A ordem de prisão emitida pelo juiz Sérgio Moro contra Luís Inácio Lula da Silva teve vários efeitos na sociedade brasileira e levantou diversificados cenários para o futuro. Trataremos de apontar alguns elementos para análise dessa conturbada conjuntura brasileira.
O primeiro deles é a própria ordem da prisão. Foi emitida antes mesmo que todos os recursos legais fossem exauridos. Provavelmente Lula perderia em todos, mas teria sido importante seguir os caminhos que o sistema jurídico garante. Não. Havia pressa demais para garantir a tão sonhada cena – por parte dos inimigos do PT – de Lula sendo preso.
Lula mexeu as peças do tabuleiro numa jogada inteligente. Foi para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, seu berço político. Lá, ele comandou as grandes greves durante a ditadura, de lá saiu preso, e lá iniciou sua trajetória sindical e política. Desde o sindicato as lideranças petistas convocaram a militância. E foi melhor do que o esperado. Lula não é só uma importante liderança eleitoral, ele é também uma liderança popular. Por todo o país há pessoas que são capazes de acorrer, em grandes distâncias, para protegê-lo. E assim foi feito. Já nas primeiras horas pós mandato de prisão, o sindicato começava a ser cercado. Durante toda a noite a vigília seguiu.
No dia seguinte já milhares de outras pessoas chegavam de vários municípios do país, prontas a não deixar que Lula fosse preso. E ele ficou dentro do sindicato até passadas as cinco horas, hora limite para se apresentar em Curitiba, conforme a ordem de Moro. As informações que corriam era de que Lula amarrava um acordo para se entregar no dia seguinte, deixando assim o juiz Moro com a cara de tacho.
E assim foi, no dia seguinte celebrou-se uma missa em homenagem ao aniversário de Marisa, sua mulher, morta no ano passado. Foi um ato ecumênico e político. Lula participou, firme no palanque, acenando para a multidão que ali permanecia exigindo que ele não se entregasse.
O discurso de Lula foi uma de suas melhores falas, assomando o grande líder popular que é. Linguagem simples, exemplos do cotidiano das gentes, a fala do povo. Falou do sindicato, das greves que comandou, dos companheiros e companheiras de luta, da batalha que teve ele mesmo para se fazer respeitar por não ter estudado na educação formal, e brincou dizendo que é a única pessoa no mundo a ser presa por conta de uma apartamento que não é seu. E informou às gentes que iria se entregar, porque já estava cansado de ouvir dizer que tudo de ruim que acontece no Brasil é por causa dele. E convocou a todos a serem cada um e cada uma, um Lula, percorrendo o Brasil e fazendo política. “Eu sou uma ideia e ideias não se aprisonam”, insistiu. E o povo se animou.
Foi por isso que depois da missa, quando Lula decidiu sair para se entregar, os militantes que haviam passado dois dias em frente ao sindicato não deixaram ele sair. Queriam que ele não se entregasse. A polícia que viesse buscar, e que passasse por eles todos ali. Mas, o acordo já estava feito. Mais uma vez Lula decidiu submeter-se ao que ele chama de “legalidade”, às instituições as quais preza. Frustrou um pouco as gentes, que queriam resistir. Não, ninguém queria um banho de sangue. Apenas que a polícia tivesse o trabalho de vir buscá-lo, enfrentando a multidão.
Bem mais tarde, quando os ânimos se acalmaram, Lula saiu e se foi em direção a sede da Polícia Federal. De lá seria levado para o aeroporto e depois para Curitiba. Na frente do sindicato ainda ficaram centenas de pessoas, apreensivas pelo destino do companheiro. Não sem razão. Tanto que depois, foi divulgado um áudio de algumas pessoas falando com o piloto do avião: “manda esse lixo janela abaixo”. Não se sabe quem são as pessoas, a FAB nega que sejam os controladores de voo. Mas quem teria acesso ao canal?
Lula então finalmente chegou a Curitiba e o Brasil pode ver a foto dele entrando na sede da PF, finalmente preso. Em vários lugares do país ouviram-se os fogos de artifício de gente comemorando. “Morre, ladrão”, vaticinavam os “julgadores” da Internet e do Facebook. Um rastro de ódio foi crescendo em meio a tristeza dos militantes petistas e de outros tantos da esquerda brasileira que bem sabiam que aquela prisão não tinha razão de ser. Um tipo escroto, que fez parte do bizarro programa global Big Brother, chegou a postar cenas de uma “festa” de celebração da prisão de Lula, com a foto dos juízes do supremo tribunal, misturadas a um grotesco esquete onde ele tapava a boca de uma mulher – supostamente sua funcionária – descia sua calcinha e a oferecia aos presentes. Uma cena sórdida, do mais baixo nível, que também foi divulgada à exaustão nas redes sociais.
Mas, enquanto os adversários de Lula se esbaldavam em festa nas redes sociais, os militantes se organizavam para criar em Curitiba um acampamento em frente a sede da Polícia Federal, onde ele está preso. E nas entranhas do país começou a se forjar esse caminho de centenas de pessoas, em direção a capital do Paraná. Já estão lá às centenas e lá permanecerão dando suporte ao ex-presidente com cantorias, palavras de ordem e presença.
