Por Barbara Pettres.
Conduzido pela arqueóloga Walderes Coctá Priprá e dirigido por Barbara Pettres, Flávia
Person e Walderes Coctá, o documentário Vãnh gõ tõ Laklãnõ (2022, 25 minutos),
reconstrói, em imagens de arquivo, poemas, cantigas e entrevistas, parte da história do
povo Laklãnõ/Xokleng, que habitava os três estados Sul do país. Perseguido por bugreiros
pagos pelo Estado e por colonizadores, dizimado por doenças e mudanças no seu modo de
vida, foi praticamente extinto, restando apenas 106 pessoas nas primeiras décadas do
século XX. O título, na língua Laklãnõ, não tem tradução literal, significa algo como
Resistência Laklãnõ.
Uma coprodução Calendula Filmes, realizado com recursos do Prêmio Catarinense de
Cinema 2019 e apoio técnico NPD/IFSC Florianópolis, estreou como convidado no 26o
Florianópolis Audiovisual Mercosul – FAM 2022 e é um dos nove curtas brasileiros
selecionados para o festival É tudo verdade 2023, o mais importante festival dedicado à
linguagem do documentário na América Latina. Serão quatro exibições: 15/04 – Estação
NET Botafogo 1 (RJ) – 17h; 18/04 – Cine Marquise (SP) – 18h30; 19/04 – Estação NET Rio
4 – 14h30 e 21/04 – Sala Grande Otelo da Cinemateca Brasileira (SP) – 16h30.
O documentário retrata poeticamente alguns fatos da história, a partir do ponto de vista de
seus protagonistas: a retomada da língua, que se deu a partir da década de 1980, e o impacto da construção a partir de 1972 da Barragem Norte, maior obra de contenção de cheias do país, que resulta em inundações na Terra Indígena e provocou a divisão da aldeia
inicial, perto do rio, em 10 aldeias ao longo do território. O filme trata ainda da presença das igrejas evangélicas na Terra Indígena e a questão do Marco Temporal, do qual o povo é
protagonista.
De acordo com a tese do Marco Temporal, os indígenas só podem reivindicar demarcação
de terras onde já estavam em outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. O
julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal trata da demarcação da Terra Indígena
Laklãnõ, a partir de um processo movido pela Fundação do Meio Ambiente de Santa
Catarina – Fatma (atualmente IMA – Instituto do Meio Ambiente) contra a Funai. O
julgamento é de Repercussão Geral, ou seja, terá impacto sobre a demarcação de terras
indígenas em todo o país.
Após o contato com os não indígenas, em 1914, período conhecido como “pacificação”
(termo não reconhecido pelos indígenas, que utilizam a palavra contato para falar desse
período), o povo ficou restrito à Reserva Duque de Caxias, no Alto Vale do Itajaí. A reserva
foi chefiada por Eduardo de Lima e Silva Hoerhann, sobrinho-neto de Duque de Caxias,
durante 42 anos, sendo afastado do cargo pelo assassinato do indígena Brasílio Priprá,
crime do qual mais tarde foi absolvido. A área atualmente é denominada Terra Indígena
Ibirama-Laklãnõ, entre os municípios de José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meirelles e
Itaiópolis. Atualmente são aproximadamente 2.800 pessoas, segundo dados da Sesai
(Secretaria Especial de Saúde Indígena), de 2019.
A pesquisa para o filme, realizada desde 2016, utilizou acervos do professor Silvio Coelho
dos Santos, um dos principais pesquisadores não indígenas sobre o povo, autor de “Índios
e Brancos no Sul do Brasil – a dramática história dos Xokleng” e “Índios Xokleng – Memória
Visual”, assim como trabalhos acadêmicos dos próprios indígenas, alunos da Licenciatura
Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica – UFSC, trabalhos do linguista e doutor
Laklãnõ Namblá Gakran, acervos da codiretora Walderes Priprá e do Núcleo de Estudos
dos Povos Indígenas (NEPI/UFSC), Arquivo Histórico José Ferreira da Silva de Blumenau,
Arquivo Público Municipal de Ibirama, Arquivo Público Histórico de Rio do Sul, Museu
Eduardo de Lima e Silva Hoerhann, Casa da Cultura de Urussanga, e o filme Colônia alemã
no Sul do Brasil, de Gunther Plüschow, de 1928. A partir da pesquisa foi criado o Portal de
Saberes Laklãnõ Xokleng (www.portaldesaberes.org), projeto contemplado com o Prêmio
Elisabete Anderle de Incentivo à Cultura – 2020, para compartilhar a cultura e identidade do povo.
