Por Alex Solnik, do 247.
Uma das mais carismáticas apresentadoras do “Fantástico”, co-criadora e protagonista do seriado “Doris para Maiores”, garota-propaganda de comerciais icônicos, como o da Melitta, bailarina de grupos como o Ballet Stagium, Doris Giesse revela, nessa entrevista exclusiva ao 247, como a Globo manipula a opinião pública para impor ao país ou destruir pessoas e ideias que a família Marinho deseja, como ocorreu no episódio do impeachment da presidente Dilma.
“A Globo claramente dá mais tempo e elabora um texto mais claramente favorável ou protege mais a pessoa que ela quer”. “Se há algum motivo de esculhambação”, diz ainda, “essa esculhambação é transmitida por meio de alguma pessoa. Se eles querem promover algum político, chamam atenção para alguma pessoa que está perto dele e que é ‘fofa’… ou ‘bonitinha’… ou ‘carinhosa'”.
“O carro-chefe da Globo é o Jornalismo”, afirma Doris. Para ela, “William Bonner é um canastrão”, “ele quer ser o Cid Moreira” e “poderia estar no lugar do Faustão, fácil, fácil”.
Critica a relação de Temer com a primeira-dama: “O cara já proíbe a menina de falar, que é uma coisa do tempo do onça… mas, ao menos, nas remotíssimas ocasiões em que aparece, ela poderia estar do lado dele e não acintosamente atrás”.
Afirma que Aécio Neves, com quem conviveu em 1985, é a pessoa errada no lugar errado e não mudou nada de lá para cá: “O talento dele é o blábláblá e não ser o herdeiro de Tancredo”. “Me chamou atenção a foto dele morrendo de rir com o Moro. Até com o Moro ele está de blá-blá-blá. Ele é o playboyzinho do Brasil. É um papagaio de pirata”.
Doris também conta como foi usada para ajudar a eleger o Collor e a diferença de tratamento entre os dois candidatos que disputaram o segundo turno em 1989: “Um dia em que teve uma baita chuva num comício do Collor o texto enfatizava ‘olha, teve muita chuva, mas o povo estava lá vendo o comício’. Quando se falava do Lula era: ‘Choveu no comício do Lula’. Acabou. Nem imagem tinha”.
“O Brasil continua sendo uma colônia”, afirma, referindo-se a Moro e à Globo. “A gente não é guiado por nada que é genuinamente nacional. Isso está na cara. Só não vê quem não quer”.
O que você viu na TV hoje que te impressionou?
Essas mulheres do Espírito Santo… hoje elas colocaram um tapume e uma escada na frente do quartel impedindo a saída das viaturas… e ninguém chega perto delas… e quando alguns policiais saíam elas os abordavam, queriam saber se o expediente tinha acabado ou não e até revistavam para checar se não iriam às ruas armados, para policiar… o que me causou espanto é que um rapaz que participou dos saques se arrependeu e devolveu o que roubou, o que ele fez foi uma coisa menor comparando com as mulheres que impedem seus maridos de proteger a cidade e elas não comovem pelo fato de que isso está provocando um monte de cadáveres? Elas não se tocam? Ninguém avisou a elas que tem gente morrendo? O que elas são? Intocáveis? Uma nova versão do Moro?
E que tal a atuação de Moro na Lava Jato?
Não sei como até hoje ninguém ainda parou esse rapaz. Eu nunca vi em lugar nenhum do mundo civilizado prender pessoas antes de condenar. No Mensalão teve isso também?
Não.
Outra coisa: raspa a cabeça de um sujeito que ainda nem foi condenado! Raspavam a cabeça de preso político?
Isso de raspar o cabelo é no Rio, que é uma sucursal da Lava Jato. Mas Moro não criticou essa prática, então deve concordar. O Eduardo Cunha prestou depoimento ao Moro de terno, gravata, camisa passada…
Pelo menos isso…esse juiz parece estar acima de tudo…e todo mundo no facebook amando o que ele faz…páginas e páginas com a foto dele…querem o Moro de presidente da República… quem quer o Moro de presidente do Brasil quer a ditadura! Pior do que a gente já teve. Só isso. Ele já é o comandante supremo, inclusive do Ministério da Justiça, provavelmente, porque como é o que o Ministério da Justiça permite prender antes de ser condenado?! Te cuida, Brasil!
Você acha que a Globo fez a cabeça de seus telespectadores para apoiarem o impeachment da presidente Dilma?
