Desafios internos e parcerias globais do Moçambique. Entrevista exclusiva com Dário Camal.

Se os EUA reduzirem sua presença no continente, Moçambique continuará a diversificar suas alianças para garantir estabilidade e crescimento econômico.

Arte de capa: Tali Feld Gleiser
Redação.- Resulta raro que no Brasil, um país majoritariamente negro e mestiço, jornalisticamente se esquive tanto falar da Mãe África. A resposta pula do teclado sozinha: o racismo estrutural também bate na hora de nos aproximarmos desse continente, não só irmão, quanto boa parte da nossa origem.
Só dois países africanos não foram colonizados, ou melhor, invadidos, violentados, pelos países europeus, Etiópia e Libéria. O restante dos países precisou se libertar do jugo colonial. Um deles, o Moçambique, que foi colonizado pelo império português a partir de finais do século XV e inícios do século XVI, veio se libertar só em 25 de junho de 1975. A Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, partido fundado em 1962, lutou por esse objetivo do povo moçambicano e obteve com ele essa independência.
O que acontece hoje no Moçambique? Houve desgaste ou não da FRELIMO ainda governando o país através de eleições? Por que os jornais europeus falam de violência pós-eleitoral? Essas e outras perguntas foram feitas pelo nosso jornalista, Raul Fitipaldi, para o mais jovem diplomata da história da comissão da União Africana, Dário Camal.
Aqui o diálogo:
Compromisso com a paz e a legalidade
R.F. Dario, os jornais de Moçambique continuam noticiando assassinatos, violência governamental, vandalismos, que têm origem na última eleição nacional. Como você observa a situação interna do país?
D.C. A estabilidade de Moçambique tem sido um objetivo primordial para o governo liderado pela FRELIMO, que trabalha para manter a ordem e garantir o desenvolvimento contínuo do país. Após as eleições de 2024, houve manifestações promovidas pela oposição, que contesta os resultados. No entanto, o governo tem reforçado o compromisso com a paz e a legalidade, garantindo que todas as questões sejam tratadas dentro do quadro constitucional e democrático do país. As forças de segurança têm agido para conter atos de vandalismo e proteger a população contra ações que possam desestabilizar a nação.
O processo a Venâncio Mondlane
R.F. Ontem, terça-feira, dia 11 de março, o ex-candidato presidencial derrotado, o opositor, Venâncio Mondlane, líder dos principais protestos contra a vitória eleitoral do atual governo, respondeu processos na Procuradoria Geral da República (PGR). Que lhe é imputado? 

D.C. O ex-candidato Venâncio Mondlane está a responder a processos na Procuradoria-Geral da República por incitação à violência e desordem pública, após incentivar protestos que resultaram em destruição de bens públicos e confrontos com as autoridades. O governo tem reiterado que a democracia moçambicana permite a liberdade de expressão e manifestação, mas dentro dos limites da lei. A resposta das autoridades tem sido baseada no respeito à ordem pública e à soberania nacional, assegurando que qualquer contestação eleitoral ocorra por meios legais.
Governança nacional
R.F. Que mudanças fundamentais, se há, você tem observado na trajetória da FRELIMO?
D.C. A FRELIMO tem demonstrado um compromisso contínuo com o crescimento econômico e a estabilidade política de Moçambique. O partido tem adotado políticas de inclusão social, desenvolvimento de infraestrutura e fortalecimento das relações internacionais para garantir progresso sustentável. Apesar dos desafios enfrentados, a FRELIMO continua sendo o pilar da governança nacional, promovendo iniciativas que beneficiam a população e asseguram um futuro promissor para o país.
As alianças no exterior
R.F. Que reflexão com relação ao continente africano lhe merecem os primeiros atos da administração Trump?
D.C. A nova administração Trump poderá redefinir as relações com a África, e Moçambique, sob a liderança da FRELIMO, está preparado para fortalecer laços diplomáticos estratégicos. A política externa do governo moçambicano é pautada no pragmatismo e na busca de parcerias que tragam benefícios concretos para o desenvolvimento nacional. Caso os EUA reduzam sua presença no continente, Moçambique continuará a diversificar suas alianças para garantir estabilidade e crescimento econômico.
Moçambique e o BRICS
R.F. A parceria de países africanos com o Brasil, a Rússia e a China pode ser ampliada nos próximos anos? Há expectativas no continente com relação ao BRICS, do qual África do Sul é fundadora e à qual se tem acrescentado o Egito e a Etiópia?
D.C. Parcerias africanas com Brasil, Rússia e China e expectativas em relação ao BRICS:
Moçambique tem sido um parceiro ativo dentro das novas dinâmicas globais e vê no BRICS uma oportunidade de fortalecer a cooperação Sul-Sul. A relação com países como Brasil, Rússia e China tem se mostrado frutífera, trazendo investimentos significativos em infraestrutura, energia e agricultura. A ampliação do BRICS, com a entrada de países africanos como Egito e Etiópia, reforça o papel do continente na geopolítica global. A FRELIMO continua empenhada em posicionar Moçambique como um parceiro estratégico dentro desse cenário, garantindo crescimento e desenvolvimento sustentável para o país.
Nascido no Hospital Central de Maputo, Moçambique, de nome completo Dário Abdula Camal, é Jovem Pan-Africanista, atual membro do primeiro e histórico Conselho da Juventude da Comissão da União Africana e enviado especial para juventude africana apontado pelo Presidente da Comissão da União Africana para um mandato de 2 anos, Dário Camal, tornou-se no mais jovem Diplomata da história da comissão da União Africana nos órgãos de decisão (Gabinete do presidente da comissão da UA), servindo e advogando os interesses da juventude Africana (Carta Africana e Agenda 2063).

Raul Fitipaldi, é jornalista e apresentador, cofundador do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul.

 

1 COMENTÁRIO

  1. Excelente entrevista que deja un buen sedimento para la comprensión,abrazos desde Montevideo ??????????

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.