Dia Internacional Contra Discriminação Etno-racial revela França em atraso

Manifestação em Paris contra o racismo no marco do Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial. Foto: AFP

RFI.- Uma  resolução das Nações  Unidas, que data de 1966, estabeleceu  21 de março, como o Dia Internacional para a Eliminação da  Discriminação Etno-racial. Na França, a defensora dos direitos, assim como vários observadores apelaram  a  lutar contra as  discriminações  através da  implementação de  novas  medidas, nomeadamente o reforço das acções judiciais e a mudança dos processos de recrutamento nas empresas.

Segundo Malik Salemkour, presidente da Liga  dos  Direitos  Humanos, francesa,  “a  França  regista  um  verdadeiro  atraso  no que  toca  à questão  da luta contra  as  discriminações  etno-raciais“.

Salemkour considerou que há uma grande falta de  vontade política e interministerial, à semelhaça  do  que se  passa com  a  questão da igualdade  entre homens e mulheres.

De acordo com o relatório anual da  Defensora dos Direitos, divulgado no dia 18 de março de  2021, na França “as  pessoas de origem estrangeira  ou vistas  como tais,  são  desfavorecidos no  que diz respeito ao acesso ao emprego e  à habitação, assim como mais expostas, ao  desemprego, à precariedade, à  má habitação, aos controlos policiais, à degradação do estado de saúde e às desigualdades escolares”.  

Segundo ainda o citado relatório,a  maioria  das discriminações etno-raciais denunciadas, prendem-se  com  a  procura de emprego.

O  investigador, professor  da Universidade de Paris 1-Panthéon-Sorbonne e  presidente do Observatório das Discriminações, Jean-François Amadieu,  afirma que  “um nome e um nome próprio com conotação estrangeira num currículo,  reduzem  de 22% as  hipóteses de uma pessoa conseguir um emprego.”

Amadieu sublinha que a  situação é  idêntica nos Estados Unidos, não obstante a implementação de políticas de discriminação positiva.

Todavia, o  investigador francês  constata  que,  há uma grande variabilidade, em  função  dos  sectores.

Por outro  lado, o  presidente  dos Observatório das Discriminações  considera que  independentemente da mudança de métodos, a França deverá aplicar penalidades mais severas às empresas, instituições e  organismos  que praticam a distcriminação etno-racial.

Segundo  um inquérito  de opinião realizado pelo instituto Ipsos, um  francês em cada dois considera que as discriminações étnicas foram exacerbadas pela pandemia de coronavírus.

De  acordo  com  o referido estudo , efectuado  em 27 países, 52%  dos franceses  afirmam  que  a crise sanitária  de 2020 tornou-se um factor de agravamento das  discriminações  étnicas, em matéria  de habitação, emprego, educação, bem como de serviços sociais.

Ao nível mundial, 46 % de pessoas interrogadas consideram que as discriminações étnicas  aumentaram com  a pandemia  e  43%  pensam que a epidemia  de coronavírus não  teve nenhum impacto.

O inquérito  de opinião  foi realizado  entre 22 de janeiro  e 5  de fevereiro de 2021, por intermédio da plataforma Global Advisor do Ipsos, junto  de  20.020 pessoas , numa faixa  etária entre 18 e 74 anos, em 27 países.

O  Dia Internacional para a Eliminação da  Discriminação Racial foi aprovovado em 1966 por uma resolução das Nações Unidas, em homenagem a memória das vítimas do massacre de Sharpeville, em  21 de Março  de 1960.

Na  referida  data, uma manifestação pacífica de sul-africanos, em Sharpeville ,contra a  implementação das chamadas  “pass laws”, leis decretadas  pelo sistema de apartheid sul-africano em 1948, para controlar através de um passaporte interno o direito de circulação, assim como de habitação dos cidadãos africanos da África do Sul,  ditos não  “brancos“, foi  severamente reprimida pelas forças policiais “brancas“, que dispararam e  mataram 69 pessoas.

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