Fechamento de salas de leitura em escolas e sucateamento das bibliotecas públicas são exemplos de ações da prefeitura que estão na contramão do incentivo ao livro e à leitura na cidade
Foram ao menos 33 brinquedotecas e salas de leitura transformadas em salas convencionais em escolas municipais de educação infantil ainda no início de maio. O prefeito defendeu a medida para combater a falta de vagas nas escolas e afirmou que o “lazer é complementar”. Já as bibliotecas, para abrir aos domingos, estão sendo fechadas às segundas-feiras ou às sextas.
“Nos últimos meses, a gestão da cultura e da educação do governo Doria tem demonstrado que a questão do incentivo do acesso à leitura não é prioridade”, afirma Volnei Canonica, ex-diretor do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (MinC), em entrevista à repórter Camila Salmazio da Rádio Brasil Atual.
Segundo ele, essas ações de fechamento também entram em conflito com a Lei 12.224/10, que prevê a criação de bibliotecas em todas as instituições educacionais públicas e privadas até 2020. Para o especialista, além do reforço no alfabetização, a leitura oferece possibilidades de conexões e inferências, elaboração de repertório e reforço do imaginário infantil.
Para o bibliotecário João Gabriel, dirigente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo, o secretário da Cultura, André Sturm, desconsidera o processo de participação da sociedade civil na efetivação do Plano Municipal do Livro.
“A gente teve uma reunião do plano, a primeira desse ano, quando o secretário foi questionado sobre as metas colocadas e a importância de seguir aquilo que foi construído. O secretário se irritou – e isso tem sido recorrente – e disse que não era obrigado a seguir lei nenhuma”, diz João Gabriel.
Ele explica que as bibliotecas públicas são fundamentais para a efetivação das políticas de incentivo à leitura. As mudanças propostas pela prefeitura, como o fechamento de equipamentos em dias de maior movimento é, na opinião do bibliotecário, uma estratégia visando a privatização.
“Esse foi um dos principais pontos do lançamento do programa Biblioteca Viva, que eles anunciaram que fariam a abertura das bibliotecas aos finais de semana. O que eles não contaram que, para abrir aos domingos, iriam fechar às segundas ou às sextas-feiras, dias de maior circulação de público. Um público que já construiu uma cultura de visita espontânea às bibliotecas”, afirma o bibliotecário.