(Texto distribuído no 1º Seminário de Jornalismo Sindical)
A disputa pela hegemonia na comunicação de massas faz parte da Luta de Classes e decorre no marco da batalha pela Soberania Comunicacional Popular, tanto em nível de informação como de propaganda ideológica. As classes dominantes e seus grupos de controle governamental, legislativo, judicial corporativo, empresarial e de comunicação massiva, atuam contra a concretização dessa soberania (como o fazem contra a legítima defesa de todas as outras: alimentar, energética e territorial) e contra a classe trabalhadora. No entanto, a direção da classe trabalhadora e a classe em si, culturalmente, estão durante 24 horas por dia “informadas” e “comunicadas” pelos veículos de comunicação de massa do poder dominante. Suas opiniões se veem interferidas e modeladas pela narrativa do poder estabelecido e respondem, muitas vezes, à forma de ver o mundo, segundo a estética e o relato do dominador.
A verticalidade imposta pela Globo, ou RBS, para localizar o problema em nível local, tem pouca ou nenhuma resistência na massa trabalhadora organizada e se impõe de forma ditatorial entre os trabalhadores desorganizados ou desempregados. O “familiar” que ocupa o centro das atenções do lar mais vezes por dia é o televisor; a voz que mais se repete no horário em que a família do trabalhador está reunida é a do Jornal Nacional. De modo que a hegemonia não é só estrutural, econômica e política, também é cultural e atinge os formadores de opinião na academia e no sindicato, de forma parecida que ao trabalhador desorganizado e desempregado.
Além disso, e por ser uma uniformidade tão totalizadora, essa verticalidade induz ao indivíduo a uma necessidade muito premente de saber o que diz a voz do dominador, sob pena de sentir-se excluído do seu ambiente social e familiar. Exerce um fascínio muito especial ser filmado, reproduzido e divulgado pelo dominador. Um sindicalista ou um líder do campo progressista também gosta e deseja ser multiplicado pela via da lente do dominador. É um fato cotidiano. Se Desacato filma um trabalhador, seja dirigente ou não, não produz no meio social e familiar do entrevistado o mesmo orgulho e reconhecimento.
Essa é uma parte deste complexo assunto. A outra está na difusa visão que tanto os trabalhadores organizados, os intelectuais e os próprios jornalistas temos do tema. Especificamente nos sindicatos, importa pesquisar que pensam os jornalistas que trabalham em diversas categorias, por vezes, com o título de assessores de comunicação, em lugar do substantivo correto de jornalistas, pelo qual e como corresponde, recebem.
Observam-se dois problemas chave no Movimento Sindical que se aprofundam à medida que muda a trajetória histórica do sujeito social: falta de formação política e não reconhecimento da função jornalística no setor. Isso faz com que por vezes, se confunda ou se distorça a importância, tanto política como informativa da qualidade da mensagem em instâncias sensíveis ao sindicato, como a discursiva e a social. Há uma subvaloração do trabalho dos jornalistas nos sindicatos, ou inclusive, há desistência do serviço profissional dos colegas. Precisa-se revisar o papel da Fenaj e dos sindicatos locais de jornalistas na defesa dessa perda de postos de trabalho na área sindical, tão pronunciada na última década. Estes aspectos pesam notavelmente nas derrotas acumuladas perante os veículos de comunicação do poder e os setores patronais.
Também há uma errônea sobrevaloração dos meios eletrônicos, como se por si, resolvessem o problema comunicacional; como se as técnicas não tivessem importância e qualquer um pudesse lançar mensagens com sucesso, sendo jornalista ou não. A subvaloração do jornalista e a sobrevaloração comunicacional de páginas sindicais que poucos visitam, como forma de baratear custos, não se correlata com as despesas que se dirigem a gastos de representação e infraestrutura, menos importantes, de fato, para a luta cotidiana e a defesa das reivindicações conjunturais ou históricas.
Ao refletir sobre a disputa pela hegemonia precisamos observar que os governos federal, estaduais e municipais, depositam bilhões de reais nas contas dos monopólios da comunicação, mesmo sendo estes sonegadores contumazes e inimigos do trabalhador, e por vezes do próprio governo que os financia com anúncios, isenções e concessões prorrogadas. Por sua vez, as organizações de trabalhadores, com alguma lógica e para garantir sua mensagem à categoria e população em geral, gastam polpudas quantias nos monopólios. E claro, nem todas enxergam que estão engordando o armamento estrutural, comunicacional e político do seu inimigo de classe. Não falaremos aqui de aspectos mais pobres como a vaidade, o projeto eleitoral pessoal e outros vícios dos quais os sindicatos e a academia não estão imunes.
Ao menos, para nossa Cooperativa e o que ela produz, o objetivo central é ser um intermediário facilitador, com posição editorial clara a respeito do trabalhador enquanto classe, para somar na legítima reivindicação de quem produz a riqueza. Os princípios onde se afinca nossa visão jornalística e comunicacional são: Informar para Educar, Educar para Formar e Formar para Transformar. Sem a compreensão, sem o debate franco e sem a participação dos intelectuais, acadêmicos, trabalhadores, e dentre eles, dos trabalhadores jornalistas, nem a Cooperativa nem seus veículos terão um rol claro na disputa pela hegemonia comunicacional, nem mesmo na Luta de Classes. Apenas seremos mais um coletivo na tentativa inorgânica de reformular as relações de trabalho no Jornalismo e na Cultura, mas, sem contribuir na vitória de classe e na transformação da sociedade para a construção de Outro Mundo Urgente e Possível que, no Brasil, discuta a questão da comunicação na intensidade com que é discutida em outros países da Nossa América.
*Presidente de Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura – CpCC
Foto: De dir à esq. Raul Fitipaldi, Elaine Tavares, Osíris Duarte, por Clarissa Peixoto.