Por Ethel Rudnitzki e Luiz Fernando Menezes, Aos Fatos.
Quatro políticos eleitos para a Câmara dos Deputados a partir deste ano — Bia Kicis (PL-DF), Gustavo Gayer (PL-GO), Paulo Bilynskyj (PL-SP) e Eliéser Girão (PL-RN) — publicaram desinformação sobre a crise humanitária que afeta o povo Yanomami. Os posts somaram cerca de 350 mil interações em três plataformas (Facebook, Instagram e Twitter).
Gayer também publicou dois vídeos sobre o assunto no YouTube, plataforma do Google em que tiveram mais de 420 mil visualizações. Em um desses conteúdos, o deputado eleito acusa sem provas ONGs de serem responsáveis pelo aumento de mortes evitáveis de crianças yanomami durante a presidência de Jair Bolsonaro (PL), do mesmo partido que ele. O vídeo foi republicado no Instagram pela deputada reeleita Bia Kicis, também do PL, que amealhou mais de 40 mil curtidas.
Citado no vídeo, o ISA (Instituto Socioambiental) negou as acusações de Gayer, dando conta de que a ONG estaria explorando os yanomamis para vender cogumelos produzidos por eles e, assim, tirando sua principal fonte de proteínas.
“A iniciativa fomenta o consumo interno e a comercialização apenas dos excedentes de cogumelos, oferecendo para as comunidades uma alternativa de geração de renda e autonomia econômica. Toda renda é da Hutukara Associação Yanomami, que a reverte para seu povo e luta por seus direitos. O ISA não obtém qualquer lucro com a atividade. Desde 2017, quando teve início, 20 comunidades fazem parte do projeto, envolvendo cerca de 170 famílias”, disse o ISA em nota.
Já o deputado federal eleito Paulo Bilynskyj e o reeleito Eliéser Girão, que usou como nome de urna General Girão, tuitaram que os indígenas vítimas da crise humanitária seriam venezuelanos, não brasileiros, o que é mentira. A mesma desinformação foi publicada pelos parlamentares Alê Silva (Republicanos-MG) e Coronel Tadeu (PL-SP), que não conseguiram se reeleger no ano passado.
LINHA DO TEMPO
- A partir de sexta-feira (20), a situação grave dos yanomami ganhou visibilidade internacional após o site especializado Sumaúma publicar reportagem sobre a crise, que foi repercutida por toda a imprensa. O site publicou fotos que mostram a grave desnutrição de crianças, adultos e idosos;
- No mesmo dia, o Ministério da Saúde decretou emergência de saúde pública a fim de combater a situação;
- No sábado (21), o presidente Lula (PT) e sete ministros visitaram a Casa de Saúde Yanomami, em Roraima. O petista disse que ficou “abalado” com o que viu e prometeu tomar atitudes para reverter a crise sanitária, como plantões de saúde e o combate ao garimpo;
- No domingo (22), o influenciador bolsonarista Oswaldo Eustáquio, desinformador contumaz, publicou um texto em que acusa a esquerda de se aproveitar dos índios para atacar Bolsonaro (PL);
- Durante o mandato, Bolsonaro mentiu sobre o território Yanomami 19 vezes, até na Assembleia Geral da ONU, como mostrou o Aos Fatos;
- Durante a semana, diversas mentiras apócrifas envolvendo os yanomami circularam nas redes.