Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Dia normal, desses quando caminhávamos no fim do dia, na rua XV de novembro. Demasiadamente rápidos, pessoas malucas em cima de suas motos grandes, chamando atenção. A gente nunca gostou de coisa esganiçada, ressoante em nossos ouvidos.
Dia normal, até os companheiros estavam andando na rua, fotografando e colocando suas histórias dos sem máscaras no instagram. Sorrisos bem-dispostos, o ar parecia límpido, tempo desanuviado, era festa na plataforma dos algoritmos.
Os imprudentes chegavam nas casas, sentavam e bebiam como se fosse comemoração de aniversário. Nossa, 160 mil não vão comemorar vida, amargura não se celebra.
Pensei que o problema era a gente. Que absurdo, ainda estamos desassossegados, inquietos, aflitos com o tema. A gente coloca a máscara e já encomenda mais umas quantas. Fora de casa na necessidade é retorno ligeiro com aquele cismador pensamento. Lava tudo, esfrega as mãos com escova e quando senta para matear: os sem máscaras cruzam a frente de casa, olham e deixam sua indiferença na caixinha do correio.
Estou com medo do teu pouco-caso companheiro. Não pode defender-te com a faixa da neutralidade quando te olho e sinto que tua postura é um desamor. Meu temor é tua covardia de cara com a vida. Teu exclusivismo escancarado nas viagens não necessárias nesse momento, tuas idas às casas de reunião amontoadas de gentes.
Me causa sofrimento os sem máscaras alienados, mas contigo é diferente, me soa negligente, leviano, frívolo. Espera, seriam essas atribuições para o inimigo, não você!
Me causa dor teu descuido. Tua miséria comportamental. Eu poderia dizer-te: “Faça o que bem entender”, mas, não me é permitido ser tão rasa.
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Claudia Weinman é jornalista, vice-presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
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