Por Emilly Dulce.
“Para mim, o Dia da Visibilidade Trans tem um caráter de luta e de luto”. A frase é de Camila Godoi, mulher transexual e lésbica, e resume a vida de milhares de transexuais e travestis no Brasil, que lutam por trabalho, políticas de saúde, contra a violência e, inclusive, pelo reconhecimento da própria existência.
“Esse Dia Nacional da Visibilidade Trans é um dia de luta e de luto também porque nós temos sempre que lembrar as várias mulheres e homens trans, as várias vivências transgêneras, englobando transexuais, travestis, não-binários etc, que morreram ou sofreram tantas violências apenas por serem quem são”, diz a engenheira química.
Para evidenciar as particularidades dessa população, o dia 29 de janeiro foi consagrado como o Dia da Visibilidade Trans e marca a luta por inclusão e pelo acesso a direitos de cidadania.
Camila Godoi, com mais de vinte anos de carreira docente, também integra a banda de rock feminista LGBT Clandestinas. Ela ressalta que os avanços conquistados pela população transexual são resultado de muita luta e resistência: “Se a gente recordar as conquistas que nós tivemos na Constituinte, a Lei Maria da Penha, e outras leis tão importantes, essas conquistas sempre se deram através de muita luta, de muita mobilização, nunca foi um benefício concedido pelo Estado.”
Um dos maiores desafios encontrados pelas pessoas trans é o combate à transfobia. O ano de 2017 registrou o maior número de homicídios relacionados à transfobia da última década, totalizando 179 assassinatos, ou seja, uma pessoa trans foi morta no país a cada 48 horas.
De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o primeiro lugar em quantidade de homicídios de pessoas LGBTs, sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, nas Américas e também é o líder em assassinato de pessoas trans no mundo.
Para Camila Godoi, a pauta trans precisa ser mais debatida, especialmente dentro das escolas e universidades brasileiras. “Discutir identidade de gênero, de orientações sexuais é essencial no âmbito do ensino, para que não só a transfobia, a lesbofobia, a homofobia, a bifobia, mas também o próprio machismo possa ser combatido”.
Movimentos populares
Em diálogo com o Dia da Visibilidade Trans, a Editora Expressão Popular lançou, nesta segunda-feira, o livro Hasteemos a bandeira colorida: diversidade sexual e de gênero no Brasil.
Leonardo Nogueira é um dos autores da publicação e conta que o objetivo é discutir a temática pela ótica dos diversos movimentos populares. “Pensar a importância desse livro é pensar necessariamente que esse campo da esquerda brasileira tem se voltado a essa reflexão, sobre a importância de introduzir o debate da diversidade sexual nas lutas anticapitalistas”.
O livro traz reflexões sobre a relação entre capitalismo, patriarcado e racismo, além de oferecer considerações acerca da diversidade sexual em uma perspectiva de emancipação humana.
A publicação também se dedica à análise dos processos históricos de resistência e organização de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Pessoas Trans nos marcos da luta de classe, além da experiência social dos LGBTs sem-terra e a sua participação na luta pela reforma agrária popular.
Leonardo Nogueira destaca que a discussão da diversidade sexual e de gênero transcende o universo LGBT: “Pensar a necessidade de incorporar esses temas não como uma questão periférica, não como uma questão particular desses indivíduos, mas como uma questão fundamental para um projeto de classe que pensa a sociedade como um todo”.
O livro Hasteemos a bandeira colorida: diversidade sexual e de gênero no Brasil já está disponível para compra no site da Editora Expressão Popular.