Por Cida de Oliveira.
O acelerado processo de desmatamento da Amazônia, que tem preocupado o mundo inteiro, deixou de ser o único problema. Estudo realizado por cientistas do Brasil e dos Estados Unidos publicado nesta quinta-feira (10) na revista especializada Science mostra que de 1992 a 2014 a degradação foi bem maior do que o desmatamento. Enquanto a área degradada foi de 337.427 quilômetros quadrados, o desmatamento se espalhou sobre 308.311 quilômetros quadrados.
Enquanto o desmatamento se caracteriza pela derrubada de árvores em grande extensão de terra para transformá-la em pasto e lavouras, a degradação é a alteração gradual da vegetação ao longo do tempo, com a derrubada de árvores de maior interesse econômico, que fornecem madeiras nobres, e a abertura de estradas para o seu transporte. A ação do fogo também contribui para esse processo que leva ao empobrecimento da cobertura vegetal que impacta a fauna e reduz a biodiversidade.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores das universidades de Brasília (UnB), Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e do Michigan, nos Estados Unidos, utilizaram ferramentas de detecção automática de imagens utilizadas no sensoriamento remoto e no geoprocessamento, além de fazer trabalho de campo na Amazônia brasileira.
‘Mentira verde’
Com toda essa área desmatada e degradada, os cientistas constataram que a Amazônia brasileira está longe de ser preservada como apregoam o presidente Jair Bolsonaro, seu vice Hamilton Mourão e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. E muito mais perto de perder seu papel fundamental na regulação do clima.
Os dados derrubam a chamada “mentira verde”. Cunhada pelo climatologista Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a expressão refere-se à crença de que apenas o desmatamento é responsável pela destruição do bioma. E a estimativa de muitos ambientalistas, para os quais 80% da floresta é intocada.
“Pode ter no máximo 70% de área preservada. Como o desmatamento tem avançado, a gente pode estar caminhando para 65%”, diz o professor e pesquisador Marcos Pedlowski, da Uenf e um dos autores do estudo liderado por Eraldo Matricardi, professor do Departamento de Engenharia Florestal da UnB. “A degradação pode ser comparada a um câncer de grande intensidade se espalhando pelo organismo quase que imperceptivelmente”.
Segundo Pedlowski, a degradação poderá se manter nesse nível ou até mesmo aumentar. Para obter dados mais consistentes, ele e os colegas estão analisando dados de 2015 a 2018. “De qualquer forma, mesmo que a taxa se mantenha estabilizada, é muito ruim. Nossas medidas são bastante conservadoras porque no estudo consideramos apenas as formas perceptíveis, e não qualquer forma de degradação.”