerras batendo nas mais variadas portas e… e temos fé que as coisas vão começar a melhorar amanhã, mesmo que todas as evidências demonstrem o contrário.
Ou simplesmente denunciamos e acreditamos com toda nossa fé que as pessoas vão se “conscientizar” das questões e passar a lutar para mudá-las.
Não, esse não é um artigo pessimista tampouco, exatamente porque nada do que estamos falando tem a ver com vontade, mas com compreender, elaborar, organizar e agir.
Um exemplo gritante é o crime em Brumadinho. Pouca gente dos nossos conseguiu dizer o aspecto mais importante da questão no enfrentamento que vivemos e que era bem óbvio: a privatização, a lógica pura do lucro sem mediação nenhuma é o aspecto central do que houve. Ninguém de nós consegue deixar de tratar como uma questão moral. A pergunta é: acreditamos na moral do capital? Que o capital se preocupa com a vida e a qualidade de vida das pessoas? Sério? Ou que o Estado é fiscalizador e não propriedade de classe em disputa na luta de classes (perdão pela redundância)?
Não, mas agora eles não vão mais deixar isso se repetir… hã?
Por último, talvez a pior fé que temos é a de que é possível travar essa guerra com flores e amor. Gente, claro que nós não seremos iguais a eles, que os fins não justificam os meios. Mas também não dá pra o lado de lá usar mísseis e submarinos e nós abraços coletivos e fundas com balas de chocolate. Não se derrota um inimigo como o capitalismo assim.
Podemos derrotá-los?? SIM!!!
Na base da fé?? Nunca!
Otimismo da vontade e pessimismo da razão, diria Gramsci. Firmes na estratégia, flexíveis nas táticas necessárias.
Faz tempo que a centralidade da luta anticapitalista e a luta pelo Socialismo não tem centralidade tão óbvia. Socialismo ou barbárie! E a barbárie está aí. Vamos enfrentá-la com o único remédio capaz de fato de debelá-la!
Trabalhadores de todo o mundo: uni-vos na Revolução Socialista!!!”
Elenira Vilela é professora e sindicalista.