O número de internações de pacientes infectados pelo novo coronavírus no estado de São Paulo, em Unidades de Terapia Intensiva, cresceu 1.500% desde 20 de março, passando de 33 para 524 pacientes no último dia 3 de abril. A informação foi passada hoje (6) por Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e membro do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.
O número de pessoas que morreram por complicações da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, também cresceu, subindo 180% no mesmo período, no estado de São Paulo.
Segundo Covas, as mortes por covid-19 registradas entre 17 de março e 5 de abril, que já somam 275, é praticamente igual ao número de óbitos por gripe registrados no estado em todo o ano passado (297 em 2019). “Mas se não tivessem sido tomados nenhuma medida, no dia 13 de abril teríamos cerca de 5 mil óbitos. Com as medidas [de quarentena], esperamos chegar lá com menos de 1,3 mil óbitos”, disse Covas.
Apesar desse aumento no número de casos, o diretor do Instituto Butantan reforçou que a quarentena decretada no estado, 26 dias após a confirmação do primeiro caso em São Paulo, achatou a curva. Antes das medidas de restrição, a velocidade de transmissão do vírus era de uma para seis pessoas. No dia 20 de março, esse número caiu, passando de uma para três. No dia 25, já era de uma para menos de duas. Mas somente quando a taxa for menor do que um para um, informou o governo paulista, é que se poderá dizer que a epidemia foi controlada no estado.
Segundo o diretor do Instituto Butantan, com as medidas de restrição social, a partir do dia 23 de março, 66% dos paulistanos começaram a ficar em suas casas. No entanto, isso foi diminuindo nos últimos dias. Em 2 de abril, apenas 52,4% ficaram em suas casas na cidade de São Paulo e 51,8% no estado. O ideal, segundo ele, é que mais de 70% da população do estado permaneça em isolamento social. “Houve um arrefecimento do impulso inicial [de permanecer em casa]. Lembrando que, para que as medidas sejam efetivas, temos que ter acima de 70% de redução da mobilidade que é o que está acontecendo na Itália há mais de três semanas. Aqui ainda não chegamos lá. Precisamos chegar nesse nível de redução do afastamento social, acima de 70%. Essa é a única medida que temos no momento que é eficaz e eficiente para determinar a redução da taxa de contágio”, disse Covas.
Quarentena
Para tentar conter o avanço dos casos, que já está lotando hospitais – somente no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, são 220 pacientes suspeitos ou confirmados, dos quais 110 internados em UTI –, o governador de São Paulo, João Doria, determinou a prorrogação da quarentena por mais 15 dias. Nesse período, somente os serviços essenciais, como supermercados e farmácias, poderão funcionar normalmente. Com isso, a quarentena, prevista para se encerrar amanhã (7), será encerrada no dia 22 de abril.
Segundo Doria, o decreto de prorrogação da quarentena não apresenta mudanças em relação ao primeiro decreto: mas a ideia é que os guardas civis metropolitanos e, se necessário, a Polícia Militar, atue para impedir aglomerações. “Nenhuma aglomeração de nenhuma espécie em nenhuma cidade de São Paulo será admitida. As Guardas Municipais ou Metropolitanas deverão agir e, se necessário, recorrer à Polícia Militar para que imediatamente possa haver a dissipação de qualquer movimento ou aglomeração de pessoas. Esta é uma deliberação que deverá ser rigorosamente seguida pela população do estado de São Paulo na defesa de suas vidas e de seus familiares”, acrescentou Doria.
A decisão de prorrogar a quarentena foi tomada após reunião com 15 médicos do Centro de Contingência do coronavírus, que apontaram que o contágio já chegou a cem cidades paulistas e mais de 400 hospitais públicos e privados. Projeções apontam que prolongar o distanciamento social pode evitar mais de 166 mil mortes em todo o estado, além de 630 mil hospitalizações e 168 mil internações em unidades de terapia intensiva.
“A situação não está sob controle absoluto. Precisamos insistir para que esse distanciamento social seja efetivo. Se observamos, nos últimos dias, já na cidade de São Paulo, houve trânsito, manifestações, ocupações de praças. E eu faço esse apelo, em nome das instituições públicas que atendem esses casos: por favor, fiquem em casa”, disse Luiz Carlos Pereira Junior, infectologista e diretor técnico do hospital Emílio Ribas.
Casos
O estado tem hoje 4.620 casos confirmados do novo coronavírus, com 275 mortes. São 572 pacientes internados em unidades de terapia intensiva. Segundo a secretaria de Saúde estadual, mais de 400 hospitais, entre públicos e privados, já notificaram casos suspeitos de covid-19.
Os dados também apontam que o coronavírus mata dez vezes mais do que todos os tipos de meningite. Até o momento são 13,7 mortes diárias, em média, por covid-19, contra 1,3 morte/dia por meningite no estado em 2018.
Entre as vítimas fatais da COVID-19, 85,8% tinham 60 anos ou mais. Desses, 92,1% tinham algum tipo de comorbidade, ou seja, algum problema de saúde que agrava a infecção pelo vírus. Do total de mortos pela doença, de todas as faixas etárias e que tinham alguma comorbidade, 69,1% eram cardiopatas; 47,1% possuíam diabetes; 16,1% apresentavam pneumonia; 12,6% tinham algum tipo de doença neurológica; 7,6% possuíam imunodeficiência; 3,1% eram asmáticos; e 2,2% apresentavam doença hematológica.
David Uip
Recuperado da covid-19, o infectologista David Uip participou hoje da coletiva diária realizada pelo governador João Doria, reassumindo a função de coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo. “Há dois domingos me senti muito mal. Não conseguia falar. Estava extenuado”, contou Uip. “De domingo para segunda eu passei muito mal. A semana que se seguiu foi de extremo sofrimento. Na semana seguinte, voltei a fazer o exame e na tomografia apareceu a pneumonia. Felizmente, Deus me ajudou e venci a quarentena. Ficar isolado não é fácil, é de extremo sofrimento. Mas absolutamente fundamental. Eu tive que me reinventar, criar um David novo, seguramente mais humilde e sabendo os limites da vida”, disse ele. “Os que estão subestimando a doença, desejo ardentemente que não adoeçam. O sofrimento é grande”, acrescentou o infectologista, que foi bastante aplaudido pelos presentes na coletiva.