Dirigente do MST descarta nova eleição e vê trabalhador distante da política

RBA.

16/06/2016 

Para o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Gilmar Mauro, a convocação de uma nova eleição, como propõem alguns setores, é “bobagem”. “Primeiro, porque não se viabiliza a tempo. Segundo, porque legitima o golpe”, afirmou, durante debate promovido hoje (15) pela Fundação Perseu Abramo, em São Paulo. “Não achamos que a saída é uma ‘articulaçãozona’ por cima. Não haverá caminho mais fácil”, acrescentou, ressalvando que essa postura não considera o cenário de “consolidação do golpe”, com o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff.

“Não haverá saídas fáceis e nem de curto prazo”, disse Gilmar Mauro, prevendo um “período longo de disputas” em um contexto de crise econômica mundial sem perspectiva breve de solução e com ofensivas conservadoras. “Para que isso aconteça de fato, é preciso que o movimento sindical se enfraqueça. O movimento sindical, o movimento social e até partidos têm atuado de maneira reativa.”

No Brasil, os fatores que levaram a certo crescimento e redução da desigualdade – alta das commodities, investimentos, maior oferta de crédito – não existem mais. “Esse cenário acabou. O mercado internacional de commodities está saturado. O cenário de pacto entre classe trabalhadora e elite econômica acabou, e não fomos nós que rompemos. É possível ainda pensar em um projeto de desenvolvimento com setores da burguesia nacional?”

Segundo Gilmar Mauro, não existe “ganha-ganha” no capitalismo. “Alguém tem de perder. E os burgueses estão impondo as perdas a nós.” Ele também considera um “engodo” a questão discutida nos últimos anos sobre incorporação de setores sociais à classe média. “O que temos, no Brasil e no mundo, é o aumento da classe trabalhadora, com diferenciações sociais imensas”, comparou. “Nós despolitizamos esse debate e estamos pagando um preço bastante grande”, acrescentou o dirigente do MST.

Ele avalia que quem tem participado mais ativamente das mobilizações é a militância. Já os trabalhadores estariam no processo como se assistissem a um jogo de tênis, vendo a bolinha passar de um lado para o outro, insatisfeitos com Executivo, Legislativo e Judiciário. Mesmo o modelo de “carro de som” em assembleias é questionável, segundo Gilmar Mauro. “O que a gente tem feito é insuficiente para enfrentar a luta de classes neste tempo histórico.”

Para o professor Giorgio Romano Schutte, da Universidade Federal do ABC, o governo interino, se efetivado, será mais conservador que o do período de Fernando Henrique Cardoso, o que se refletirá na política externa brasileira. Com uma política “altiva e ativa” a partir da gestão Lula, o país ganhou protagonismo no cenário internacional, no debate sobre Brics e G20 e participação em organismos como a FAO. Os reposicionamentos atuais apontam “claro realinhamento” com os Estados Unidos, observou.

Segundo ele, os “dez mandamentos” do governo interino contêm, principalmente, obviedades, marketing e ideologia, a partir de elaboração de Rubens Ricupero e Sérgio Amaral. “Não são exatamente as pessoas que vão inovar a nossa política externa.”

 

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