Por Ivan Longo
Desde que eclodiu a guerra entre Rússia e Ucrânia, muito tem se falado sobre a atuação de grupos neonazistas ucranianos. Eles, de fato, existem, ganharam projeção durante os protestos no país em 2014 e, sob leniência do presidente do presidente Volodymyr Zelensky, atualmente estão nas fileiras das Forças Armadas ucranianas. Os mais conhecidos são o Batalhão Azov e o Pravyi Sektor que, inclusive, se tornou um partido político.
Nos últimos dias, começaram a vir à tona imagens de militares ucranianos utilizando símbolos considerados nazistas e neonazistas. Um soldado da Ucrânia, por exemplo, foi fotografado, no último domingo (6), em Irpin, usando um bordado com um símbolo nazista conhecido como “sol negro” em sua farda.
O sol negro, também conhecido como “Black Sun”, remete ao ocultismo nazista. Uma representação desse símbolo antigo se encontra incorporada em um mosaico de um piso no castelo Wewelsburg, na Alemanha, feito durante o regime de Adolf Hitler. A figura é composta de três suásticas sobrepostas, aumentando a identificação com o nazismo.
Essa foto da Getty Images mostra um militar ucraniano, neste domingo (6), atuando no resgate de civis em Irpin.
O jovem usa, ao lado da bandeira da Ucrânia em sua farda, um sol negro.
O que é sol negro? Sim, um símbolo nazista ? pic.twitter.com/nwUzRbN7mL
— Ivan Longo (@ivanlongo_) March 7, 2022
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), inclusive, escolheu a imagem de uma militar ucraniana com um sol negro no uniforme para simbolizar o Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta terça-feira (8).
O agrupamento nazista do exército ucraniano, o Batalhão Azov, por exemplo, leva o sol negro em sua bandeira, que também contém uma figura que se assemelha a um tridente – outro símbolo associado ao nazismo na Ucrânia, que se parece com o design da SS, sigla para Schutzstaffel, a polícia especial de Hitler, e a própria suástica.
Esses são apenas alguns exemplos de simbologias adotadas por grupos neonazistas que vão para além das óbvias. Há, no entanto, inúmeras outras figuras e gestos que ligam simpatizantes do nazismo em todo mundo, e esses código são chamados de “dog whistle” (em português, “apito de cachorro”) – um tipo de linguagem que, para a população geral ou leigos, parece significar uma coisa, mas que na prática quer dizer outra.
Para o vereador e policial civil Leonel Radde (PT-RS), que tem o combate a grupos neonazistas brasileiros como uma das principais bandeiras de seu mandato, é “extremamente importante que as pessoas saibam reconhecer” símbolos nazistas.
“Acredito que a legislação tem que ser alterada urgentemente, caso contrário, a gente não consegue dar resposta ao avanço que eles [os grupos neonazistas] estão tendo. É o apito de cachorro, uma coisa que os leigos e autoridades não reconhecem como uma apologia, mas internamente há uma deliberação de se localizarem através desses símbolos”, disse Leonel à Fórum, relembrando situações em que o “apito de cachorro” foi utilizado no Brasil.
Uma dessas situações foi observada quando o assessor de Bolsonaro para assuntos internacionais, Filipe Martins, fez com as mãos, em uma sessão do Senado, o símbolo de “white power” (em português, “poder branco”), e se justificou dizendo que estava ajeitando a lapela do paletó. Outro exemplo conhecido é quando o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos fez uma live tomando um copo de leite – outro gesto encampado por neonazistas em todo o mundo.
Vale lembrar que, assim como em boa parte do mundo, a apologia ao nazismo é crime no Brasil previsto no artigo 1º da Lei 7.716/89, com pena de reclusão de 1 a 3 anos, além de multa. A legislação considera apologia ao nazismo fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas e objetos de divulgação nazistas.
Confira os principais símbolos utilizados por neonazistas, além da suástica e do sol negro, para saber reconhecê-los
Caveira de 18 dentes (“Totenkopf”)
A “Totenkopf”, “caveira” em alemão, é uma figura que retrata um crânio humano com 18 dentes. Trata-se de um símbolo militar da Prússia que foi resgatado pelo Terceiro Reich de Hitler. Os 18 dentes da caveira são simbólicos para os nazistas pois agregam o número “1”, que é a primeira letra do alfabeto “A”, e “8”, que é o “H”, formando as iniciais de Adolf Hitler. Soldados ucranianos já foram fotografados utilizando esta caveira na farda.
Número 88
Utilizar o número 88 com bordados nas roupas, em bandeiras ou até mesmo através de tatuagens é muito comum entre neonazistas. Trata-se de uma representação da oitava letra do alfabeto, o “H”. 8 e 8, portanto, representa “HH”, ou “Heil Hitler”, a mais famosa saudação ao líder do nazismo alemão.
Cruz de ferro
A cruz de ferro é um dos símbolos mais famosos do nazismo. Sua origem remete ao Reino da Prússia e foi resgatado por Adolf Hitler durante a era nazista como a principal condecoração cedida a militares durante a Segunda Guerra Mundial. Ela é vista até hoje entre grupos neonazistas.
SS
Sigla para Schutzstaffel, a polícia especial de Adolf Hitler. A figura se assemelha a dois raios, que na verdade representam, cada um, a letra “S”. Simpatizantes do nazismo de todo o mundo a utilizam em bandeiras e bordados nas roupas.
Runa de Odal
Os nazistas da era Hitler se apropriaram muito de runas do alfabeto nórdico. Apesar de boa parte dessas figuras não terem origem fascista, foram muito utilizadas pelos nazistas alemães. A principal delas é a Runa de Odal, que era utilizada em uma divisão da SS, a polícia especial do nazismo, e atualmente por grupos neonazistas.
Bandeira confederada
A bandeira confederada dos Estados Unidos, utilizadas pelos separatistas na Guerra de Secessão entre 1861 e 1865, foi apropriada depois por grupos racistas, como a Ku Klux Klan (KKK), e é até hoje vista entre neonazistas não só dos EUA como de todo o mundo.