Por José Eustáquio Diniz Alves.*
A crise econômica brasileira está longe de ser resolvida e o resultado negativo mais visível aparece no mercado de trabalho. O IBGE divulgou os resultados trimestrais de mar-jun-jul de 2016, da PNAD Contínua.
A população desocupada no trimestre móvel encerrado em julho de 2016 ficou em quase 12 milhões de trabalhadores (11,8 milhões de pessoas), número que cresceu 3,8% na comparação com o trimestre fevereiro-abril (11,4 milhões), um acréscimo absoluto de 436 mil pessoas. No confronto com igual trimestre do ano passado, o desemprego subiu 37,4%, significando um aumento de 3,2 milhões de pessoas desocupadas em um ano.
A taxa de desocupação ficou em 11,6% no trimestre móvel encerrado em julho de 2016, ficando 0,4% acima da observada no trimestre móvel que vai de fevereiro a abril (11,2%). Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, quando a taxa de desocupação estava estimada em 8,6%, o quadro também foi de elevação (3% mais elevada).
Já a população ocupada (90,5 milhões) ficou estável quando comparada com o trimestre de fevereiro a abril de 2016. Em comparação com igual trimestre do ano passado, quando o total de ocupados era de 92,2 milhões de pessoas, o declínio foi de 1,8%, significando uma redução de 1,7 milhão na população ocupada. Como o Brasil tem mais de 206 milhões de habitantes, a percentagem de pessoas ocupadas está bem abaixo de 50%.
O número de empregados com carteira assinada (34,3 milhões) não apresentou grande variação em comparação com trimestre de fevereiro a abril de 2016. Contudo, frente ao trimestre de maio a julho de 2015, houve queda de 3,9%, uma perda de 1,4 milhão de pessoas com carteira assinada, significando uma redução da taxa de formalização do emprego, indo ao contrário do ideal indicado pela OIT na meta de pleno emprego e trabalho decente.
O aumento da desocupação e a falta de dinamismo do mercado de trabalho se reflete na queda do poder de compra. O rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos (R$ 1.985) não se alterou frente ao trimestre de fevereiro a abril de 2016 (R$ 1.997), mas apresentou um declínio de 3,0% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.048).
Assim, a massa de rendimento real habitualmente recebida em todos os trabalhos no trimestre mai-jun-jul de 2016 ficou em R$ 175,3 bilhões, abaixo do valor de R$ 175,4 bilhões no trimestre mar-abr-mai de 2013. Ou seja, o montante de dinheiro na mão dos trabalhadores é hoje em dia menor do que aquele existente 3 anos atrás.
Em relação ao pico de 2014, quando a massa salarial atingiu R$ 186,2 bilhões a situação atual é que o Brasil tem um montante de 11 bilhões a menos por mês circulando na economia e seria urgente retomar o crescimento do emprego e a capacidade de geração de renda, para que a economia sai da recessão.
Os dados das Contas Nacionais do IBGE também mostram que o Brasil está em recessão desde o segundo trimestre de 2014 e vive atualmente a sua mais longa e profunda crise econômica. Isto mostra que o país está em uma fase submergente.
Tudo isto agrava o déficit público e faz crescer a dívida pública.
O Brasil registrou um rombo de R$ 12,8 bilhões em julho de 2016 já que a União, estados, municípios e empresas estatais gastaram muito mais do que arrecadaram. Foi o pior resultado para o mês já visto desde quando o Banco Central passou a registrar os dados, em 2001.
Nos sete primeiros meses do ano, o país está no vermelho em R$ 36,6 bilhões, também o maior déficit primário registrado no período. Por causa desse descontrole das finanças públicas, a dívida pública brasileira já está próxima de 70% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país em um ano). Como o Banco Central decidiu manter, por unanimidade, os juros básicos em 14,25% ao ano, durante a nona vez que o Comitê de Política Monetária (Copom), o pagamento de juros vai agravar o endividamento e pode colocar o Brasil no mesmo caminho da Grécia.
A queda da atividade econômica, o endividamento e perda do poder de compra dos trabalhadores acirra a crise social e agrava os problemas fiscais do governo. Não há como fazer política social sem uma base econômica sólida. Inclusão social não se faz no vácuo. No quadro atual, as perspectivas de uma retomada robusta ficam mais distantes e mais difíceis. O Brasil passa por um triste momento e, apesar da festa olímpica, há um sofrimento imenso da população.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]
Fonte: EcoDebate