Por Taíza Brito.
Carta escrita pela sergipana Maria Dantas, primeira brasileira eleita para o Congresso espanhol, denunciando o governo de Jair Bolsonaro, será protocolada na próxima segunda-feira (08) no Parlamento Europeu. No texto, veiculado na íntegra, no jornal El Crític, e tema de reportagem na edição de hoje (05) do jornal O Globo com o título “Deputada brasileira na Espanha acusa Bolsonaro em carta ao Parlamento Europeu”, a parlamentar faz um relato “da ação genocida e o ataque à democracia brasileira” por parte do mandatário brasileiro.
O recolhimento de adesões parlamentares ao texto, intitulado “Grito de Alerta na Europa: Salvemos o Brasil” e que tem como adendo um dossiê de 11 páginas, será articulado pela eurodeputada Diana Riba, do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), sigla pela qual Maria Dantas foi eleita ano passado. Depois disso, o documento será enviado ao Comissário Europeu e a todos os parlamentos nacionais dos 27 estados-membros da UE.
Em entrevista a O Globo, Maria Dantas disse ter como meta “interpelar os meus pares dos Legislativos europeus para que façam instâncias aos seus Executivos, para que sejam criados intergrupos em comissão legislativa”. Entre os temas tratados no dossiê estão a Amazônia, os povos indígenas e a gestão da Covid-19 no Brasil. O documento tem versões em português, catalão, espanhol, inglês, francês e alemão.
Em um trecho da carta, Maria Dantas insta a comunidade internacional “a agir e tomar uma posição clara em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro diante do avanço da pandemia do Covid-19 no Brasil, do aumento do desmatamento na Amazônia e das ameaças aos direitos humanos e aos povos indígenas”.
A parlamentar segue relatando que o Brasil está caminhando para o topo da curva da pandemia em um contexto político que somente “piora a situação”. “Bolsonaro faz campanhas diárias contra as medidas recomendadas pela OMS, boicotando as medidas de isolamento social tomadas pelos governadores e prefeitos, e faz campanhas diretas contra o isolamento social e incentiva manifestações para que as pessoas saiam de suas casas e voltem ao trabalho”, diz.
Maria Dantas também destaca as falas de ministros brasileros durante a reunião presidencial de 22 de abril passado, cujo teor foi tornado público recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A corte investiga denúncia do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, de que Bolsonaro tenta interferir na Polícia Federal para barrar investigações em curso contra membros da sua família.
No vídeo, que viralizou nas redes sociais (como no perfil de Twitter abaixo), Bolsonaro e vários de seus ministros demonstram total insensibilidade com a causa pública, usam termos prejorativos e palavrões diversas vezes, desacatam membros de outros poderes e planejam ações antirrepublicanas em diversas esferas.
Saiu o vídeo da reunião ministerial do Bolsonaro com o áudio original.
Assista até o fim e espalhe. pic.twitter.com/hUSIpgmxLb
— Rogério Tomaz Jr. (@rogeriotomazjr) May 24, 2020
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por exemplo, sugere aproveitar o fato da imprensa estar “distraída” com a cobertura da pandemia para “passar a boiada”, em referência a afrouxar regulamentos e leis ambientais, para facilitar a invasão de terras em áreas protegidas.
“Peço ajuda em face da ação genocida, do ataque à democracia, ao Estado de Direito eàs estruturas republicanas brasileiras por Jair Bolsonaro e seu governo. Não se pode continuar aceitando tudo isso em silêncio. É necessária uma declaração de parlamentares de todo o mundo”
Ela frisa que na mesa do Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil já existem mais de 36 pedidos de impeachment de Bolsonaro por vários grupos parlamentares e mais de 400 entidades da sociedade civil brasileira.
A deputada remarca ainda que “nas esferas jurídica, acadêmica, científica e social, vários manifestos foram feitos em rejeição ao governo Bolsonaro e um pedido de unidade de ação em defesa dos valores, princípios e estruturas republicanas do Brasil, que estão sendo eliminados por esse governo”.
Leia íntegra da carta abaixo: