E eu não sou uma mulher? Por Michele dos Santos Xavier.

Desde que privadas de suas liberdades e jogadas nas senzalas, as mulheres negras jamais deixaram ou puderam pensar em deixar o trabalho, escravizado ou explorado. Eis que ainda buscam um lugar onde sejam devidamente remuneradas. #DiaInternacionaldaMulherNegraLatinoAmericanaeCaribenha

Foto: Sojourner Truth (autor original) Biblioteca do Congresso (digitalização) (Biblioteca do Congresso), [Domínio público], via Wikimedia Commons

Por Michele dos Santos Xavier.*

Inicio este texto com a icônica frase atribuída a Sojourner Truth que fez uma intervenção na Women’s Rights Convention em Akron, Ohio, Estados Unidos, em 1851, quando suas inquietações se tornaram públicas em razão da constatação de que a vida e a luta de mulheres brancas são muito diferentes da vida e luta de mulheres negras.

De lá para cá, continuamos a perceber que as mulheres brancas aspiraram e lutaram por entrar ao mercado de trabalho, não desejando ter no casamento sua única opção de vida. Foram muitas passeatas, cartazes e ativismo político para que a independência financeira viesse por intermédio da sua inserção no trabalho remunerado.

Mas, para as mulheres negras não ocorreu da mesma forma. Eis que estas, desde que privadas de suas liberdades e jogadas nas senzalas, jamais deixaram ou puderam pensar em deixar o trabalho, escravizado ou explorado. Eis que ainda buscam um lugar onde sejam devidamente remuneradas.

Já no que se conhece sobre os relacionamentos, casamentos, etc. A solidão da mulher negra e a constituição de famílias monoparentais, que são gerenciadas por mulheres negras também é um padrão nas casas brasileiras, em especial nas periferias.

E, por fim, saindo da seara do mercado de trabalho e adentrando às violências, o Brasil trouxe recentemente dados sobre casos de estupro (FBSP) onde foi constatado que perfil das vítimas é composto por meninas (88,2%), negras (52,2%), de no máximo 13 anos (61,6%).

Então, o que se conclui é que não estão seguras, bem remuneradas e tampouco plenamente livres.

Existem diversos motivos a comemorar? Sim: a luta, coletiva e perene.

Michele dos Santos Xavier é advogada feminista e antidiscriminatória, integrante do Fórum da Mulher Caxiense, Presidenta do COMUNE e Presidenta do Instituto Imo-Arandu.

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