Por Camila Almeida.
Se “o interior é o centro”, a artista Amanda Cadore expande seus limites
geográficos, sonoros, artísticos e chega a novos públicos. Lança nesta
quinta-feira, 01/09, seu segundo álbum autoral: “Arrebentação – o mar como
resposta”, nasce e fortalece a carreira da compositora, em um período pós-
pandemia, quando Amanda e muitos outros artistas passaram por
dificuldades básicas e se viram sem horizontes para prosseguir na profissão.
O trabalho, composto por cinco faixas com composições próprias, de autoria
da artista, atravessa o público seguindo a linha da Nova MPB e POP Leve,
marcando a identidade musical da compositora e abrindo caminho para
artistas que, como ela, iniciaram a carreira no interior do Estado, às margens
dos grandes centros urbanos.
“O simples me interessa”
Com acordes e letras simples, mas nem por isso menos profundas, o álbum
traz como base sonora o violão – identidade já firmada no decorrer dos sete
anos de carreira, o novo álbum também traz novidades. “Foi um percurso
criativo muito bonito, sentindo e construindo essa identidade sonora. Foi
essencial que partíssemos do violão, então todas as músicas se estruturam
em cima do som desse instrumento e isso fez com que eu mantivesse a
simplicidade das músicas. Os beats entram como novidade nesse processo
trazendo uma textura mais pop para o trabalho e uma levada diferente para
esse som. Apesar de os arranjos e o corpo da música serem sofisticados, a
estrutura e o conteúdo são simples, são sobre coisas simples, detalhes
rotineiros, cotidianos, o meu dia, as minhas crenças. Esse trabalho fala muito sobre mim e sobre o que foi transformar esse momento pandêmico para
conseguir ainda fazer o que eu amo: música. Esse compilado de
composições mostra, é claro, um estilo musical firmado, mas também um
estilo de vida, o que eu escolhi, as minhas prioridades e necessidades
revistas após a pandemia que me transformaram enquanto pessoa e, como
consequência, enquanto artista”, conta Amanda.
O álbum foi premiado pelo Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura
2021, a principal política pública cultural desenvolvida no Estado, e estará
disponível nas principais plataformas digitais, como Spotify, Deezer, Apple
Music e Amazon Music. “Esse com certeza é o trabalho mais caprichado que
eu já fiz, o que eu tive mais tempo para me dedicar, estudar e pesquisar e,
onde eu fui muito feliz e abençoada pelos encontros com profissionais
incríveis que me ajudaram a construir esse trabalho, em sincronia”, pontua.
“De onde eu vim é impossível alguém viver de música”
Amanda cresceu em Barão de Cotegipe, cidade com pouco mais de 6 mil
habitantes, no interior do Rio Grande Sul, Amanda iniciou seu contato com a
música ainda na infância. “Ela gostava de futebol e violão. Era a única menina
que jogava futebol em um time até então só de meninos. Foi com seis anos
que ela ganhou o primeiro violão, mas não sabia cantar, até que um dia, em
uma apresentação na escola, no ensino médio, ela cantou, surpreendeu todo
mundo e não parou mais. Ela também escrevia poesias e foi premiada na
escola. Eu sempre sonhei com a minha filha fazendo sucesso na carreira,
mas nunca pensei que isso fosse possível acontecer com as músicas dela”,
conta Maria Salete Cadore, revistando as memórias de infância da filha.
Foi em 2015, já morando em Chapecó, oeste de Santa Catarina, que lançou
seu primeiro single “Travesseiros” e depois o primeiro álbum “Inverno só se
for azul”. Enfrentando o cenário adverso para mulheres que decidem viver de
música, a artista não parou mais. Seu último lançamento, o single “Fênix”, em
parceria com Dandara Manoela e Joana Castanheira, em apenas duas
semanas já foi ouvido mais de 25 mil vezes na plataforma Spotify.
“Ninguém leva a sério uma menina atrás de um violão. Todos
acham que é um hobby. Cresci num cenário cultural totalmente adverso ao que eu tô construindo hoje, tanto para a minha vida quanto para a minha carreira. Isso me
prejudicou, mas também me fortaleceu de várias formas. Em muitos
momentos eu me peguei pensando ‘como eu faço? Como vou produzir,
sendo mulher, vinda do interior?.’ Apesar de eu tocar violão desde criança e
desde pequena escrever minhas primeiras linhas, eu nunca fui levada à sério,
por ser uma menina atrás de um violão, de uma guitarra, isso sempre foi visto
como hobby. Até que eu apareci no The Voice. Quando eu apareci no
programa foi o momento em que a sociedade olhou pra mim de outra forma.
Hoje é muito satisfatório saber que eu trabalhei muito, pesquisei, estudei,
fortaleci a minha música, pelo meu próprio trabalho. Não precisamos estar
procurando esse aval abstrato da sociedade. Só precisamos fazer o que
sentimos que é pra fazer e, no meu caso, é música”, acrescenta.
“O caminho é mais longo para as mulheres”
Em um cenário composto majoritariamente por homens, Amanda segue
firmando e conquistando novos espaços. Há um ano mudou-se para o litoral
de Santa Catarina em busca de novos horizontes profissionais. No interior a
compositora é referência pra quem está começando.
“Nós artistas mulheres estamos no mesmo barco, estamos assumindo o
papel de protagonistas da nossa vida e da nossa arte. Sou eu que assumo a
responsabilidade pela minha vida, pelo meu corre, pelo meu caminho e por
como construir o meu trabalho para chegar às pessoas. A cada dia mais vejo
artistas mulheres saindo do interior, me perguntando sobre esse caminho e
estarmos juntas nesse processo de troca é muito importante. Quando eu
comecei não tinha noção como eu fazia pra gravar uma música, pra distribuir,
pra fazer esse som tocar nas plataformas, eu fui, estudei, pesquisei, e hoje eu
já tenho um caminho andado, que pode sim encurtar o caminho dessas
outras meninas que saíram do mesmo lugar que eu. Para nós mulheres o
caminho é sempre mais longo, precisamos nos fortalecer. Antes de sermos
considerados artistas da música, temos que provar nossa escolha, sei que
estamos longe de equilibrar esse cenário, mas estamos dando um passo por
vez, todos os dias, sem pausas”, enfatiza.
Novo shows une múltiplas linguagens
O momento agora é de preparação para as novas apresentações. A artista
prepara um novo show, com o trabalho novo lançado nesta quinta-feira, que
promete uma experiência para o público. “Estou me dedicando muito para
que as pessoas passem por uma experiência, transcendam esse momento.
Quando eu coloco minha música no mundo eu dou a possibilidade subjetiva
para que as pessoas sintam o som, experienciam e se relacionem com a
música, e com esse novo show, sendo preparado com muita pesquisa, não
será diferente”, conta Amanda.
A artista se apresenta em 16/09 no Aracá, em Florianópolis e em 22/10 no
Magnólia Festival, em Chapecó, o maior festival de música do oeste
catarinense.
Acompanhe o trabalho pelas redes sociais da artista.
Contrate o show: [email protected]
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