Isso é claro! Quem faz parte das redações da Globo sabe como funciona a edição. Os termos usados nos textos… o tamanho da matéria…os pormenores e os detalhamentos são maiores para as pessoas que eles querem colocar em evidência… isso em qualquer assunto. E aquelas pessoas que eles querem não dar importância, tratar como se fosse um assunto corriqueiro, eles só fazem uma espécie de micro-resumo. A Globo claramente dá mais tempo e elabora um texto mais claramente favorável ou protege mais a pessoa que ela quer. Na minha opinião dá impressão, inclusive, que a Globo é o presidente do Brasil. Sempre foi. Quem manda no Brasil é a Globo. Tá na cara! Isso eu senti quando eu estava lá. Então, o que acontece? As matérias que eles fazem eles tomam um cuidado maior com aquilo que eles querem favorecer. Aquilo que eles querem jogar no lixo é um “teaserzinho” de nada. Não tem o mesmo peso. Nunca teve.
Eles não esculhambam… só escondem, é isso?
Eles escondem ou então, se há algum motivo de esculhambação, essa esculhambação é transmitida por meio de alguma pessoa. Por exemplo: Fulano de tal foi acusado por tal pessoa…e essa pessoa, inclusive, é culpada disso, disso, disso… esse malandro, bandido está acusando tal pessoa disso. Por isso é que não parece que eles estão acusando. Que estão esculhambando. É alguém que esculhamba. Se eles querem promover algum político, eles pegam um comício e chamam atenção para alguma pessoa que está perto do político e que é “fofa”… ou “bonitinha”… ou “carinhosa”…Eles chamam atenção para aquilo que é cativante. Aquilo que cativa em termos de imagem eles colocam ao lado da pessoa que eles querem promover. Aquele que eles querem rebaixar eles sequer tomam conhecimento se ao redor dele tem alguém “fofa” ou “carinhosa”. Esses são os mecanismos que eles usam para ficar mais tempo no ar com tal pessoa e menos com a outra.
Quer dizer, o William Bonner, editor do “Jornal Nacional”… o editor na verdade não é ele…?
Não sei hoje em dia como é que funciona. Mas tem claramente uma política da casa de como fazer as coisas. Esses são os pilares: o repórter, o câmera-man, o editor e o apresentador. Esses quatro são pautados por uma pessoa que está acima deles e comanda: você vai fazer isso, isso, isso. O comentarista também tem um peso muito grande. E passa a ideologia da casa, sempre. Na minha época quem supervisionava tudo isso era o Carlos Henrique Schroeder, apesar de o diretor de jornalismo ser o Alberico Souza Cruz. Schroeder é que ficava na redação. Não tinha ninguém do “Fantástico” ali. O “Fantástico” era, na verdade, um programa jornalístico “enfeitado”. Não era um programa de variedades. Tanto é que quando o Boni me colocou no “Fantástico”… por que ele me colocou lá? Porque eu tinha a voz e a credibilidade de uma Márcia Mendes e o brilho e o carisma de uma Sandra Bréa, como ele mesmo me disse. Esse era o perfil necessário para esse tipo de programa.
Pelo que você vê hoje a Globo protege o Temer?
Posso ser sincera? Eu não assisto a Globo, eu assisto a Globo News.
Mas é a mesma coisa…
Como a Globo News é uma espécie de sucursal da Globo a gente percebe que os comentaristas de política e de economia… de economia, então, nem se fala, chega a ser flagrante… eles falam de um jeito ridiculamente favorável àquilo que a Globo quer.
O que você percebe?
Por exemplo: eu não vou citar o nome, mas tem uma pessoa, que é comentarista de política que, quando o Temer foi empossado ou quando anunciou as primeiras medidas ela falava: “Ele está claramente querendo tirar o país da crise…ele está claramente querendo salvar a economia”… Então, a maneira como ela falava – é uma mulher – a maneira como ela falava sobre Temer estava na cara que ela queria incensar o cara! Você nota a empolgação dela no assunto, sem falar no texto e no tamanho do comentário.
E o que você me diz do Temer?
O que eu acho do Temer e que é uma coisa muito gozada é que os poemas dele são… eu não sei que editora foi essa que aceitou publicar os poemas. Mas tudo bem. Agora, a outra coisa engraçada é ele fazer a linha “sou um papai ativo”, falo daquela foto dele buscando o filho na escola, não esqueço até hoje, e deixando a mulher dele trezentos passos atrás. Ele não quer saber de mulher do lado jamais.
