É o fim do livro? Viva o livro

Por Mouzar Benedito.

— O brasileiro lê cada vez menos, conforme diz muita gente. É certo que, com exceção dos best-sellers lançados com um baita esquema promocional, as tiragens dos livros no Brasil diminuem, em vez de aumentar. Mas o número de edições cresce. Quando o Brasil tinha 70 milhões de habitantes, a tiragem inicial de um livro de autor não famoso era de 3 mil exemplares. Nessa época estive em Cuba e me espantei com os números de lá. Livros simples começavam com 100 mil exemplares, num país com pouco mais de 10 milhões de habitantes.

É que lá havia uma proporção de leitores muito maior do que aqui, o que barateia o livro pelo volume publicado. Além disso, fora os de arte e alguns que exigem tratamento gráfico mais apurado, custam pouco porque são de papel-jornal. O que interessa é o conteúdo. E lá não tem um monte de atravessadores até chegar ao leitor.

Aqui, quem lucra menos com os livros é o escritor. Até 60% do preço de venda vai para livreiros/distribuidores. Publiquei muitos, mas se dependesse deles para viver já teria morrido de fome há muito tempo. E não estou usando força de expressão, a coisa funciona assim mesmo.

Ah, falei das tiragens iniciais quando o Brasil tinha 70 milhões de habitantes. Quando tínhamos 120 milhões, baixaram para 2 mil. Mais recentemente, com 170 milhões de habitantes, baixaram para mil exemplares. E logo em seguida para 500! Agora, existe um sistema de impressão que permite menos ainda. Há ­edi­­to­ras publicando 100 ou 200 exemplares e outras nem isso. Quando alguém faz uma encomenda, imprimem meia dúzia de exemplares.

Claro que isso encarece. Quanto menor a tiragem, mais caro fica. Então é um círculo vicioso: o livro custa caro porque a tiragem é pequena e a tiragem é pequena porque o livro custa caro e poucos podem comprar. Mas não é só isso. Muita gente acha normal pagar, por exemplo, R$ 200 ou mais para assistir a um show e considera caríssimo um livro de R$ 40 ou R$ 50.

Agora, contraditoriamente, nunca vi tanta promoção de eventos ligados a livros. Alguns monstruosos (em volume), como a Bienal do Livro de São Paulo, mas lá a gente só vê fila no banheiro das mulheres e nos caixas de lanchonetes. Para comprar livros não há filas. Pouca gente vai lá pra isso.

Mas em São Paulo mesmo há muitos outros eventos, como a Primavera dos Livros, feita por pequenas e médias editoras, e uma feira pra valer, onde as pessoas vão para comprar mesmo, no prédio de Geografia e História da USP, com descontos de 50%.

Há também no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre… Num monte de lugares. A cada ano, a gente fica sabendo de novas feiras ou festas literárias em todos os recantos do Brasil.

No entanto, parece-me que nas cidades menores são mais bem-sucedidas. Bom, é preciso levar em conta também o formato. Falam muito bem da Festa Literária Internacional de Parati (Flip), em que nunca estive. Em Palmas, capital de Tocantins, cidade com pouco mais de 200 mil habitantes, a feira anual do livro recebe quase 500 mil pessoas, porque as cidades do interior, carentes de livrarias, lotam ônibus de gente para ir lá ouvir palestras e comprar livros.

Participei e gostei de feiras em Ribeirão Preto e Poços de ­Caldas e de um evento menor, mas bom, no Circuito das Águas, em Minas. E, quando esta revista chegar ao leitor, já terei participado de uma nova que me enche de curiosidade e interesse, a Festa Literária do Sertão de Jequié (Felisquié), na Bahia, entre 29 de novembro e 1o de dezembro.

Enfim, no meio do discurso de que a era do computador e da internet vai acabar com o livro impresso, parece que tem muita gente teimosa no Brasil, não é? Ainda bem.

Ilustração: Vicente Mendonça

Fonte: Rede Brasil Atual

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