Também já começou a ser articulada uma campanha de envio de cartas a Lula, para entupir a PF curitibana. Não. Ninguém pensa em revolução. A militância petista está fazendo a resistência pacífica e ordeira. O que não afastou a repressão. Na primeira noite a polícia atuou com fúria, deixando muitos feridos. Mas, ninguém esmoreceu. Lá estão firmes.
Entre as forças de esquerda há opiniões divergentes. Há os que clamam por uma resistência mais efetiva, os que querem confronto, os que criticam Lula por ter se entregado, os que acreditam na Justiça, os que querem que a revolução comece já. Há de tudo. Mas Lula segue apostando na sua estratégia: resistência pacífica e respeito às instituições, mesmo que essas instituições estejam carcomidas. É um momento difícil. Todos pisam com cuidado.
Nessa semana o STF deverá julgar o mérito da possibilidade de execução provisória de pena por condenado em segunda instância, mesmo que ainda existam recursos contra a condenação pendentes de análise em tribunais superiores, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou o próprio STF. A votação que levou Lula à prisão foi a negativa de um Habeas Corpus, justamente porque os advogados do ex-presidente alegavam que seria necessário ser julgado o mérito da questão antes que uma ordem de prisão fosse expedida.
Entre os militantes petistas não há esperanças no STF. Lula, ao contrário, tem. Talvez porque na sua situação estejam também outras figuras importantes, não petistas. Assim que a semana ainda terá mais esses movimentos no tabuleiro da política.
Para muitos magistrados, inclusive cinco deles do STF – que já se manifestaram no julgamento do Habeas Corpus – uma pessoa só pode começar a cumprir pena depois de transitado e julgado, sem mais nenhuma possibilidade de apelação. E essa é a batalha que vai ser travada. Caso alguém mude o voto, Lula pode ser solto e aí segue o seu processo, do qual é acusado de ter recebido um apartamento como propina. Só depois de finalizado e sendo ele julgado culpado ele então voltaria á prisão. Mas, se a votação seguir 5 x 6 como foi na do Habeas Corpus, ele segue preso até que aconteça o julgamento da ação principal.
Enquanto isso, no tabuleiro, serão alinhados os candidatos à presidência da República. Há os que acreditam que Lula pode ser candidato, mesmo preso, pois, afinal, ainda não foi julgado. E isso “perturbaria” demais a ordem que os inimigos imaginaram depois de sua prisão. Pois o ex-presidente mostrou que ainda tem muito café no bule. E, mesmo sem Lula candidato, o ato político que foi a sua prisão reanimou a militância. Isso pode mudar a correlação de forças na balança eleitoral.
Assim que os olhos agora estão divididos. Um em Curitiba e outro no STF. Já os pés da militância estão bem plantados no acampamento armado na capital paranaense. Uma aposta de fôlego, que exigirá gente e recursos. Mas, a animação é grande. Entre os que ali estão, a única coisa que importa é manter Lula animado e protegido. As esperanças estão nessas mobilizações, na denúncia internacional, na solidariedade que chega de todo o mundo.
Na imprensa comercial, com raríssimas exceções, as reportagens são de regozijo. Alguns chegam a descrever o primeiro café da manhã do Lula preso, comendo “pão com manteiga e café”, como se fosse um grande castigo. E outros comentários que nem vale a pena narrar, tentando passar a imagem de um homem humilhado. ora, para milhõe sde brasileiro, comer pão com manteiga e arroz com feijão é o comum, e também foi comum ao ex-presidente quase toda sua vida. Mas, os preconceitos de classe são mais visíveis do que podem fazer parecer os jornalistas de boca alugada.
Para todos que estão no acampamento a prisão de Lula é política e não se sustentará. Mas, se ele permanecer preso, não será deixado sozinho. A luta seguirá e tomará o rumo que a conjuntura apontar. Por enquanto é de resisitência pacífica.
A elite (direita) brasileira fez uma jogada de risco. Agora é acompanhar e ver onde isso vai dar, porque às vezes, é só estalar uma pequena fagulha e tem início o fogaréu.
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Elaine Tavares é jornalista.
Os grande líderes sempre crescem na adversidade e o Lula não é diferente, pois já provou todo seu carisma pelo mundo. A justiça brasileira também está em xeque, principalmente o tal stf (letras minúsculas mesmo não merece nenhum respeito!!) teve oportunidade de pelo menos respeitar os preceitos básicos da CF/88 no seu “artigo 5º, inciso LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” e julgar os réus de acordo com o que está escrito, para mim seria o mínimo e não necessariamente em razão de ser o Lula, mas de todos que tiveram a infelicidade de passar pela mão de um jurista daqueles. Julgar por conveniência é o fim da história!! Dizem que a esperança é a única que morre, mas morre e no Brasil atual não tenho mais esperança de tudo se ajeitar!!