A tradição secular dos libaneses é ter um harém… (N. da R. ?) e as mulheres serem submissas…ele descende dessa tradição…
Eu não sei se ele tem um harém, eu só acho que ele podia disfarçar, ela já não aparece muito, o cara já proíbe a menina de falar, que é uma coisa do tempo do onça… mas, ao menos, nas remotíssimas ocasiões em que aparece ela poderia estar do lado dele e não acintosamente atrás. Já que ele é todo empolado para falar por que não é empolado com a mulher também?
Ele é todo durinho, parece aquele boneco Playmobil…
Ele é todo durinho, então…mas é o jeitão dele.
Mas, voltando à Globo…você assiste ao Jornal Nacional?
Eu não aguento ver o William Bonner piscando o tempo todo, um flagra de que não é autêntico.
Tal como o Aécio…
Ele é muito canastrão…
Faz aquela voz empostada…não fala com a voz dele…
Ele quer ser o Cid Moreira, ele está muito preocupado com isso, ele quer ser o grande Cid Moreira. Não precisa, né.
Só que o Cid Moreira é natural.
É. Você encontra com o Cid Moreira e ele é assim.
O Bonner faz a voz para o Jornal Nacional… e aparece em vídeos na internet fazendo piadinhas, imitações…
Eu já fiz alguns trabalhos para rádio com ele e eu não conseguia parar de rir o tempo todo. Ele é um palhaço! Ele poderia estar no lugar do Faustão, fácil! Ele ia ser um ídolo nacional se estivesse no lugar do Faustão! Mas tudo bem, eu não sou diretora de estúdio nem nada. Mas que a Globo News parece a escolinha da Globo, parece. Até hoje. Tirando o William Waack, o Jorge Pontual, o Lucas Mendes, a Maria Beltrão, Sílio Bocannera, o Donny de Nucci…
Parece nome de cantor italiano…(risos)
Mas é craque, o menino tem talento. Ele nasceu para isso. A gente nota que ele gosta de se aprofundar, ele se preocupa com a notícia. O resto todo é ensaio… eles colocam gente crua no ar… eles colocam gente que não tem nada a ver… além disso, algumas apresentadoras falam com sotaque carioca muito carregado (e olha que eu sou carioca), o que não é admissível numa emissora nacional…e o que cai de matéria por falha técnica é uma grandeza… na Globo isso dava demissão sumária! Ah, tem mais um programa que imita o Actor’s Studio que é bom… como é que é o nome?
Esse programa eles limaram na semana passada, por aí.
Você tá de brincadeira!
Demitiram a apresentadora, a Bianca Ramoneda…
Ela é um gênio! Assim como fizeram com o programa da Bete Pacheco…A Globo News parece uma coisa muito amadora, eles colocam aprendizes no ar. O tempo todo. E programas ótimos, como o “Navegador”, que era a minha cara e da Dorfe, eles tiram.
E é um canal pago, os assinantes deveriam ser melhor tratados.
Claro, deveria ser o contrário, deveriam ser programas especiais, com os melhores profissionais. Aliás, esqueci de mencionar entre os craques a que faz o “Entre Aspas”…
Mônica Waldvogel…
Isso. Esses programas especiais é que deveriam ser os carros-chefes…a gente não tá pagando? Eu quero pagar o melhor!
É um absurdo colocar principiantes numa TV por assinatura…
É, e aí você vai para a TV Cultura, que é a melhor…pelo menos você fica mais à vontade para ver o telejornal ali…mas, se eu quero saber alguma coisa eu não posso ver televisão. Porque acabo vendo só o lado desprezível, acabo vendo que a maquiagem está errada, a luz está errada e, principalmente, a direção artística que não corrige os defeitos dos apresentadores. Se eu quero saber o que está acontecendo, eu tenho que ler. É o único jeito de eu prestar atenção. Porque em termos de televisão… agora, por outro lado, tem uma coisa positiva da idade: hoje em dia, se me convidassem, eu faria telejornal de novo. Porque a maturidade só melhora a percepção das coisas. Se eu tivesse que fazer um jornal à la Maria Beltrão… à la Maria Beltrão não sei, mas o hard news, por exemplo, eu faria com o pé nas costas. Lindamente. Por que? Porque eu estou madura, não danço mais, a dança não é 90% do meu dia mais. Ao contrário, hoje eu fico o dia inteiro no twitter… eu faria hoje um “Globo Repórter”, se eu tivesse que fazer, porque do que eu gosto mesmo é de ciência… mas, enfim… hoje, sim, se me convidassem para fazer uma coisa mais pesada, hoje eu faria. Hoje eu estou talhada pra isso. Mas a televisão brasileira não põe pessoas maduras no ar. Só coloca moçadinha. É uma coisa assim… você viu o discurso do Cid Moreira na homenagem à Chapecoense?
