Por Michele dos Santos Xavier.*
Inicio este texto com a icônica frase atribuída a Sojourner Truth que fez uma intervenção na Women’s Rights Convention em Akron, Ohio, Estados Unidos, em 1851, quando suas inquietações se tornaram públicas em razão da constatação de que a vida e a luta de mulheres brancas são muito diferentes da vida e luta de mulheres negras.
De lá para cá, continuamos a perceber que as mulheres brancas aspiraram e lutaram por entrar ao mercado de trabalho, não desejando ter no casamento sua única opção de vida. Foram muitas passeatas, cartazes e ativismo político para que a independência financeira viesse por intermédio da sua inserção no trabalho remunerado.
Mas, para as mulheres negras não ocorreu da mesma forma. Eis que estas, desde que privadas de suas liberdades e jogadas nas senzalas, jamais deixaram ou puderam pensar em deixar o trabalho, escravizado ou explorado. Eis que ainda buscam um lugar onde sejam devidamente remuneradas.
Já no que se conhece sobre os relacionamentos, casamentos, etc. A solidão da mulher negra e a constituição de famílias monoparentais, que são gerenciadas por mulheres negras também é um padrão nas casas brasileiras, em especial nas periferias.
E, por fim, saindo da seara do mercado de trabalho e adentrando às violências, o Brasil trouxe recentemente dados sobre casos de estupro (FBSP) onde foi constatado que perfil das vítimas é composto por meninas (88,2%), negras (52,2%), de no máximo 13 anos (61,6%).
Então, o que se conclui é que não estão seguras, bem remuneradas e tampouco plenamente livres.
Existem diversos motivos a comemorar? Sim: a luta, coletiva e perene.
Michele dos Santos Xavier é advogada feminista e antidiscriminatória, integrante do Fórum da Mulher Caxiense, Presidenta do COMUNE e Presidenta do Instituto Imo-Arandu.