Presidenta rebate declarações de diplomata que ajudou na fuga de senador boliviano ao Brasil e condena operação pelo risco que representou à vida do asilado
São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (27) lamentar “profundamente” que o encarregado de negócios da embaixada brasileira em La Paz, na Bolívia, tenha colocado a vida do senador boliviano Roger Pinto Molina em risco ao embarcá-lo numa viagem de 22 horas ao longo dos 1.600 km que separam a capital do país vizinho da fronteira com o Brasil.
“Num país civilizado, protegemos a vida do asilado, garantimos sua segurança e seu conforto”, disse Dilma, em Brasília, depois de participar de cerimônia no Congresso para entrega do relatório final da CPMI da violência contra as mulheres. “Não tem nenhum fundamento que nos faça acreditar que é possível que um governo, em qualquer país do mundo, aceite submeter a pessoa que está sob asilo a risco de vida.”
De acordo com a presidenta, “se nada aconteceu” durante o trajeto, isso não pode ser utilizado como justificativa para a operação, levada a cabo sem autorização do Itamaraty. “Poderia ter acontecido”, frisa. “A questão é que um governo não deve negociar vidas, mas agir pra protegê-las.”
As declarações de Dilma são uma resposta à entrevista concedida pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia, de 45 anos, que exercia as funções de embaixador-interino do Brasil na Bolívia, e que foi o responsável por conduzir o senador boliviano na viagem por terra até Corumbá (MS) com o auxílio de dois fuzileiros navais. Sobre a participação de militares no episódio, a presidenta disse que o ministro da Defesa, Celso Amorim, vai esclarecer a questão ao longo do dia.
Católico, Saboia diz ter “ouvido a voz de deus” para agir em favor da vida de Roger Pinto Molina, cuja saúde, argumenta, vinha se deteriorando dia após dia. “Você imagina ir todo dia para o seu trabalho e ter uma pessoa trancada no quartinho do lado, que não sai?”, contou à Folha de S. Paulo. O boliviano estava na sede da embaixada brasileira em La Paz há 452 dias, onde esperava salvo-conduto do governo Evo Morales para deixar o país legalmente rumo ao Brasil.
Ao jornal, Saboia disse que se sentia como um “carcereiro” e comparou os aposentos de Molina na embaixada a uma cela do DOI-Codi, centro de repressão e tortura do exército brasileiro durante a ditadura.
“Não estamos num estado de exceção”, rebateu a presidenta Dilma, visivelmente irritada. “Estive no DOI-Codi, sei o que é o DOI-Codi”, continuou, lembrando sua juventude de perseguida e presa política durante o regime. “É tão distante a situação do DOI-Codi e da embaixada brasileira como é distante o céu e o inferno.”
Belo Horizonte
Depois do pronunciamento sobre a fuga do senador boliviano, a presidenta Dilma esteve em Belo Horizonte (MG) para a solenidade de formatura dos alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Os 2.600 formandos no estado de Minas Gerais tiveram acesso a 44 cursos de especialização, como os de agentes de comunicação, garçom, torneiro mecânico, balconista de farmácia, sommelier, entre outros. O Pronatec atende a mais de 4 milhões de estudantes.
Em seu discurso, a presidenta aproveitou a ocasião para reforçar que os royalties do petróleo e do pré-sal serão destinados para a área da educação. “As empresas responsáveis pela extração do pré-sal são obrigadas a pagar de 10% a 15% do petróleo pro governo federal. São R$112 bilhões que o governo reservou para a educação. Nós vamos usar esse dinheiro pra investir em educação de qualidade, na formação de professores, em ensino técnico com laboratórios e em fornecer tecnologia da informação”, afirmou.
Foto: Roberto Stuckert Filho/Planalto
Fonte: Rádio Brasil Atual.