Discussão Política. Por Sebastião Costa.

Por Sebastião Costa.

Tempos atrás, em discussões recorrentes com dois colegas bolsonaristas (pelo WhatsApp ou no hospital da Unimed), vez por outra entrávamos em rota de colisão quando o assunto era política. Depois de refletir um pouco, cheguei a conclusão de que não valia a pena me desgastar num debate que nunca evoluía. Eu entendia tudo o que eles falavam e porque tinham aquele compreensão da nossa realidade político-social, mas eles nunca conseguiam absorver plenamente o que eu queria transmitir, daí o conflito.

Em determinado momento, um deles teve a ousadia de me acusar de analfabeto político. E foi então que, depois de muitas reflexões cheguei a conclusão de que fica muito difícil alguém no nível de meus colegas entender as relações sociais de um país complexo como o Brasil se nunca leu o livro História da Civilização Brasileira. Eles jamais vão compreender porque Lula, de 1500 pra cá, foi o único presidente brasileiro que brotou da base da pirâmide social, se eles nunca ouviram falar no livro Casa Grande&Senzala de Gilberto Freire ou A elite do atraso de Jessé Souza; nem nunca vão entender muito bem o que é esquerda e direita se não tiveram acesso a algum ensaio de Norberto Bobbio.

E como eles se metem a discutir a política brasileira se nunca leram a biografia de Getúlio Vargas do jornalista Lira Neto, e nem sequer ouviram falar do uruguaio René Dreifuss que na sua tese de doutorado (1964 – A conquista do Estado) desvendou os labirintos do golpe militar de 64.

Provavelmente eles discutiam comigo o conflito árabe-israelense, sem me compreender, porque não costumam ler os artigos de Paul Krugman e Noam Chomski. São colegas que respeito como profissionais, mas infelizmente só bebem na cacimba dos dinossauros midiáticos tupiniquins e jamais abriram a Carta Capital. Nem sequer conhecem o portal Desacato, ou o Observatório da Imprensa. Só saem da mídia nativa tradicional para comer no cocho da internet, mesmo assim não visitam o Viomundo, não leem o Brasil de Fato, nunca visitam o portal Brasil 247, nem conhecem o blog de Luís Nassif. Aí não dá outra: visão política míope, distorcida, capenga.

Não podem compreender a nossa história política recente se não leram nem um dos livros do jornalista Elio Gaspari sobre a ditadura militar, nem jamais vão entender a situação econômico- sociail de nosso continente se nem sequer conhecem As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano.

Como esses colegas podem discutir capitalismo e socialismo se nunca leram o livro História da Riqueza do Homem e só conhecem O Capital de Marx de ouvir falar? Outro dia perguntei o que Gabriel Garcia Márquez quis transmitir no seu livro 100 anos de solidão, eles nem responderam, como ficaram gaguejando quando pedi pra falarem da intenção de Jorge Amado quando escreveu Tocaia Grande. E qual a intenção de Orwell em Revolução dos bichos? Ficaram mudos!

Em determinado momento tentei mostrar pra eles que gostaria de levar uma discussão no nível que às vezes mantenho com Eliane Catanhêde (hoje no Estadão), Clóvis Rossi da Folha de São Paulo, Nêumanne do Estadão. Falei do longo debate que mantive com o Ombudsman da Folha sobre terrorismo internacional, lembrei a extensa conversa com Hélio Shwuartsman da Folha.Press sobre o governo Lula.

Outra vez, um deles me acusou de “analfabeto midiático” e a frustação, imensa, veio quando percebi que as limitações, enormes, sequer conseguiam enxergar que existe algo além de seus próprios conhecimentos.

Desisti!

Escrevendo esse desabafo, lembrei de um personagem de Érico Veríssimo em Incidente em Antares. Ele se alimentava nas páginas da revista Seleções e saia por aí vomitando ‘intelectualidade’. Meus colegas, ANALFABETOS LITERÁRIOS, trocam a Seleções pelas fake news internéticas.

Depois desse texto, nunca mais recebi mensagens de nenhum deles.

Sebastião Costa é médico.

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.