Por Elaine Tavares.
Já virou uma tradição no Campeche. Todo primeiro de maio tem festa comunitária. As pessoas se reúnem na praia, em frente ao rancho da canoa do seu Getúlio para juntar energias e pedir bênçãos. O desejo é de que as tainhas cheguem e possam ser colhidas na força do braço dos remadores de canoa artesanal, coisa que ainda sobrevive por aqui. Desde as primeiras horas do dia, o cheirinho de café assoma de dentro do rancho e as gentes vêm com seus pratinhos. Cada um traz um tipo de bolo, uma cuca, um melado, um doce de leite e ao final, todos podem comer e se preparar para o dia de atividades.
Às nove e meia começa a procissão. Como o povo do Campeche é bem religioso, as pessoas preparam as imagens de São Sebastião, padroeiro do bairro, São José, o carpinteiro, que representa todos os trabalhadores, São Pedro, o protetor dos pescadores e Nossa Senhora dos Navegantes. A caminhada sai da estátua do pescador, na entrada da praia, percorre uma parte da areia e chega no rancho onde já está preparada a missa. Rezas, oferendas, cantorias. Tudo representa o desejo de que a pesca seja farta.
Depois, terminada a parte religiosa é chegada a hora da festa. Quem principia é a Dona Bilica, personagem de Vanderleia Will, que é adorado no Campeche. Fazendo uma típica moradora da ilha ela encanta todo mundo com seu jeito de falar, suas histórias e suas críticas. “Esses políticos vêm aqui dizer que a pesca só começa dia 15. É dia 15 para os artesanais. Enquanto isso os atuneiros estão aí arrastando os peixes”. Bilica é puro encantamento, recuperando de forma divertida a cultura desse lugar tão aviltado pela especulação.
A roda de capoeira, um projeto que viceja no rancho de canoa, prepara seus berimbaus e tambores e o ritmo malemolente invade a praia, enquanto as crianças arriscam passos da dança/luta. A banda de música, outro projeto do rancho, entoa os acordes dos aprendizes e mostra que a música pode vingar em qualquer lugar, mesmo num rústico rancho de pescadores.
A surpresa do ano foi a apresentação do grupo ilhéu “Gente da Terra”, que deu um show de cultura. Com sua música animada, cheia de elementos da vida da ilha, do tempo passado e do presente, colocou todo mundo para dançar. O almoço forrou as barrigas e o arrasta-pé se estendeu até o final do dia com a junção de vários músicos da região e de cidades vizinhas que vieram para a festa. Foi um rico dia de festa comunitária…
Dessas coisas que só parecem possíveis por aqui pelo Campeche.