É “extremamente improvável” que coronavírus tenha sido criado em laboratório, diz OMS após missão à China

Pesquisadores que participaram da missão à China, que investigou origem do coronavírus, acreditam que há um "elo perdido" entre o animal infectado - possivelmente um morcego - e a contaminação em humanos

Mercado em Wuhan, na China, onde teria se originado o coronavírus. Foto: Reprodução

Por Plínio Teodoro.

Uma tese defendida pela ultradireita no mundo – e propagada em grupos de apoio a Jair Bolsonaro no Brasil – foi praticamente refutada pela missão de pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) que esteve na China investigando a origem do coronavírus.

“A equipe visitou vários laboratórios em Wuhan e considerou a possibilidade de o vírus entrar na população humana como resultado de um incidente de laboratório. No entanto, não acredito que esta avaliação tenha sido extensa o suficiente. Mais dados e estudos serão necessários para chegar a conclusões mais robustas. Embora a equipe tenha concluído que um vazamento de laboratório é a hipótese menos provável, isso requer uma investigação mais aprofundada, potencialmente com missões adicionais envolvendo especialistas especializados, que estou pronto para implantar”, disse os líderes da missão, Peter Ben Embarek e Liang Wannian, ao apresentarem o relatório nesta terça-feira (30), que considera “extremamente improvável” que o vírus tenha sido feito em laboratório.

Os pesquisadores, no entanto, reclamaram à dificuldade de acesso a “dados brutos” sobre a origem do vírus, que teria sido dificultado pelo governo chinês.

“Em nossas discussões, especialistas internacionais expressaram as dificuldades que encontraram para acessar dados brutos. Espero que futuros estudos colaborativos incluam um compartilhamento de dados mais oportuno e abrangente”, afirmou no Twitter o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Morcego
Segundo o relatório, o primeiro caso detectado da Covid-19 foi registrado em 8 de dezembro de 2019 em Wuhan, na China, mas a origem da contaminação remontaria ao mês de setembro do mesmo ano.

O relatório sugere que o vírus SARS-CoV-2 pode ter circulado por “várias semanas” antes de ser detectado pela primeira vez em humanos.

Pesquisadores apontam que é “possível ou provável” que o vírus tenha se originado em animais que fazem parte da cadeia alimentar. De acordo com o documento, o animal que transmitiu diretamente o vírus para o ser humano poderia ser o morcego, um animal que sabidamente carrega uma grande proporção de vírus passíveis de transmissão ao homem.

O relatório, no entanto, também deixa aberta a possibilidade de que um pangolim ou um vison (ambos mamíferos comuns na Ásia) tenha sido o animal que infectou um ser humano com o vírus.

As conclusões também apontam que seja “muito provável” que haja um “elo perdido” entre o animal infectado e a contaminação em humanos, devido ao fato que os vírus encontrados em morcegos relacionados ao SARS-CoV-2 têm diferenças significativas.

O documento menciona que o número crescente de animais suscetíveis ao SARS-CoV-2 inclui animais silvestres domesticados em fazendas. Isso, de acordo com os pesquisadores, “leva a vias de transmissão complexas que podem ser difíceis de desvendar”.

Mercado de Wuhan
O relatório aponta ainda a possibilidade de que a contaminação de humanos tenha começado em animais vendidos em mercados de Wuhan, no entanto não o ponto certo de infecção ainda não foi detectado.

Muitos dos primeiros casos de covid-19 relatados estão associados ao mercado de Huanan, em Wuhan, que seria a fonte do surto de coronavírus. No entanto, pesquisadores salientam que “não há uma conclusão firme” sobre o papel que esse lugar desempenhou na origem da pandemia.

A pesquisa sugere que o vírus pode ter chegado ao mercado de Wuhan a partir de fazendas de vida selvagem que abastecem o mercado e onde uma maior prevalência de SARS-CoV-2 foi detectada em morcegos.

Quando o primeiro surto foi detectado, o mercado de Huanan estava recebendo produtos de origem animal de 20 países, incluindo alguns onde casos positivos de SARS-CoV-2 foram relatados no final de 2019.

 

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