Direita volver. Por Sebastião Costa

Enquanto as esquerdas se mantiverem nessa postura conformista, sem discutir projetos alternativos para superar a influência decisiva do poder econômico na estrutura eleitoral, vai sempre empurrar qualquer governo progressista nos braços da DIREITA.

Imagem: Collage com fotos da Agência Senado.

Por Sebastião Costa.

Lá pelos idos de 1988  um grupo com ideias mais progressistas dentro do PMDB resolveu seguir num voo livre em busca de um ninho mais conectado  com sua visão de um Brasil socialmente mais justo. Nascia então um partido sensível à social democracia e que mais tarde, montado na garupa do Plano Real, tangido pelo oba-oba da imprensa hegemônica aportou no Palácio do Planalto com todas as bênção$ dos inquilinos da Casa Grande. Considerando que a Casa Grande nunca morreu de amores pela social democracia, o jovem partido que nasceu no berço da centro esquerda, atracou-se com o ‘arenismo’ do PFL, abraçou com fervor o modismo do neoliberalismo e foi surfar nas ondas da centro direita.

O PT nasceu na maternidade do sindicalismo, passou pela pia batismal da igreja progressista e a intelectualidade se fez de padrinho. No cartório foi registrado com a rubrica de esquerda puro-sangue.

Ela, a rubrica, resistiu bravamente até 2002, quando o partido subiu a rampa do Planalto montado no prestígio pessoal do torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva, coadjuvado por uma esquerda raquítica, sem musculatura para sustentar os projetos da esquerda puro-sangue. O jeito foi se abraçar com a voracidade dos partidos que transitam ao centro e à direita do espectro ideológico. Composições e concessões inevitáveis e aquela esquerda foi aos poucos perdendo a pureza, concedendo ao governo o direito de passear no calçadão da centro-esquerda.

A presidenta Dilma foi obrigada também a caminhar por essas mesmas trilhas mas, como seu governo não correspondeu integralmente às demandas da Casa Grande, foi impiedosamente  massacrada pela midiazona direitizada antes de ser defenestrada do poder pelos aviãozinhos  da elite nativa no Congresso Nacional (Jessé Souza em A ELITE DO ATRASO faz uma analogia desses políticos com os aviãozinhos do tráfico).

Não custa relembrar que Getúlio foi ‘suicidado’ e João Goulart derrubado. Os dois, que caminhavam na mesma praia ideológica da presidenta, não estavam satisfazendo a gula desenfreada daquela elite.

Percebam que estamos jogando toda a culpa no colo da Casa Grande. Mas, e onde estariam escondidas as responsabilidades das esquerdas que nunca conseguem eleger um presidente ( Getúlio, João Goulart, Lula>Dilma foram eleitos essencialmente pelo suas próprias potencialidades )? E muitos menos deputados e senadores suficientes para respaldar a governabilidade de um presidente comprometido com transformações sociais de  um país, cujo modelo econômico, conforme pesquisas da ONG britânica OXFAM, joga no bolso de seis bilionários o equivalente a toda renda de 100 milhões de brasileiros.

Pergunte-se aos políticos do campo progressista porque  a esquerda está eternamente condenada a perder as eleições legislativas e todos vão apontar o dedo  para um modelo eleitoral contaminado pelo poder econômico. Pergunte-se então novamente: E quando as esquerdas vão dispor de recursos para vencer a direitona endinheirada?

E aí a pergunta fatal: Até quando vai-se seguir nesse conformismo letárgico? Quando as esquerdas vão criar juízo e cair na real de que precisam se auto-enxergar  e observar a necessidade de se discutir um projeto que contemple essencialmente a conscientização politica dos segmentos que habitam a base da pirâmide social( 70 milhões na classe D e E ). Aquelas mesmas que por uma retribuição social, e não por consciência politica, votam pesado em Lula, mas elegem para o Congresso políticos/aviãozinhos  comprometidos com os interesse da burguesia nacional. Aí não dá outra: modelo econômico intocável e 33 milhões de pobres e miseráveis condenados a dormir de barriga vazia.

Ah, mas o governo Lula melhorou a situação de 35 milhões de pobres e miseráveis. Ok, mas até quando eles se mantiveram curtindo as mordomias da classe C? Foi só desapearem a presidenta Dilma do poder e o nosso pais retornou ao mapa mundial da fome.

É que é expressamente proibido mexer nos alicerces de uma estrutura econômica, que mantêm eternamente essas perversidades sociais em nosso país.

Um olhar no retrovisor da política brasileira e não se consegue enxergar a composição de um Congresso tão conservador.

E o governo do presidente Lula, que em outros tempos já havia se aconchegado no colo da centro-esquerda, agora, de mãos dadas com parlamentares da direitona nacional, segue caminhando com desenvoltura em busca da praça do CENTRO ideológico.

Inevitável!  Enquanto as esquerdas se mantiverem nessa postura conformista, sem discutir projetos alternativos para superar a influência decisiva do poder econômico na estrutura eleitoral, vai sempre empurrar qualquer governo progressista nos braços da DIREITA.

Sebastião Costa é médico pneugmologista e apresentador do programa Reflexões da TV Roda de Conversa.

 

 

 

 

 

 

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