Denúncia contra jogadora de vôlei pretende inibir críticas ao governo Bolsonaro

Para especialistas, processo judicial que pede pena máxima a Carol Solberg representa mais uma ameaça à liberdade de expressão e manifestação

Carol Solberg: direito de se manifestar contra governo desperta apoio da sociedade. “É parte da nossa Constituição, dos Direitos Humanos, o direito à manifestação de ideias. E um esportista não pode ter vedado esse direito”, afirma Célia. Foto CBV/Reprodução

A jogadora de vôlei Carol Solberg pode ser condenada à penalidade máxima pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por ter se manifestado contra o presidente Jair Bolsonaro. Ao término de uma partida do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em Saquarema, Rio de Janeiro, no domingo (27), em que conquistou a medalha de bronze, a jogadora gritou “Fora Bolsonaro” durante entrevista ao vivo ao canal SporTV. Na denúncia, divulgada na terça-feira (29), a subprocuradoria do STJD aponta que Carol “deixou de cumprir o regulamento da competição” e teve conduta contrária ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).

Se condenada, a atleta pode levar uma multa de R$ 100 mil e suspensão em seis torneios. Carol também vem sendo pressionada. A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) emitiu nota repudiando a atitude da jogadora. E a Comissão Nacional de Atletas de Vôlei de Praia também a criticou.

Entidades em defesa da liberdade de expressão, no entanto, contestaram a denúncia contra Carol, que consideram uma forma de “perseguição” à atleta. É o que destaca a coordenadora de Acesso à Informação e Transparência da ONG Artigo 19, Ana Gabriela Ferreira em entrevista ao repórter Jô Miyagui do Seu Jornal, da TVT.

“Ela não estava em partida, não atrapalhou a partida e não se manifestou de forma criminosa, incitando a violência ou crime contra qualquer outra pessoa. Ela simplesmente, no final da partida, esboçou sua opinião política e isso não fere direito e não agride o exercício profissional”, afirma a coordenadora.

Aos inimigos a lei 

Atletas costumam dar opiniões políticas com palavras ou gestos. O lutador Paulo Borrachinha, por exemplo, já afirmou que “Bolsonaro é um herói”. O jogador Felipe Melo dedicou um gol ao presidente. Na época da campanha eleitoral, os jogadores de vôlei Wallace Souza e Maurício Souza fizeram o número 17 com os dedos e a foto foi, inclusive, publicada no site da CBV. Nenhum dos casos foi punido, a exemplo do que se pede com Carol. À época, a confederação alegou “não compactuar com manifestações políticas, mas que respeitava a liberdade de expressão”. Uma contradição para Ana Gabriela. “No caso concreto (da jogadora de vôlei) o que se verifica é que sim, é uma ameaça à liberdade de expressão e à liberdade de manifestação”, destaca.

A integrante do coletivo Democracia Corinthiana Célia Medina observa que esse processo judicial “é uma forma de inibir críticas de atletas ao governo Bolsonaro”. E contesta a “arbitrariedade” que pune apenas os críticos ao presidente e deixa fora quem faz manifestações a favor dele. “Estamos bastante preocupados, muitos nos manifestamos em defesa da Carol e continuamos defendendo a liberdade, sobretudo de manifestação. É parte da nossa Constituição, dos Direitos Humanos, o direito à manifestação de ideias. E um esportista não pode ter vedado esse direito”, conclui Célia.

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