Tarantino é sempre um tapa na cara. Se não pelo texto, o é pelo modelo frenético. Olhando para as figuras, percebo o passado que toca o presente através dos sentidos, dos instintos.
Em Django Livre, vejo coisas como o direito legítimo à violência, sem entrar em juízo de valor. Vejo o século XIX e ouço século XXI. E, taí, o que quero dizer sobre relacionar o ontem e o hoje através dos sentidos. Linearmente temporal, não ameaça nenhuma linguagem alternativa, mantém o status quo de cinema hollywoodiano. Mas, tem particularidades. Em tempos que nos distanciam do cinema de autor, em detrimento ao império das produtoras, o homem assina a sua obra.
Embora necessite eu reafirmar posicionamentos contundentes sobre o cunho ideológico conservador da indústria cultural americana – e que reflete num padrão estético que prepara nossos olhos para gostar disso e não daquilo -, é inegável que a plástica faz vibrar: textura, som, efeitos, texto, interpretação, bom gosto ácido. Eu gosto bem, e muito. Gosto da caricatura da violência, é mais ágil olhar para ela através do riso desesperado.
No córtex da película, cunho político. Django livre, empoderado, justiceiro, mocinho da trama.
O evidente protagonismo negro – ao gosto democrata – apresenta um passado violento da história americana, através da voz dos emudecidos. Ainda que apresente contradições entre pares de uma mesma dor, o que fica é que Django empodera-se. É, se não uma obra-prima ou mais uma produção hollywoodiana, uma vitrine para a visibilidade racial. Sob todas as adversidades, sob a história já contada, sob os fatos e a violência, sob todas as impossibilidades, sob a égide da desgraça, Django vence ao fim. Triunfa. Segue em frente. Tem seu prêmio.
A crueza do sul racista frente a polidez alemã, parece uma redenção à Bastardos Inglórios. No entanto, o europeu repulsivo à escravidão é também aquele que, historicamente, mata para acumular. A dor caricata demonstra que a ética é como um prisma que reflete conforme é iluminado. Django constitui-se de história, de política, de crítica e autocrítica. E não esquece de falar de amor – bonito isso, né? Revive a história de outras formas possíveis, com outros atores no plano principal, dando aos aflitos inteligibilidade, poder e final feliz.
Atormenta-me o tema, agrada-me a visibilidade negra. Assusta-me a capacidade da arte/indústria de constituir estereótipos. E como bem disse um amigo: quem não gosta de grandiosidade e beleza no cinema? Eu adoro, e quanto mais western, quanto mais bangue-bangue, melhor.
Fonte: Blog Para Não Desaprender.
Gostei muito da sua crítica ao Django. Mais um motivo para assisti-lo, além de ser uma obra de Tarantino, sanguinário ao extremo. Ja pinga sangue no trailer oficial rs!