Não.
Emocionadíssimo! Ele fez um texto maravilhoso. O Cid Moreira, na idade em que está ainda é megatop!
Só o tiraram do ar porque tem rugas…
Mas isso em outras emissoras do mundo não existe! Na Alemanha, na França, na Itália…
Todos de cabelo branco…
Quanto mais cabelo branco, mais você confia no que aquela pessoa vai dizer. Aqui é o contrário: quanto mais imaturo, mais fácil manipular e fazer o cara dizer aquilo que o Roberto Marinho quer. O que a família Marinho quer. Por que eles ganham a toda hora nos Estados Unidos prêmios com os programas deles? Por que será? Não sei. Alguma coisa que o Jânio Quadros em 1961 já tinha percebido…
Foi a Time Life quem financiou a Globo, não esqueçamos…
Por aí a gente percebe que o Brasil continua sendo uma colônia…sabe o que o Temer deveria fazer? Já que o Trump fechou as portas para os imigrantes por que ele não abre? O Brasil não é uma mistura de raças e tudo isso? Abre as portas para os refugiados!
Já tem muito refugiado aqui…
Tudo bem, eu sei, mas eu quero dizer em termos de propaganda nacional. Ele deveria fazer nos jornais essa propaganda do bem, assim ele teria votos. Em vez disso, ele compra sapato chinês lá na China! Aquela história foi terrível…
Ele é um desastre…
Deixa pra lá. Eu vou lendo, vou lendo e vou ponderando a ideia, cada vez mais, de pegar meu passaporte alemão e mudar de país.
Acho que você nunca falou tanto de política como nessa entrevista…inclusive a política da Globo…
Eu acho que devo ser a primeira pessoa que conta como funciona a manipulação de texto, a edição, a utilização de uma pessoa num meio de comunicação. Eles usam para colocar no ar aquilo que eles querem para o Brasil.
Eles tiram a personalidade da pessoa…
Claro! Eles querem aquele talento usado para o que eles querem. Aquilo que eles querem impor. Isso é que é duro. E só você, que sofre essa mudança de “pasta”, digamos assim, entende isso. Ninguém contou até hoje! Para você ter uma ideia, em algumas entrevistas em que eu falava dessa história de mudança, de tirar a Dorfe do ar porque o Alberico impediu, nunca ninguém publicou! Ninguém deu manchete disso! Por que? O povo tem medo da Globo? Como é que é o negócio? Eu não tenho medo de nada! Se eu tiver que ter medo do Brasil, eu vou pra Portugal! Ou Alemanha. Eu tenho passaporte alemão.
As pessoas preferem acreditar naquela falsa versão de que você foi demitida da Globo porque saiu nua na “Interview”…
Não tem nada a ver. Isso aconteceu depois que eu já tinha falado pro Boni “ó, vou pendurar minha chuteira, não quero mais”. Tanto que ele foi na festa da “Interview”. Se ele não tivesse gostado das minhas fotos ele não estaria na festa. Ou estou errada? Eu não teria ligações com a família dele, não teria trabalhado com o irmão dele se fosse o contrário. Eu nunca fui banida da Globo.
E o Aécio, a Globo protege? Como se explica o sucesso dele? Quase ganhou a última eleição…
Sei lá…talvez o talento social dele o tenha levado a tal ponto…porque na trajetória política dele eu não vejo nada…não vejo que ele tenha criado tal coisa… que tenha resolvido um problema… Ele está usando o talento social que tem. Ele é uma pessoa muito cativante.
Charmoso?
Charmosíssimo! Ele tem o talento de ser engraçado… cativante… toma lá dá cá…ele tem um nhe-nhe-nhem bom…Também é muito óbvio, desde que eu o ajudei no primeiro discurso que, além de continuar não tendo discurso próprio, ele não é natural, até hoje.
É forçado, né.