Sinopse
O povo Laklãnõ era arredio, bravo, flechava mesmo. Seu território era o Sul do país. Perseguido pelo Estado, bugreiros e colonizadores, dizimado por doenças e mudanças no
modo de vida, quase foi extinto. Após o contato com não indígenas, em 1914, ficou restrito
ao Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina. Vãnh gõ tõ Laklãnõ não tem tradução literal, significa
algo como Resistência Laklãnõ, conduzida no filme pela arqueóloga Walderes Coctá Priprá.
O documentário reconstrói a história do povo e retrata poeticamente o tempo do mato, a
retomada da língua, o impacto da construção da Barragem Norte, a presença das igrejas
evangélicas e a questão do Marco Temporal, do qual o povo é protagonista.
Personagens
Walderes Coctá Priprá é professora formada em Licenciatura Letras/Português e Espanhol
pela Universidade Uniasselvi, em Indaial, e em Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da
Mata Atlântica na UFSC. É mestre em História na linha de pesquisa em História Indígena,
Etnohistória e Arqueologia, também na UFSC. É a primeira mulher indígena autorizada
pelos anciãos a produzir o Mõg, bebida tradicional do povo Laklãnõ utilizada em cerimônias,
que não era produzida desde a década de 1930. É também a primeira indígena no Sul do
Brasil formada em Arqueologia e recentemente conquistou o Prêmio de Excelência em
Mestrado 2021, concedido pela Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB). Atualmente é
doutoranda em Arqueologia na Universidade de São Paulo.
Acir Kaile Priprá (voz off inicial) é professor na escola Vanhecú Patté, na Aldeia Bugio.
Graduado na Licenciatura Intercultural Indígena (UFSC), é autor de um estudo sobre o
kóplág, ritual de previsão sagrado para o povo Xokleng. Acir é um dos criadores e condutor
da Trilha da Sapopema, na Aldeia Bugio, trilha ecológica que recebe visitantes com
explicações sobre cultura, medicina e culinária tradicional Laklãnõ.
João Adão Nunc-Nfoônro de Almeida é poeta, autor de “Vivências e sentimentos do povo
Laklãno/Xokleng – o povo Filhos do Sol”. Seus poemas sobre o contato com os não
indígenas, a violência dos bugreiros e a Barragem Norte conduzem parte do filme.
Miriam Vaicá Priprá é professora na escola Vanhecú Patté. Uma das responsáveis pela
retomada da língua materna, traduz cantigas que são instrumentos para que crianças e
adolescentes aprendam e se apropriem do idioma. Colaborou também nas traduções do
filme.
Pastor evangélico e o primeiro kujá, líder espiritual do povo, após a época do contato em
1914, Cabechuim-lo Camlém prega no idioma Laklãnõ e retoma cantigas tradicionais. É
também uma forte liderança política nas manifestações contra o Marco Temporal.
Fernando Xokleng, rapper, é estudante de Jornalismo na UFSC. Compôs o rap
Resistência, que finaliza o filme, apresentado no Levante pela Terra, em Brasília, em 2021,
que reuniu mais de 6 mil indígenas de diversos povos do país.
Trilha sonora
A trilha do filme é de Nelson D (instagram.com/nelsondofficial), indígena manauara, artista
da música eletrônica e produtor ítalo-brasileiro radicado em São Paulo. Seu estilo funde o
universo da música eletrônica com a cultura indígena.
A equipe tem ainda outros membros indígenas. A produção local, parte das imagens extras
e fotografias são de Jucelino de Almeida Filho, estudante de jornalismo e fotógrafo,
indígena Laklãnõ. Outros fotógrafos cederam imagens, Bella Kariri (entre elas a foto que
encerra o filme e do cartaz), Fernando Xokleng e Édina M?g Fe Kanhgág, do povo
Kaingangue.
