O dia 25 de novembro foi declarado Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, no Primeiro Encontro Feminista da América Latina e Caribe realizado na cidade de Bogotá em 1981, como justa homenagem a “Las Mariposas”, codinome utilizado em atividades clandestinas pelas irmãs Mirabal, heroínas da República Dominicana brutalmente assassinadas em 25 de novembro de 1960.
Minerva, Pátria e Maria Tereza ousaram se opor à ditadura de Rafael Leônidas Trujillo, uma das mais violentas da América Latina. Por tal atitude, foram perseguidas e presas juntamente com seus maridos. Como plano para assassiná-las, uma vez que provocaram grande comoção popular enquanto estavam presas, o ditador acabou por libertá-las, para em seguida simular um acidente automobilístico matando-as quando iam visitar seus maridos no cárcere. Seus corpos foram encontrados no fundo de um precipício estranguladas e com ossos quebrados.
A notícia do assassinato escandalizou e comoveu a Nação. Suas idéias, porém, não morreram. Seis meses mais tarde, em 30 de maio de 1961, Trujillo é assassinado e com ele cai a ditadura. Inicia-se, então, o processo de libertação do povo dominicano e de respeito aos direitos humanos, como quiseram Pátria, Minerva e Maria Tereza, cuja memória converteu-se em símbolo de dignidade, transcendendo os limites da República Dominicana para a América Latina e o mundo.
50 anos das Irmãs Mirabal (matéria de 2010)
Por Odilon Cabral Machado.
Desnecessário dizer da comoção geral e da incredulidade da versão. O crime das irmãs Mirabal, suscitou revolta internacional e a situação de Trujillo ficou insustentável.
Neste 25 de novembro de 2010, comemora-se o cinqüentenário da morte das Irmãs Mirabal, covardemente assassinadas pela ditadura de Rafael Leónidas Trujillo de Molina, o Generalíssimo Presidente que governou com extrema violência a República Dominicana de 1930 a 1961.
Patria Mercedes Mirabal (27 de fevereiro de 1924 — 25 de novembro de 1960), Minerva Argentina Mirabal (12 de março de 1926 — 25 de novembro de 1960) e Antonia María Teresa Mirabal (15 de outubro de 1936 — 25 de novembro de 1960), conhecidas como Irmãs Mirabal, ou ainda, “As Borboletas”, nasceram na província de Salcedo no norte do país, de uma família importante daquela região, tendo o pai sido prefeito da cidade de Ojo de Água, no início da ditadura Trujillo.
O Generalíssimo Trujillo combinava ordem e violência em sua administração que se orgulhava por construir em Hispaniola, a ilha descoberta por Cristóvão Colombo, uma pátria dinâmica e progressista.
Seus métodos, profundamente personalistas, mantinham os dominicanos em estado de medo e permanente ameaça, pelo terror infundido com a violência de suas ações contra os de seu desagrado.
As irmãs Mirabal e seu assassino Rafael Leónidas Trujillo
Por outro lado, o General, homem já idoso, já passado dos setenta anos, gostava de exibir-se enquanto macho predador, servindo-se de familiares, filhas e esposas de auxiliares em busca de sucesso profissional e outras primazias de vantagens concedidas no pagamento de gozos e carícias.
Dizia-se, e isso era comum, que muitos pais se felicitavam em ceder suas filhas para gozarem ou dar prazer ao Grande Timoneiro, que trabalhava horas a fio pela República, sem descanso e sem cansaço, merecendo, portanto o justo deleite do guerreiro.
Neste toar, o destoar seria não aceitar, recusar as investidas do velho devasso, demonstrar-lhe nojo, rejeitar-lhe a macho lasso, sedento de carnes jovens, sobretudo virgens imaculadas para o desaguar de sua virilidade decadente em veleidade doentia.
E fora por resistir-lhe as investidas amorosas deste tipo que se armara um fosso intransponível entre as Mirabal e o asqueroso General.
A história, conta-se como fato pouco provável, acontecera quando Minerva Mirabal, estudante colegial destacada, fora homenageada em plena formatura, solenidade com a presença do General Presidente.
Minerva chamou-lhe a atenção pela beleza de porte, pela elegância firmada numa garota recém saída da adolescência. E, como de costume, o General nela viu alguém de quem deveria desfrutar o carinho de sua juventude.
Há homens que têm esta necessidade de variar o cardápio sexual para se sentirem vivos, acesos e radiantes. A chama sensual só os inflama quando o inusitado acontece, suscitando a conquista sem preocupação com a manutenção da posse.
O comum, o rotineiro, o amplexo conjugal, tudo os exaure, evidenciando uma fraqueza perante a maioria que se satisfaz, se delicia e se preenche em fidelidade de parceria única como cisnes.
Não era o caso de Trujillo que embora apresentasse um casamento longevo, este só existia como farsa, daí querer avançar sobre todas as mulheres que lhe despertassem atenção.
E Minerva lhe pareceu mais uma garota das suas conquistas. Ela pretende cursar Direito, precisa da sua provação para tal. O General manda em tudo. Escolhe até quem vai cursar ou não a faculdade. Daí,… por que não condicionar o vestibular a uma entrevista de carinhos?
Conta-se, e aí parece pouco provável, que Minerva fez uma desfeita explícita aos galanteios do General. É possível que não tenha chegado a tanto. O velho Ditador não lha permitiria sair, após a ofensa, com integridade mantida. Mas o folclore repete que o Ditador fora esbofeteado em plena dança por Minerva, que lhe rejeitara um bolinar de suas nádegas.
