Candidato, cabo eleitoral e dirigente do PC do B fazem acusações e ameaças.
Por Celso Martins.*
A simples divulgação de uma decisão do TSE indeferindo a candidatura de Renato Hercílio Marciano à Câmara de Florianópolis pelo PC do B, provocou reações iradas e destemperadas por parte do candidato, um cabo eleitoral e um alto dirigente partidário. O caminho usado para as calúnias foi o Facebook.
Tudo começou na noite de terça-feira (02/10), após ter sido publicado no site do TSE a decisão monocrática da ministra Luciano Lóssio, indeferindo o recurso à impugnação da candidatura de Renatinho. Ao tomar conhecimento da decisão fiz o que qualquer jornalista faria: ligar para Renato Hercílio Marciano visando colher a opinião sobre a decisão oficial. O passo seguinte foi procurar um dirigente do PC do B que pudesse informar sobre eventual recurso da decisão do TSE. Fiz contato com Lucas Ferreira, membro da direção estadual do partido. Informou de uma reunião sobre o tema no dia seguinte e fez diversos apelos para que não publicasse a matéria com a decisão. Disse que, como jornalista, minha obrigação era divulgar a decisão.
Publicada a matéria, fiz uma chamada como sempre faço no Facebook, por onde vieram as reações. Num primeiro momento surgiu isso: “Lucas Ferreira Celso, os tucanos e a ARENA já estão curtindo…”. O comentário continua lá, insinuando que eu esteja a serviço de interesses obscuros ou fazendo o papel. É uma insinuação leviana e que revela despreparo de alguém que figura como dirigente estadual do PC do B e funcionário do gabinete da deputada Ângela Albino.
Acusação e ameaça
Mas não ficou por isso. Na seqüência, surgiu: “Pablo Fernando Dias que isso celso vc um fotografo de respeito fazendo isso com a candidatura do renato um cidadão mora no bairro vc querendo detonar a candidatura do Renatinho eu gosto muito de vc mais isso é imoral me desculpe eu falar isso mais vc deve ta recebendo bem pra publicar isso no face ou deve ta apoiando outro candidato tambem deve tapa gando muito bem para fazer isso vc deveria apoiar e ajudar o renato isso é um alerta toma cuidado com q publica”.
Amigos e parentes telefonaram e passaram mensagens informando. Comentei abaixo o seguinte: “Celso Martins Pablo, você me faz uma acusação e uma ameaça. Confirmas tudo isso?” Em poucos minutos o comentário do moço Pablo foi retirado.
Por último uma postagem do próprio Renatinho, integrante da tradicional família Marciano, exemplo de integridade, honestidade, repleta de devotos e tementes a Deus, trabalhadores que ganham a vida do próprio suor. Renatinho deixou em minha página no Facebook um link: “Renato H Marciano Hercilio http://renatocomunidade.com.br/?p=1142”.
Lá dentro havia (pois foi retirado em poucas horas) uma acusação de que eu estaria sendo financiado pelo candidato Cesar Farias. Como “prova”, usou um anúncio do referido vereador candidato à reeleição, no rodapé da capa da edição nº 6 do Daqui Jornal (onde outros candidatos e estabelecimentos do distrito figuram com seus anúncios).
Não sabem o que dizem
Renatinho me acusa de perseguição pelo fato de haver publicado: 1) A decisão do TRE-SC indeferindo sua pretensão por problemas de filiação. Achou que usei indevidamente a expressão “anulação” no lugar de “indeferimento” da candidatura; 2) A decisão do TSE indeferindo a candidatura.
Publiquei apenas informações oficiais, não fui atrás nem inventei nada. Renatinho, Lucas e seus acólitos poderiam me acusar de perseguição se houvesse publicado em fins de setembro o parecer do Ministério Público Eleitoral Federal (ver imagem), que diz: “Parecer pelo não conhecimento do recurso e, se eventualmente conhecido, pelo seu não provimento”. Preferi aguardar a decisão final do TSE, como o fiz, respeitando a família Marciano.
Também não fiz referência ao puxão de orelha do juiz Luiz Felipe Siegert Schuch, da 13ª Zona Eleitoral, dado no candidato no dia 22 de setembro, em processo administrativo por propaganda eleitoral irregular.
Poderiam me acusar de perseguição se houvesse dado crédito às denúncias levadas ao TRE-SC envolvendo a destruição de placas. Não o fiz. Se o fizesse, acredito agora, partiriam das páginas do Facebook para o assédio físico. Digo isso baseado em outro dado: o envio de mensagens por celular a liderança local, com expressões de baixo calão e acusações igualmente levianas. É crime, isso foi feito e está gravado.
E quem financia?
Quanto a quem financia o Daqui na Rede, a resposta é simples: eu, com a ajuda da família. Os dois anúncios existentes são cortesia, visando mostrar a eventuais anunciantes que existe espaço para isso. Essa parte comercial está sob os cuidados de Katrin Silva, antiga funcionária da sucursal do jornal A Notícia em Florianópolis, casada com o jornalista e professor Lúcio Baggio, moradora da Barra do Sambaqui. Graças a Katrin pudemos retornar com o Daqui Jornal. Ela executa um serviço profissional, não abriu nenhum balcão de negócios.
A parte editorial, referente à definição de pauta, cobertura (texto e foto) e edição, está sob minha responsabilidade. Tanto no Daqui Jornal quanto no Daqui na Rede. Nossa linha editorial é conhecida, buscando a valorização das iniciativas comunitárias e esportivas do distrito e respaldando as reivindicações mais sentidas das comunidades. Não cobramos pelas coberturas (textos e fotos) ou a publicação de notícias ou imagens.
O jornal se mantém a duras penas com os anúncios. O site resulta de um investimento que estou fazendo há dois anos, sempre na expectativa de em algum momento poder contar com anunciantes que possam garantir continuidade e ampliação de nosso labor. A edição do jornal com o anúncio de Cesar Farias apresentou um déficit de exatos R$ 400,00.
Desabafo
Entrei pela primeira vez numa redação de jornal em fevereiro de 1976. Eram tempos difíceis para a atividade jornalística. Cobri a Operação Barriga Verde, a campanha pela anistia, o ressurgimento do movimento estudantil nos anos 1970, a Novembrada, as campanhas das Diretas Já. Durante todos estes mais de 35 anos é a primeira vez que me acusam de tal coisa. Credito as leviandades aos ânimos exaltados das eleições, ao despreparo e imaturidade de alguns atores, mas fiquei profundamente chocado. Fiz as devidas consultas antes desta manifestação e recebi o apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina (de cujo Conselho de Ética fiz parte).
Link da matéria que originou a reação.
http://www.daquinarede.com.br/index.php/secoes/destaque/2006-tse-indefere-candidatura
*Celso Martins é historiador e jornalista, editor do Portal de Notícias Daqui na Rede e do Daqui Jornal
Imagem: Tali Feld Gleiser.