Descoberta uma nova causa da doença degenerativa, a mutação num gene que foi confirmada em doentes em todo o mundo.
Um estudo liderado por Teepu Siddique e conduzido ao longo de mais de 20 anos, com colaborações de grupos de vários laboratórios, demonstra que uma mutação num gene provocou Parkinson em pacientes de vários pontos do mundo. É o terceiro gene a ser associado à doença. A investigação, publicada na revista Nature Genetics, demonstrou ainda que esse gene está responsável por produzir uma proteína envolvida no transporte do neurotransmissor dopamina nos neurónios.
Os neurónios são as unidades básicas do cérebro e do sistema nervoso, e são as células responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, isto é, da informação do cérebro para os músculos ou órgãos e vice-versa. Os neurotransmissores são as substâncias químicas produzidas pelos neurónios para enviar informações a outras células, que podem ser os músculos ou órgãos, mas também podem ser outros neurónios. A dopamina é um desses neurotransmissores e, além de ser a percursora da adrenalina e da noradrenalina (moléculas que têm uma função estimulante do sistema nervoso central), está envolvida no controlo de movimentos, na aprendizagem, no humor, nas emoções, cognição e memória. A desregulação da produção dopamina está associada a doenças como esquizofrenia ou Parkinson. A perda de neurónios produtores de dopamina é uma característica definidora desta última.
No seu conjunto, os resultados deste trabalho dão novas pistas para explicar como a doença de Parkinson se desenvolve no cérebro, que podem ser úteis na produção de novas terapias para uma doença que não tem cura e tem muito poucas causas conhecidas.
“Pesquisas anteriores associaram a doença de Parkinson a vários fatores ambientais, mas as únicas causas diretas que se conhecem são genéticas”, afirmou Teepu Siddique, líder do principal grupo envolvido no estudo, da Universidade de Northwestern, em Chicago. “Já se afirmou que mutações em muitos genes causam Parkinson, mas essas teorias não foram validadas. Nós mostramos que mutações neste gene [a que chamaram TMEM230] levam a casos da doença provados patológica e clinicamente”, acrescentou.
Pensa-se que cerca de 15% dos casos de Parkinson são causados por mutações genéticas, principalmente nos dois outros genes (denominados SNCA e LRRK2). Os outros genes associados à doença, segundo Siddique, apenas foram relacionados com síndromes parkinsonianas, nome geral dado ao conjunto de sinais e sintomas de doenças neurológicas que não são Parkinson, mas que também provocam a perda de controlo motor.
A descoberta do gene
O projeto começou em 1996, quando o grupo começou a estudar uma família com 15 membros com sintomas típicos de Parkinson. À procura de uma mutação genética que pudesse explicar a prevalência da doença, fizeram uma análise genética a 65 membros da família, incluíndo 13 pessoas diagnosticadas com Parkinson.
Conseguiram restringir a pesquisa a uma pequena região do cromossoma 20 com 141 genes conhecidos. Usando uma tecnologia de sequenciamento genético, compararam as diferenças no DNA de um familiar saudável com quatro quatro pessoas com a doença. Os resultados não foram de interpretação imediata, pois os cientistas encontraram mais de 90.000 variações genéticas entre os genomas até que, finalmente, identificam o gene responsável pela mutação.
Uma vez identificado, foram estudar a função do gene e descobriram que codifica uma proteína que se localiza nas membranas das vesículas sinápticas, pequenos “sacos” dentro dos neurónios que armazenam neurotransmissores antes de serem enviados para outra célula.
“Os tratamentos atuais dos sintomas de Parkinson aumentam a quantidade do neurotransmissor dopamina que é libertada pelas vesículas sinápticas para células que se projetam em diferentes partes do cérebro que controlam a atividade motora, o humor e muitos outros sistemas de órgãos afetados pela doença”, explicou Siddique.
A teoria dos cientistas, é que a proteína esteja envolvida no movimento dessas vesículas. “Acreditamos que os defeitos no tráfego das vesículas sejam um mecanismo chave na doença de Parkinson, não apenas em casos com esta mutação, mas uma via comum para a maioria dos casos” acrescentou Han-Xiang Deng, outro autor do estudo que iniciou a pesquisa com Siddique, que explicou que os três genes que foram identificados como causas da doença, quando mutados, codificam proteínas nas vesículas sinápticas. “Os nossos resultados sugerem que normalizar o tráfego das vesículas sinápticas pode ser uma estratégia para desenvolvimento terapêutico futuro. Podemos desenvolver medicamentos que promovam esta via crítica”, afirmou Deng.
Por último, os cientistas confirmaram que a mutação no gene TMEM230 se verifica em casos de doentes com Parkinson também de fora da América do Norte. “Este gene particular que causa a doença de Parkinson não está limitado a uma população na América do Norte, tem distribuição global, é encontrado em condições étnicas e ambientais muito diferentes. São mutaçõess fortes” concluiu Siddique.
Foto: de Maurizio De Angelis, Wellcome Images/Flickr.
Fonte: Esquerda.net