A resposta de Trujillo foi imediata. Naquele instante o pai da Mirabal, perde a Prefeitura de Ojo de Água, torna-se “persona non grata” do regime, é encarcerado e torturado, tem sua residência e propriedades espoliadas, tudo que force um pedido de desculpas em retratação de Minerva.
E como de ordinário nos indivíduos atrabiliários. Ao pedido de desculpas é concedido um perdão magnânimo com a libertação do pai, a devolução do patrimônio desapropriado e até a licença para o Curso de Direito. Provas generosas da tolerância do Generalíssimo aos seus desafetos.
O que Minerva não sabia é que o General programara uma vingança tardia, desfecho que só aconteceria quando da sua graduação em Direito, com o General lhe negando o exercício da profissão. Sua punição era formada ser forçada a se enterrar em Salcedo como aldeã e camponesa.
O que se soube depois é que no tempo de estudante na Universidade, Minerva ingressara num movimento estudantil de resistência contra o regime, recebendo o nome de Borboleta.
Poucos nomes como borboleta dispõem nos variados idiomas, uma sonoridade destacada como a dada a este inseto lepidóptero. No português chamamo-lo borboleta, no francês, papillon, no inglês, butterfly, no italiano, farfalla, no alemão, Schmetterling e no espanhol, mariposa, denominação que depreciativamente denominamos às mulheres de vida fácil.
Não era o caso da Mariposa, Minerva Mirabal, que aliava inteligência, disciplina, organização, liderança e coragem para agir, jogando e fabricando coquetéis Molotov, até em ataques terroristas na oposição a Trujillo.
Por tal envolvimento no combate ao regime, luta da qual participa o seu marido e o de suas irmãs, Minerva, Patria, e Teresa Mirabal são presas, torturadas, sofrendo na pele a intolerância de Trujillo.
O velho Ditador era reverenciado pelos Estados Unidos. O Americano Foster Dulles o tinha como um grande “filho da puta”,… “But, He is our son of bitch”.
Ele possuía bom entrosamento com Franco da Espanha, Somoza da Nicarágua, Perón da Argentina, amigo de Eisenhower, do próprio Kennedy, aliado contra Cuba. Até o Presidente Juscelino Kubistchek o visitara em pleno mandato numa Feira em Ciudad Trujillo.
Por outro lado havia na República Dominicana uma aliança tácita entre o Governo e as instituições como a Igreja Católica, que lhe abençoava a atuação tida como clarividente e necessária, tendo o próprio Generalíssimo sido agraciado pelo Papa Pio XII com a Grande Cruz da Ordem Papal de São Gregório.
Mas a sucessão de violência vai corroendo a estátua do General. Em janeiro de 1960 há a divulgação da Carta Pastoral dos bispos denunciando a ditadura, depois há o envolvimento do regime no atentado contra o Presidente Bettancourt da Venezuela em junho do mesmo ano. O atentado suscita sanções da OEA e dos Estados Unidos contra o regime de Trujillo.
Este, porém, sente-se inabalável. Contra os padres, chegou a reunir malandros e arruaceiros, para invadirem igrejas cobrando dos prelados mais refratários punições contra desmandos escandalosos no clero, e se servindo de prostitutas grávidas e seminuas para acusar os bispos de engravidá-las.
Finalmente há a gota d’água com o assassinato das irmãs Mirabal.
Minerva, Patria e Teresa Mirabal
Num feito covarde e estúpido, travestido de largueza e longanimidade, o General permitiu que no dia 25 de novembro de 1960, as três irmãs Mirabal visitassem os seus esposos encarcerados na Penitenciária de Puerto Plata. Autorização que o próprio General fizera questão de visitá-las para comunicar a notícia em gesto amistoso de afeição.
Na verdade o Ditador queria transparecer nas Mirabal uma traição á causa abraçada. Sua visita sinalizava ao público, aliados e oponentes, que as Mariposas, como assim eram chamadas, tinham aderido ao regime, atraindo contra si ó ódio dos seus companheiros de luta, quem sabe para justiçá-las.
Se corresse tudo bem, a morte de “Las Mariposas” pareceria uma briga entre terroristas, sem o dedo de Trujillo.
E o crime pareceu assim. Na volta do presídio e da visita aos esposos encarcerados as três irmãs Mirabal têm o veículo interceptado, sendo espancadas até a morte, junto com o motorista, sendo os seus corpos com a viatura que as conduzia jogado montanha abaixo, como se fora um acidente.
Desnecessário dizer da comoção geral e da incredulidade da versão. O crime das irmãs Mirabal, suscitou revolta internacional e a situação de Trujillo ficou insustentável.
No âmbito interno, sua morte foi urdida com carinho, e aconteceu num atentado à bala seis meses depois, em 30 de maio de 1961.
Há quem diga, e Vargas Llosa o repete em seu “A Festa do Bode”, que até São Tomas de Aquino foi empregado para justificar a eliminação de Rafael Trujillo. Descobriram nos escritos do Filósofo Santo que: “A eliminação física da Besta é bem vista por Deus se com ela se liberta um povo”. Si no es verdad…
Mais recentemente, em 17 de dezembro de 1999, a Assembléia Geral das Nações Unidas declarou que 25 de novembro é o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, em homenagem ao sacrifício de Las Mariposas.
E neste 25 de novembro de 2010, sejam lembrados e louvados os nomes de Minerva, Patria e Teresa Mirabal, o cinqüentenário da morte de “Las Mariposas”, por todos que amam a liberdade e se enojam em repulsa a qualquer violência contra a mulher.
Túmulo das Irmãs Mirabal
Na impossibilidade de colocar flores no seu túmulo, que lhes cheguem as minhas preces.
Fontes: Femininoplural e Infonet.