(Des)informações midiáticas sobre a Venezuela. Por Francisco Fernandes Ladeira.

Foto: RS via Fotos Públicas

Por Francisco Fernandes Ladeira.

“No domingo (28/7), o ditador Nicolás Maduro, de maneira fraudulenta, foi eleito para seu terceiro mandato como presidente da Venezuela. As pesquisas de intenção de voto apontavam a vitória do principal candidato opositor, Edmundo González Urrutia, apoiado por María Corina Machado, impedida de disputar a eleição pelo regime bolivariano. A comunidade internacional, prontamente, não reconheceu o resultado. Além disso, Maduro havia declarado que, se perdesse, haveria um banho de sangue no país”.

O trecho acima resume como a grande imprensa brasileira cobriu a eleição presidencial venezuelana. Poucas vezes, na história da comunicação de nosso país, se viu tanta desinformação. Aliás, juntamente com a Coreia do Norte, a Venezuela é o país representado de forma mais caricata nos noticiários internacionais.

Leia mais:A face oculta de Edmundo González.

Para início de conversa, Maduro não é ditador. Podemos aprovar ou reprovar sua atuação enquanto presidente, mas ele foi escolhido em processos eleitorais que respeitaram todas as normas constitucionais. Caso contrário, seria o único exemplo na história da humanidade de “ditador” que tem que concorrer em eleições periódicas para se manter no poder. Essa “fraude” que oposição e imprensa alegam só existe no plano discursivo; até hoje não apresentaram prova alguma. Bravata pura!

Já as pesquisas de opinião que apontavam a vitória de Edmundo González têm tanta credibilidade quanto postagens em grupo de zap bolsonarista. São apenas pseudo-argumentos para alimentar o ímpeto golpista da oposição venezuelana. Edmundo González só é popular na realidade paralela dos noticiários da GloboNews. Trata-se de mero fantoche de María Corina Machado.

Por falar nela, María Corina é a típica latino-americana a serviço dos interesses estadunidenses; o oprimido que adota o opressor. Em seu histórico, há participação no golpe de Estado contra Hugo Chávez em 2002, pedidos de sanções e intervenção armada contra seu próprio país e assinatura da Carta de Madri, um dos símbolos da chamada “Internacional Fascista”, que ainda contou com Eduardo Bolsonaro, Javier Milei e Georgia Meloni.

Evidentemente, jamais saberemos dessas informações assistindo à GloboNews. Quando Daniela Lima denunciou a Internacional Fascista, por motivo óbvios, não mencionou María Corina. Com uma ficha corrida dessas, estranho não é Corina estar inabilidade para ocupar cargos públicos; mas não estar presa por lesa-pátria.

Por outro lado, quando a expressão “comunidade internacional” é utilizada na grande mídia quer dizer “Estados Unidos e aliados”. Rússia e China, dois países importantes da geopolítica global, prontamente reconheceram a eleição de Maduro para o terceiro mandato.

Também é preciso esclarecer que o “banho de sangue”, a qual Maduro se referiu em caso de derrota, não é uma ameaça; deve-se ao histórico de violência da extrema direita (o que foi constatado nas manifestações de grupos que não aceitaram o resultado eleitoral). No poder, com o controle do aparelho repressivo do Estado, a extrema direita seria ainda mais violenta.

Mas não basta desinformar; é preciso ditar os rumos da política venezuelana. Nesse sentido, na Jovem Pan, Luiz Felipe D’Avila (aquele mesmo, candidato à presidência pelo Partido Novo) elaborou um “plano de saída honrosa” para que Maduro deixe o poder (mesmo tendo vencido a eleição no domingo).

Segundo D’Avila, a comunidade internacional (leia-se, Estados Unidos) retiraria Maduro do governo e permitiria que ele continuasse a morar na Venezuela, em liberdade, mas sem direitos políticos (ou então poderia negociar uma saída para outro país). O Conselho Nacional Eleitoral reconheceria a fraude e Edmundo González Urrutia assumiria a cadeira presidencial. “Democracia” e “Liberdade” voltariam a reinar na Venezuela. Simples assim.

E ainda há quem diga para levarmos a Jovem Pan a sério!

Assista ao comentário no link abaixo:

 

Francisco Fernandes Ladeira é Licenciado em Geografia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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