Por Marcelo Menna Barreto.
Histerese, um conceito da física que versa sobre o magnetismo clássico, hoje também é uma palavra utilizada por economistas para transmitir a ideia de que crises podem ter efeitos muito duradouros ou até permanentes. Em tuíte recente, Marcio Pochmann materializa essa palavra que pode soar afetada ao registrar que em cinco anos houve uma grande virada na economia brasileira que, em suas palavras está sendo um período “de maior sofrimento humano”.
Segundo o economista que supervisionou o Escritório Regional do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Distrito Federal, em 2014, na “metade da década de 2010, havia escassez da mão de obra qualificada e pleno emprego. Em 2019, o último ano da década de 2010, o desemprego dobrou para os mais escolarizados, provocando a ‘fuga de cérebros’, enquanto 1/4 procura trabalho”.
A “fuga de cérebros” citada por Pochmann de certa forma é atestada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, que, em estudo que é realizado desde 1991, registrou que no ano de 2018 – pela quarta vez consecutiva – o número de brasileiros que imigraram legalmente para os Estados Unidos atingiu o recorde.
Para o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, em geral quem migra legalmente do Brasil é “o trabalhador com qualificação mais elevada”, exatamente aqueles que “têm maior potencial para contribuir com ideias”, analisa. Borges aponta que são exatamente os profissionais mais escolarizados, que facilmente são aceitos pelas políticas migratórias oficiais, são os ditos inovadoras, capazes de elevar a eficiência das economias. Por isso, ainda na análise de Borges, essa emigração – se definitiva – prejudica o potencial de crescimento de longo prazo do Brasil.
De fato, a tendência de saída de brasileiros para países desenvolvidos está associada à crise econômica dos últimos anos. Em 2018, foram emitidos 4.458 vistos, um acréscimo de 27% em relação a 2017.
Desalento gera perda de capital humano
Outro dado que corrobora com o desabafo de Marcio Pochmann vem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o número de brasileiros desocupados de forma ininterrupta há mais de dois anos triplicou de 1,1 milhão para 3,3 milhões entre o último trimestre de 2014 e o primeiro deste ano.
Os chamados trabalhadores desalentados – aqueles que gostariam de estar empregados, mas desistiram de buscar vagas diante da conjuntura adversa – se multiplicou praticamente por três e chegou a 4,4% do total de profissionais em idade ativa no primeiro trimestre de 2019, segundo o IBGE.
Para o economista Sergio Firpo, professor do Insper, esse afastamento prolongado do mercado de trabalho faz com que os trabalhadores se tornem menos produtivos. “Depois de muito tempo, os profissionais se desatualizam e tendem a perder parte do capital humano que tinham acumulado”, explica ao registrar outro fato preocupante: caso no futuro esses profissionais acabem reabsorvidos, a hipótese aponta que os mesmos serão menos eficientes, limitando o crescimento das empresas e do país.
Para recrutadores falta mão de obra qualificada
Estudo realizado no segundo semestre pela consultoria Robert Half disse que para 81% dos recrutadores, o Brasil está apresentando falta de mão de obra capacitada.
O trabalho que utiliza dados do IBGE, apresenta que a taxa de desemprego dos profissionais qualificados, trabalhadores com 25 anos de idade ou mais e com formação superior, ficou na casa dos 6,1% no primeiro trimestre de 2019. Apesar de abaixo do índice geral (12,7%), foi verificado que houve um aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano anterior e de 0,8 ponto percentual contra o trimestre anterior.
Na análise de sua pesquisa, a Robert Half diz que apesar do resultado acompanhar a sazonalidade histórica do primeiro trimestre, “contudo, tal avanço ocorreu em intensidade menor do que a média para o período em anos anteriores, em virtude, principalmente, do vigoroso crescimento do desalento, que se situa nas máximas históricas”.