Por Nicolas Chernavsky, de Cultura.info.
Finalmente chegou a hora. Depois de uma abrupta guinada para o conservadorismo em 1964, gradualmente o Brasil conseguiu sair das trevas para chegar à predominância do progressismo a partir da eleição de Lula em 2002. Nestes 12 anos, o Brasil conseguiu avanços extraordinários, como retirar 36 milhões de pessoas da miséria e ascender 40 milhões de seres humanos para a classe média. Saímos do mapa da fome no mundo. Reduzimos o desemprego à metade com aumentos consideráveis de salários. Estamos conseguindo realizar o sonho de muitas gerações de brasileiros. Estamos deixando de ser um país pobre e virando um país de classe média! Não era isso o que queríamos?
Já houve outro momento assim. Entre 1945 e 1964, finalmente tivemos um período duradouro de democracia no Brasil. Ao longo destas duas décadas, passando pelos governos de Dutra, Getúlio, Juscelino e Jango (com alguns meses de Jânio antes deste) gradualmente as forças progressistas foram conquistando mais e mais votos, inclusive no parlamento nacional. Getúlio criou a Petrobras, Juscelino criou Brasília e Jango impulsionava as reformas de base. O Brasil era uma das maiores democracias do mundo. Mas isso acabou em 1964, quando o governo dos Estados Unidos, junto com os setores mais conservadores do Brasil, inclusive nos meios de comunicação e nas Forças Armadas, organizaram um golpe de Estado que acabou com a democracia e instaurou a predominância do conservadorismo no país que só veio a ser vencida com a eleição de Lula em 2002, depois de um crescimento do progressismo através do movimento pelas Diretas Já, da Constituição de 88 e do crescimento eleitoral dos partidos mais progressistas.
Chegamos a 2014, quando o conservadorismo apresenta um candidato sedutor, com boa lábia, talvez até simpático pessoalmente, mas que traz a carga da história às suas costas, com décadas sendo um elemento central no espectro mais conservador da política brasileira. Aécio foi presidente da Câmara de Deputados durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, na coalizão conservadora liderada pelo PSDB que governou o Brasil entre 1995 e 2002. Em 1994, o presidente Itamar Franco havia implementado o Plano Real, que estava controlando a inflação, e como Fernando Henrique Cardoso era ministro de Economia de Itamar, acabou surfando no fim da inflação e se elegendo presidente em 1994. De 1995 a 2002, apesar da inflação ficar controlada, o país assistiu ao aumento vigoroso do desemprego, com a venda a preços baixíssimos de inúmeras empresas estatais, inclusive de grande parte das ações da Petrobras. Do ponto de vista da redução da pobreza, o país caminhava lentamente, endividando-se exponencialmente em relação ao PIB e tendo que apelar a um empréstimo de grande valor do Fundo Monetário Internacional (FMI), que reduziu fortemente de maneira temporária a liberdade do Brasil para escolher sua política econômica.
Quando Lula venceu as eleições em 2002, iniciou um extraordinário esforço de comércio exterior, multiplicando nosso saldo comercial e reconquistando aos poucos a nossa liberdade para decidir nossa política econômica, ao devolver ao FMI o dinheiro que este havia emprestado. Ao mesmo tempo, o governo Lula colocou o Estado para aliviar o sofrimento de dezenas de milhões de pessoas que não tinham o suficiente para comer e viviam na miséria, enquanto diminuía o desemprego e aumentava o salário mínimo. A Petrobras aumentou exponencialmente de valor e a Caixa Econômica Federal passou a permitir a muito mais brasileiros e brasileiras ter uma casa própria, pois o volume de empréstimos habitacionais também se multiplicou. Um turbilhão de ascensão social tomou conta do Brasil, elevando para a classe média 40 milhões de pessoas, tirando o Brasil do mapa mundial da fome e tornando nosso país uma esperança para o mundo, que sofreu com a crise econômica mundial de 2008 e olhava para o Brasil tentando entender como nosso país passou pela crise gerando empregos e distribuindo renda.
O governo Dilma manteve a coalizão política e os princípios norteadores progressistas do governo Lula, com o aprofundamento da redução da miséria e da redução do desemprego, e a continuação do aumento da renda das famílias, mesmo com o crescimento do PIB sendo atingido pela maior crise econômica mundial em mais de 80 anos. Com Dilma, o Brasil protegeu a liberdade na Internet aprovando um marco legal para o setor que abre caminho para que o mundo crie instituições democráticas para gerir a Internet, para que ela não continue basicamente sendo gerida pelos Estados Unidos e alguns países próximos. Com Dilma, a Petrobras começou a gerar bilhões, que se tornarão trilhões de reais, para que o Estado democrático brasileiro possa investir naquilo que a sociedade ainda não consegue fazer sem ele, que é garantir o acesso a todos ao conhecimento em escolas e universidades, um atendimento à saúde para todos de boa qualidade, empréstimos para compra de casas e apartamentos, avanços na ciência e tecnologia, assistência emergencial a quem estiver na miséria e não tiver o que comer, crédito e seguro para a produção agrícola, policiamento e segurança pública, proteção do meio ambiente e tantas outras áreas.
Nossa democracia nos dá a maravilhosa possibilidade de somente eleger uma presidenta ou um presidente se esta ou este tiver mais de 50% dos votos, diferentemente de muitos outros países em que os sistemas políticos permitem que um chefe de governo chegue ao poder com 35% ou 40% dos votos. Assim, Dilma e Aécio disputarão essa maioria. O progressismo e o conservadorismo disputarão aos olhos da história, e os olhos da história somos nós. Junte-se à jornada daqueles que acreditam na Humanidade. Vamos progressismo! Vamos Dilma!
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Foto: 1956. JK, Nereu Ramos e Jango Goulart.