Até hoje ele usa jargão político por pura adesão. Ele não é natural em nada. Mas nem na própria campanha ele foi. Desde o dia em que ele pediu a minha ajuda no seu primeiro discurso até hoje não houve melhora. Compara ele com o Lula falando. Compara com o Serra. Quando o Serra fala é ele mesmo falando. É a vontade própria falando. Compara com a Erundina. Com Jean Willys. Eles são eles mesmos falando, é isso que convence o público. Por aí você vê como a máquina da mídia manipula o voto. Se uma pessoa é mais favorecida na mídia, sendo ou não natural ela acaba emplacando. A mentira acaba virando verdade. Por insistência. É disso que as pessoas não se tocam. Na mídia também predomina a falta de naturalidade. O único programa natural da face da terra é o Estúdio i, da Globo News. A Maria Beltrão é ela mesma…todos que estão ali são eles. Tirando fora essa única exceção que de vez em quando sofre até umas “podadinhas” que a gente percebe, os outros todos são, assim, antinaturais para dizer o mínimo… Eu vou dar um exemplo e agora eu vou citar. Aquela menina do “Em Pauta” que é especializada em Cultura, a Bete Pacheco, de vez em quando substitui alguém como apresentadora. Não convém! Ela não foi talhada para isso! Ela não lêteleprompter naturalmente. No que ela é craque, mas craque mesmo é em Cultura. Ela pode ter até um programa próprio de Cultura, como já teve. É isso. As pessoas têm que estar na “pasta” delas, assim como eu também. Se eu tivesse que fazer alguma somatória em termos de informação seria falar sobre arte, entrevistar as pessoas desse mundo, principalmente da dança. Essa é a minha “pasta”. É onde tem os quadrinhos, foi onde eu imaginei a Dorfe. (Personagem criado por ela e por Roberto Duailibi que ela interpretou no programa “Doris para maiores” e que era um ícone que morava dentro de um computador e saía dele para interagir com pessoas do mundo real – n.r.)
Depois me explica por que a Globo acabou com esse programa que dava tanto ibope…
Detalhe: se a Globo tivesse mantido a Dorfe no ar até hoje ela seria um dos carros-chefe! Porque a Dorfe previu, naquela época a explosão das mídias sociais. Previu a máquina 3 D. Previu um monte de coisas! Isso foi feito junto com Roberto Duailibi. E a Globo desprezou esse potencial! Essas ratas e a falta de naturalidade me espantam na televisão brasileira. Em política é a mesma coisa. O Aécio, nunca na vida dele foi ele mesmo falando. Mas nem quando ele é entrevistado! “O que o senhor acha disso…”? (Imita a voz do Aécio) “Veja bem”… Ele começa a falar jargão e eu desligo na hora! Me dá angústia porque ele não é assim. É por isso que eu digo: se ele fosse uma pessoa envolvida em eventos, em casas noturnas, em restaurantes ele seria um sucesso nacional.
Eu acho que foi a família dele que o forçou a ser “o herdeiro de Tancredo”…
Lógico! Eu lembro que já na época do Tancredo, quando eu o conheci, ele já chamava atenção: era o neto bonitão do Tancredo. Então, capitalizaram isso.
A família o empurrou…
Não sei se foi só a família ou foram também os amigos… não sei se foram os políticos do entorno da família…
“Tancredo não chegou lá, mas o neto tem que chegar”…
Tem que chegar… porque ele é bonitão…chama atenção… quer dizer, estava errado, eles se equivocaram. Colocaram o rapaz aí e aí você está vendo no que deu. Já, já ele cai. Agora, me pergunta se ele vai conseguir, se cair, retomar a vocação dele, que é de relações públicas? Ele já deve ter perdido de vista essa ideia. Lá atrás, na época em que ele saía com todo mundo lá no Rio de Janeiro, era sócio, se não me engano de empresários da noite, era naquilo ali que ele tinha que focar. Ele ia ser feliz e autêntico. E ele continua sendo o playboy do Brasil lindamente. Podia fazer a loucura que quisesse! Não ia ser vigiado, nada.
Ele está no lugar errado?
O colocaram na “pasta” errada!
A pessoa errada no lugar errado…
Por isso é que eu digo: eu não sou contra o Aécio. Agora, eu gostaria de tê-lo visto fazendo aquilo para o que ele foi talhado. Seria um talento, que foi desperdiçado.
Você conheceu o Aécio por causa da Globo?
Não, eu conheci o Aécio porque eu fiz um desfile… o último desfile das roupas do Markito… algumas modelos foram chamadas para Uberaba para fazer o último desfile das roupas icônicas do Markito. E eu fui porque eu gostava disso. E eu era modelo do Marcelo Beauty. Isso foi muito antes da Globo. E nós ficamos hospedadas na fazenda de um amigo do Aécio. Na época, o Aécio tinha recém perdido o pai. E já estava trabalhando a figura política dele. Eu me lembro que o primeiro discurso de campanha dele a deputado federal fui eu que li… ele perguntava se estava bem escrito…Eu ficava embaixo do palanque nos comícios porque eu não podia aparecer. Porque para o grupo dele, um jovem político atraente tem que permanecer solteiro para continuar atraente em termos de voto.
