Por Giovanna Galvani.
O desmatamento nas terras indígenas bateu recorde em 11 anos, segundo estudo divulgado nesta segunda-feira 16 pelo Instituto Socioambiental (ISA). O levantamento mostra que, entre agosto de 2018 e julho de 2019, a destruição das florestas nas terras indígenas amazônicas chegou a 42,6 mil hectares. O número é equivalente a 51 milhões de árvores abatidas, a maior extensão desde o período entre 2007 e 2008.
Os números foram analisados pelo ISA com base nos dados oficiais do Programa Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados no fim de novembro.
As seis áreas indígenas mais desmatadas estão no sudoeste do Pará, segundo indicam os dados do Prodes/Inpe. A região acumula 80% de todo o desmatamento cometido nas terras indígenas na Amazônia no período analisado. A terra Ituna-Itutá é o caso mais grave registrado: os 12 mil hectares derrubados representam um aumento de 656% em relação ao mesmo período do ano anterior.
“Ele [o território] tem registros de povos indígenas isolados, muito vulneráveis a conflitos e doenças. A Funai informou à reportagem que realizou três expedições, neste ano, para tentar localizá-los e que “novas atividades” estão planejadas para 2020?, cita o ISA.
De acordo com a ONG, as declarações contra a demarcação de terras indígenas e as políticas enfraquecidas de monitoramento das queimadas e do desmatamento fortalecem a escalada dos hectares destruídos.
Apesar dos dados conversarem com a maior crise da Amazônia em anos, a derrubada de vegetação nas terras indígenas representa apenas 4,2% do desmatamento total do bioma. “A grilagem de terras, o garimpo ilegal e o roubo de madeira praticados por invasores seguem como os principais vetores do problema”, relata o ISA.
Em números absolutos, a quantidade de operações de fiscalização, prevenção e coleta de informações realizadas pela Funai (Fundação Nacional do Índio) se manteve estável, mas o Instituto ressalta que as ações feitas pelo Ibama que tiveram uma queda de 22% em 2019. Além disso, há maior dificuldade em sobrepor o tom de destruição por parte das operações realizadas.
“A retórica antiambiental e anti-indígena agrava as dificuldades da fiscalização, que também influenciam os índices de desmatamento, ao respaldar quem comete crimes ambientais e mobilizar a população local contra quem os combate”, pondera a ONG.