Dom Pedro Casaldáliga: 88 anos de luta com muita ternura

Dom Pedro

Por Lilian Brandt/AXA.

Nascido na Espanha, Pedro vive no Brasil desde 1968, quando veio como missionário claretiano. Quando chegou em São Félix do Araguaia encontrou uma situação de profunda injustiça social e imediatamente se posicionou politicamente e iniciou sua longa trajetória de luta no Araguaia.

Pedro foi nomeado bispo no dia 27 de agosto de 1971. Na ocasião, tendo como catedral um céu estrelado à beira do rio Araguaia, Pedro demonstrou seu compromisso com a causa indígena e as causas populares, utilizando um chapéu de palha ao invés da mitra (o chapéu sacerdotal), e um anel de tucum ao invés do anel episcopal. Nos pés, até hoje, um par de havaianas. Pedro é simples no que se refere à matéria e profundo no que se refere ao espírito.

Dom Pedro já foi alvo de inúmeras ameaças de morte. Durante a ditadura militar, foi alvo de cinco processos de expulsão do Brasil. Em dezembro de 2012, Dom Pedro deixou sua residência devido a ameaça de morte feita por invasores da Terra Indígena de Marãiwatsédé.

Mas a ameaça mais marcante na história de Pedro foi em 12 de outubro de 1976, em Ribeirão Cascalheira, quando presenciou o assassinato do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier. Na ocasião, Pedro e João Bosco estavam discutindo com policiais defendendo duas mulheres que estavam sendo torturadas na delegacia. Após a missa de sétimo dia do Padre João Bosco, a população seguiu em procissão até a porta da delegacia, libertando os presos e destruindo o prédio.

Naquele lugar foi erguida uma igreja, o Santuário dos Mártires da Caminhada, onde se realiza periodicamente a Romaria dos Mártires. Este ano a Romaria acontecerá nos dias 16 e 17 de julho com o tema “Profetas do Reino”, celebrando os 40 anos do martírio do Padre João Bosco, do Padre Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo.

Em 2013, Dom Pedro enviou uma carta ao Papa Francisco solicitando a defesa aos indígenas e a reconciliação da Igreja com a Teologia da Libertação. Pedro acredita e vive uma Igreja diferente, mais afinada com as palavras e atos de Jesus Cristo do que com a visão de Roma, sendo crítico à hierarquia da igreja, defendendo a ordenação de mulheres e sendo contra o celibato sacerdotal.

Casa de Dom Pedro Casaldáliga em São Félix do Araguaia. Imagem de Wilson Dias/Agência Brasil
Casa de Dom Pedro Casaldáliga em São Félix do Araguaia. Imagem de Wilson Dias/Agência Brasil

Em 2005, Dom Pedro apresentou sua renúncia a Prelazia, mas não se afastou de sua luta. Atualmente o bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia é Dom Adriano Ciocca Vasino. O Parkinson, doença que acompanha Pedro, debilitou seu corpo físico, mas não modificou em nada sua mente e seu espírito. Dom Pedro está lúcido como sempre e acompanha ativamente as causas que lhe afetam.

Mais do que a luta, o que marca a história de Pedro é seu amor pela natureza e pelas pessoas, especialmente pelos mais pobres. Como Che Guevera, a quem nosso bispo dedicou um poema, Pedro acredita “na violência do Amor”, e lembra o líder revolucionário, que disse: “é preciso endurecer-se sem perder nunca a ternura”.

Viva o Pedro!!!

Fotos: Wilson Dias/Agência Brasil.

Fonte: AXA.

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