Como ele era?
Ele era um bon vivant. Essa era a pegada legal dele. Os amigos dele eram os mais engraçados, a gente viajava, a gente se encontrava… Era essa parte do Aécio com a qual eu me relacionava. E que me atraía. A parte política dele tanto faz, tanto fez. A única coisa que eu sei é que eu era uma espécie de bibelô…ele me levava a vários lugares… ao Palácio do Planalto… aos restaurantes mais badalados…ele me levava junto para fazer um H.
Por meio dele você conheceu muitos políticos?
Conheci… conheci o Ulysses Guimarães… conheci muita gente…eu era uma espécie de chamariz… para atrair olhares…essa era a sensação que eu tinha…Eu me lembro que na época o próprio Aécio dizia que a irmã dele era uma pessoa chave na sua carreira.
Andrea Neves?
Sim, a irmã dele era a grande cabeça. Na época em que eu conheci o Aécio eu estava em vários comerciais, era uma fase em que eu fazia muitas capas de revista…
Como você vê o Aécio hoje?
Eu vejo como o vi desde o começo: é um papagaio de pirata… ele gosta de estar nas fotos…aquele dia da posse do Temer eu morri de rir… o que que era aquilo? Ele do lado do Temer sem ser ministro.
Na época em que vocês estavam juntos ele já gostava de ser papagaio de pirata?
Claro! Por que ele queria passear para todo lado com a menina que aparecia nos comerciais e nas capas de revista?! É o cara que quer estar no palco, isso está na cara.
Daquele tempo para hoje ele não ganhou nenhuma consistência?
Você viu alguma coisa que ele tenha implementado? Da cabeça dele? Que não sei, aliás, se é a cabeça dele ou continua sendo a da irmã. Você sabe alguma coisa que ele implementou que tenha chamado atenção? Eu me lembro que quando eu estava com ele, ele me disse uma vez: “Sabe a ideia que eu tive? Fazer campeonato de futebol de não índios contra índios”… Depois que eu terminei o namoro me disseram que isso já existia…A primeira viagem que eu fiz na minha vida para Vermont foi com o Aécio. Eu me diverti muito, porque a turma dele é engraçada, são todos muito legais, é um grupo muito cativante. Tudo aquilo que é engraçado me chama a atenção, sou uma pessoa que gosta de humor. Acho, inclusive, que o Aécio, hoje, teria muito mais visibilidade se fosse uma espécie de Ricardo Amaral 2. Dono de casas noturnas… como uma época ele quis ser…Ele tem muito talento para isso. E não para ser “o neto do Tancredo”, pendurado no cabide forçoso da história. Ele deveria ter enveredado pelo talento social que ele tem. Esse é o talento do Aécio…
Relações públicas?
É lógico! Eu não estou querendo dizer nada contra nem a favor dele. Essa coisa de ele andar com alguém atraente nos restaurantes de Brasília é típico de um bon vivant que sabe fazer festa! Ele tinha que ter capitalizado isso para ser dono de casas noturnas.
Você imaginava que um dia ele seria candidato a presidente da República?
Jamais! Um cara que passa mal num voo e por ter um passaporte diplomático faz o avião voltar pro aeroporto e fica dormindo 24 horas no aeroporto até o próximo voo não tem perfil de político! Quem é político não age assim!
O que aconteceu?
Ele tinha tido algum problema que eu não sei direito…não lembro o que foi… foi uma reação…ele passou mal no voo… ficou amarelo…
Vocês estavam indo para onde?
Para Nova York. O avião já estava alto quando ele começou a passar mal…e o voo voltou por causa dele… porque ele tinha passaporte diplomático…
Quando foi isso?
Em 1985…86…foi a coisa mais engraçada da paróquia! Eu mesma não entendi. Como eu estava do lado dele como namorada fiquei morrendo de vergonha… achei esquisito o tratarem a pão-de-ló… eu já vi pessoas com síndrome de pânico num voo e o avião não voltou… eu mesma já passei mal em avião e continuei a viagem…porque, imagina, todos os passageiros olhando pra gente… putos… e não é que ele tivesse tido um ataque cardíaco ou alguma coisa assim…Ficamos dormindo todos no aeroporto…a turma toda… a turma da pesada…como ele estava mal, não tinha como ir pra lugar nenhum…era final de ano…como é que pode parar um voo para Nova York por causa de um simples mal-estar??? No dia seguinte embarcamos de novo, belos e formosos e refeitos.
