Por Dimalice Nunes.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) tem um novo bichinho de estimação. Depois do pato amarelo, um dos ícones do impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, um inflado sapo verde amanheceu na terça-feira 13 no número 1313 da Avenida Paulista, sede do empresariado paulista na cidade de São Paulo. A briga agora é contra os juros: “#chegadeengolirsapo”, diz os panfletos distribuídos aos pedestres ao longo dos mais de dois quilômetros da avenida.
Já há alguns meses o corte no spread bancário e a consequente queda dos juros cobrados na ponta é o novo foco do empresariado, que argumenta que as taxas efetivamente cobradas não acompanharam os sucessivos cortes da taxa básica de juros.
E isso é verdade. Em dezembro a Selic chegou aos 7% ao ano, a menor desde 1986, ou uma queda de 7,25 pontos porcentuais desde outubro de 2016, quando o BC iniciou a trajetória de queda da taxa.
Em fevereiro, mais um corte, para 6,75%. O spread bancário – que é a diferença entre o preço que o banco paga pelo dinheiro e o que ele cobra dos seus clientes – seguiu elevado. Enquanto a Selic caiu para menos da metade, o spread alcançou apenas em dezembro os 32 pontos, mesmo patamar de dois anos antes, quando a Selic ainda estava em 14,25%.
Consequência direta desse descasamento entre o comportamento da taxa básica de juros e do spread é que os cortes da Selic não chegam ao bolso de quem toma dinheiro emprestado no sistema bancário ou faz compras a prazo.
A briga da Fiesp agora é exatamente essa: o spread bancário. “Agora é a hora de levantar a voz contra os juros injustificáveis praticados há décadas no Brasil”, afirma o panfleto distribuído pela entidade.
Os juros praticados pela economia caíram, mas de forma bem mais modesta do que a Selic. De acordo com os dados da Nota de Política Monetária à imprensa e Operações de Crédito, divulgada no último dia 29 pelo Banco Central, o juros cobrados no cheque especial, por exemplo, estavam em 323% ao ano em dezembro e sofreram uma queda praticamente irrisória em um ano: eram 328% ao ano em dezembro de 2016. No cartão de crédito era 334% ao ano em dezembro.
Após o último corte da Selic, o empresariado reforçou que o que importa agora é que a redução da taxa básica chegue no tomador de crédito. Segundo nota da Fiesp, as altas taxas para o tomador final retiram poder de compra das famílias, inibem o investimento e a geração de emprego por parte das empresas e dificultam a retomada do crescimento. “O Banco Central precisa deixar de só fazer ameaças ao sistema bancário. Tem que tomar ações incisivas para reduzir a taxa de juros ao tomador final.”
O pato
A campanha e o pato amarelo da Fiesp surgiram durante a crise política do governo Dilma Rousseff, uma reação do empresariado contra a possibilidade da volta da CPMF para contornar a crise econômica.
Em dezembro de 2015, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, liderou a entidade como uma das fiadoras do processo de impeachment da ex-presidenta, mas não demonstrou o mesmo entusiasmo após os escândalos de corrupção envolvendo Temer. “Não cabe à Fiesp falar de renúncia“, disse recentemente.
E a atual campanha segue o distanciamento, com a Fiesp, mesmo que nas entrelinhas, dizendo que o atual governo fez sua parte. O alvo, então, são os bancos.