Desterro

Por Emanuel Medeiros Vieira.

Para todos aqueles que conheceram uma ilha ainda bela, não
loteada  e  (hoje– sem nostalgia) vendida na bacia das almas

Desterro cumpriu-me
e cumpriu-se.

O rio começava atrás de casa
(como eu),
e foi embora  – afluentes.
Vento sul, Campo do Manejo, Rita
Maria, Rio da Avenida, Miramar,
bala queimada, Catecipes, Praia do Muller,
procissão do Senhor Morto, Cine Rox,
gibis, Grupo Escolar Dias Velho,
Chico Barriga D’Água, paixão camuflada pela menina
da Rua de Cima – ela nunca soube.)
Só enuncio: acumulo – sobrecarregado.

O rio foi embora.
Casa demolida, mãe na soleira da porta, pitanga no
quintal, regata na Baía Sul, matracas, turíbulos, trapiche da
Praia de Fora, gaita-de-boca, groselha, tainha frita,
fogão de lenha, beliches, pé de amora.

Perdeu-se o rio: não sei do seu delta.
Perdi-me: tiro certeiro na gaivota.
A rua pequena, era a maior do mundo – coração.

Desterro inunda-me:
outrora/agora.

 

* As fotos usadas são da coleção de Velho Bruxo/Edson Luiz de Sousa e do acervo da Casa da Memoria/FC-FFC.
Grato

1 COMENTÁRIO

  1. Quem nasceu nesta magia… onde o vento sul era o único e o maior invasor
    Está, neste momento, anestesiado de tanta destruição…
    Perde-se a cada dia, aquela simplicidade que era tão nossa

    Adorei teu poema e lamento
    Um forte abraço

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