O que mudou na tua vida quando você foi pra Globo?
Pode se dizer que já começou na Band. Mas na Band eu tinha um perfil artístico preservado. Eu apresentava a “Sala Philips de Cinema”… o “Carlton Cine”…de uma maneira muito criativa. E os próprios textos na época, do Paulo Leminsky, no “Jornal de Vanguarda” eram textos poéticos. Tinham uma roupagem metafórica. Depois, na Globo, virei apresentadora de telejornal.
Quem te colocou para apresentar o “Fantástico”?
O “Fantástico” seria apenas um adequador de imagem, porque eu fui contratada para fazer o “Doris para maiores” originalmente. Quando a Globo chama uma pessoa, até essa pessoa estrear ela costuma participar de vários programas e ter uma participação “provisoriamente fixa” em algum outro programa, imediatamente, para o rosto dela ficar misturada com os outros artistas da Globo rapidamente. Eu ia ficar no “Fantástico” alguns meses, até o meu programa estrear. O que deu uma virada total nesse roteiro é que no dia seguinte à minha estreia no “Fantástico” a Glorinha Beutenmuller disse que eu era um espetáculo, que eu tinha muita credibilidade, tinha uma voz absolutamente cristalina e eu virei “a melhor apresentadora da temporada”. De qualquer modo, logo depois o “Doris para maiores” começou e dava picos de ibope incomparáveis. Era para ter sido um “Globo Repórter de vanguarda”, mas não rolou porque a turma lá dentro falava assim: “o telespectador da Globo não vai entender isso”. O que é subestimar o público. Eles preferem nivelar por baixo. Na época da reta final da campanha de Fernando Collor a presidente da República o Alberico me chamou e disse: “Olha, nós vamos parar com o seu programa porque ele arranha a credibilidade do ‘Fantástico’. Quando aparece uma chamada do seu programa no intervalo do ‘Fantástico’ fica estranho”. Esse foi o primeiro motivo. “E, fora isso, a gente precisa de você no Jornalismo”.
Ele falou exatamente assim?
Sim, foi uma solicitação do Roberto Marinho, que queria me aproveitar – já que a minha credibilidade, como foi aferido em pesquisas de agências de publicidade, ainda na época em que eu fazia os comerciais do Café Melitta era absoluta – para ficar no “Fantástico” por evidente motivo político. Por que eu concluí isso? Porque a maioria dos textos que diziam respeito à campanha do Collor eram designados para mim. Textos de “cabeça”, off, matérias, notícias, resumo. Tudo que se referia a Collor eu é que lia. Até o Collor ganhar eu era a escolhida para falar dele naquele que era o programa de maior ibope da televisão brasileira. Na época era o programa mais importante da casa. Hoje, não sei. Era o carro-chefe. Essa deliberação do Alberico, instruído por Roberto Marinho claramente ajudou a eleger o Collor. Enquanto a gente falava, digamos, cinquenta minutos de texto sobre Collor, o Lula era só en passant. Vou dar um exemplo típico. Um dia em que teve uma baita chuva num comício do Collor o texto enfatizava “olha, teve muita chuva, mas o povo estava lá vendo o comício”. Quando se falava do Lula era: “Choveu no comício do Lula”. Acabou. Nem imagem tinha. Então, estava claro para o que é que eu estava ali. A casa queria o Collor. Tanto que eu era convidada para ir nas festinhas…
Na casa de quem?
Na casa do Boni, na casa da Lilibeth Monteiro de Carvalho, por exemplo, que era a ex-mulher do Collor. Me chamavam para as festas da sociedade frequentadas por essa turma bem do eixo da família do Roberto Marinho. Eu não ligava muito para isso porque meu negócio era a dança. Eu saía do “Fantástico” e ia pro teatro dançar. Minha vida era de bailarina, no “Fantástico” eu prestava serviço sob contrato. Nunca fui uma pessoa deslumbrada com a Globo.
Você acha que a Globo te usou para eleger o Collor?
Claro! Isso é óbvio!
Todo “Fantástico” tinha matéria sobre o Collor?
Claro!
E o Boni não disse nada quando o Alberico decidiu que você deveria ficar só no “Fantástico”?
Eu me lembro muito bem que, quando Alberico tomou essa decisão o Boni ficou com cara de tacho. Ficou mudo. Ele não tinha o que dizer. Na cabeça dele, ele não concordava. Mas teve que aceitar.