Sobre as diretoras:
Barbara Pettres é jornalista e mestre em Agroecossistemas pela UFSC. Trabalha como
jornalista, fotógrafa e assessora de imprensa. Produtora e assessora de longas-metragens
(Mares do Desterro e Rendas no Ar) e documentário (Percepção de Risco). Assessora de
comunicação do festival Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM) por 14 anos, do festival
FALA São Chico e dos curtas-metragens L’Amar, Antonieta, Rio da Madre, Larfiagem e As
Rendas de Dinho. Idealizadora e proponente do documentário Vãnh gõ tõ Laklãnõ,
produtora executiva do documentário À Procura dos Vingados e diretora de produção de As
Conquistadoras. Curadora adjunta e pesquisadora do Portal de Saberes Laklãnõ/Xokleng,
revisora e assessora de comunicação do livro A retomada do Mõg, de Walderes Coctá
Priprá, ambos projetos vencedores do Prêmio Elisabete Anderle de Incentivo à Cultura
2020. Secretária da Cinemateca Catarinense (2021-2023).
Walderes Coctá Priprá é professora formada em Licenciatura Letras/Português e Espanhol
pela Universidade Uniasselvi, em Indaial, e na Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da
Mata Atlântica na UFSC. É mestre em História na linha de pesquisa em História Indígena,
Etnohistória e Arqueologia, também na UFSC. É a primeira indígena no Sul do Brasil
formada em Arqueologia e conquistou o Prêmio de Excelência em Mestrado 2021,
concedido pela Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB). Atualmente é doutoranda em
Arqueologia na USP.
Flávia Person é graduada em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos,
mestra e doutoranda em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina e
possui certificação pelo Programa de Capacitação em Projetos Culturais do Ministério da
Cultura/FGV. Atua na área cinematográfica há quinze anos, elaborando projetos,
escrevendo roteiros, produzindo e dirigindo filmes, festivais, mostras de cinema e projetos
para TV. Em Artes Visuais, atua como pesquisadora da obra do artista alemão Harun
Farocki, escreve críticas de arte e produziu a publicação da artista Juliana Hoffman,
intitulada Sobre Viventes. Trabalhou na série de documentários Memória Ativa, exibida na
Band News TV, foi parecerista técnica de projetos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de
Florianópolis e do Edital de Apoio a Projetos Culturais da Fundação Municipal de Cultura de
Lages e criou e coordenou a revista de audiovisual Lado C. Fez produção executiva de curtas-metragens premiados e dirigiu e produziu o documentário Antonieta, sobre a vida e a trajetória de Antonieta de Barros. O documentário foi selecionado em mais de quarenta
festivais nacionais e internacionais, abrangendo doze países, e ganhou o prêmio RECAM
no festival argentino Oberá em Cortos.
Coprodução
Calendula Filmes foi criada em 2019 pela produtora Carol Marins, que possui mais de 20
anos de experiência na área audiovisual. Produtora Associada do longa-metragem de ficção
Mares do Desterro, direção de Sandra Alves, da Vagaluzes Filmes. É produtora do
documentário À Procura dos Vingados, direção de Carol Marins, em pré-produção,
coprodutora do longa documentário Eglê, direção de Adriane Canan e Margot Filmes e do
curta documentário Vãnh gõ tõ Laklãnõ. Também assina a produção do Portal dos Saberes
Laklaño Xokleng. Como production service, com gestão e assinatura de Carol Marins, está
envolvida em mais de 100 projetos entre programas de televisão, séries, filmes e consultoria para projetos na área do audiovisual.
Ficha técnica
Coprodução: Calêndula Filmes
Direção: Barbara Pettres, Flávia Person e Walderes Coctá Priprá
Produção executiva: Gabi Bresola
Produção executiva de pós-produção: Caroline Marins e Barbara Pettres
Produção: Barbara Pettres
Pesquisa e roteiro: Barbara Pettres, Flávia Person e Walderes Coctá Priprá
Direção de produção: Caroline Marins
Produção local: Jucelino de Almeida Filho
Diretor de fotografia: Hans Denis
Montagem: Alan Langdon
Técnica de som: Ingrid Gonçalves
Assistentes de produção: Reno Caramori Filho, Luana Marins Caramori
Imagens complementares: Barbara Pettres, Jucelino de Almeida Filho
Still e Making of: Barbara Pettres, Jucelino de Almeida Filho
Finalização de imagem e som: Alan Langdon
Trilha sonora: Nelson D
Legenda LSE e Audiodescrição: Sansara Buriti
Legendagem: Sansara Buriti
Logagem: Gabi Bresola
Tradução: Nora Mabel Silva e Fedra Rodríguez
Intérprete de Libras: Priscila Paris Duarte
Câmera e edição de Libras: Alan Langdon
Projeto gráfico: Gabi Bresola
Assessoria de imprensa: Barbara Pettres
Assessoria jurídica: Nanashara Piazentin
Assessoria contábil: Fabiana Bresola