Mas o Boni não era o chefão?
Não. Quem manda na Globo é o Jornalismo. É a filosofia da casa, é a escolha da casa.
E quem mandava no Jornalismo era o Roberto Marinho?
Claro!
Isso me lembra uma declaração da ex-primeira dama Dulce Figueiredo à “Interview”: “O Jornal Nacional são as mentiras do Roberto Marinho”.
A parte artística é a parte comercial. Onde entra a grana. Aliás, no Jornalismo também. Mas o setor de entretenimento é mais um coletor de grana. E conquistador de público. E nisso a Globo era – e é – nota 1000! Eu saí da Globo exatamente por isso, porque a minha hashtag não era jornalismo, era arte. Eu saí de lá porque tinha sido contratada para a linha de show e eles quiseram que eu ficasse no “Fantástico”. Eu saí no final do contrato, fui para Londres dançar. Quando Collor já tinha dançado…
Quer dizer que você ficou no “Fantástico” durante todo o governo Collor?
Fiquei. E continuei narrando as matérias sobre ele. Os outros também falavam, mas a maioria dos textos caía para mim. Mas eu nunca dei peso a essas coisas. Assim como eu anunciava as grandes atrações. Como o lançamento de um clipe do Michael Jackson, por exemplo. Mas eu não ligava para isso. Eu não vivia na Globo. A maioria das pessoas que entrava lá costumava visitar muito o sétimo e o oitavo andares, onde ficava a diretoria, para fazer amiguinhos. Eu nunca fiz isso. A única pessoa com quem eu me relacionava por motivos de identificação ideológica, digamos assim, era o José-Itamar de Freitas que foi diretor do “Fantástico”. Naquele tempo não me lembro se ainda era. O outro amigo meu era o Maurício Sherman.
O Boni já não era tão poderoso na tua época?
O que eu sei é que naquela época houve uma mudança de carro-chefe da Globo que passou a ser o Jornalismo. Qual era o grande tra-lá-lá da Globo? A novela ou o Jornalismo? As novelas continuavam acontecendo, os programas de humor continuavam acontecendo, mas o grande must da Globo sempre foi, de lá para cá, o Jornalismo. Ele tomou a dianteira, claramente. Quem está na casa, sente os movimentos.
Você saiu da Globo por ter ficado chateada pelo uso político da sua imagem e da sua voz?
Não fiquei chateada com isso. Aquilo simplesmente não me interessava. Por acaso eu fui contratada para ficar no “adequador de imagem”?
Você não queria ficar no “Fantástico”?!
Lógico! Eu me lembro que, na época, quando me perguntavam porque eu saí da Globo eu dizia “porque não quero ser balconista”.
Mas você não podia fazer só o “Doris para maiores” em vez do “Fantástico”?
Não existia mais o “Doris para maiores”. Eu não estava mais na minha turma, que era a do Guel Arraes, e era a ideal para mim.
Eu sempre achei que o “Doris para maiores” acabou quando você saiu da Globo…
Não! Foram apenas 11 programas. Acabou porque o Alberico decidiu que eu tinha que ficar no “Fantástico”. Ele não deixava que uma pessoa que estivesse num programa jornalístico estivesse num programa de humor ou de show. Ele pode ter até razão. Só que o “Fantástico” não era o meu programa.
Quer dizer que foi o Alberico que acabou com o “Doris para maiores”?
Isso… exato…
Apesar do ibope que dava…
Exatamente… era uma coisa louca… ninguém entendeu… Foi aí que eu senti que o que mandava na casa era o Jornalismo, e não o ibope. Não é a grana que está entrando. Não interessa. A grana entra de qualquer jeito.
Você acha que o Aécio vai ser eleito se for candidato de novo e a Globo ajudar?
Eu acho meio difícil…se a Globo está escondendo as denúncias da Lava Jato contra ele hoje em dia o que a Globo esconde acaba sendo revelado de outras formas…agora, me chamou atenção a foto do Aécio morrendo de rir com o Moro. Até com o Moro ele está de blá-blá-blá. É esse o talento dele. O talento do Aécio é o blá-blá-blá. É nisso que ele é professor. Também precisa saber o que o Moro quer da vida dele. Quem manda no Moro provavelmente não está no Brasil… A gente não é guiado por nada que é genuinamente nacional. Isso está na cara. Só não vê quem não quer. Mas tem muita gente vendo…
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Fonte: Brasil 247.